‘Estou cansado dos pilotos priorizarem a segurança’, diz CEO de aérea europeia

O CEO da empresa aérea húngara Wizz Air, József Váradi, é polêmico e fala o que pensa na lata, mas, na semana passada, ele teria extrapolado os limites ao fomentar uma cultura de segurança (ou falta dela) tóxica na empresa. O executivo acha que os pilotos não podem reclamar que estão cansados para voar. Nas palavras de Váradi: “estamos todos cansados, mas às vezes é necessário fazer um esforço extra”.

Tudo poderia parecer mera questão de interpretação, não tivesse tudo sido gravado (abaixo). Sua fala é enfática e ele está certo de que atrasos e cancelamentos custam caro. Mas sua solução de voar cansado é a resposta errada para o problema. Jamais um piloto deve negligenciar a fadiga, pois ela é uma das maiores causas de incidentes e acidentes (muitos fatais) com voos comerciais.

Na aviação comercial, gasta-se muito tempo e dinheiro para aumentar cada vez mais sua segurança. Esse foco elevou o transporte aéreo a patamares de confiança nunca antes vistos, colocando-o, há muitos anos, dentre os mais seguros do mundo. A gestão da fadiga faz parte desse processo e qualquer piloto sabe que deve “levantar as mãos” e não decolar ao primeiro sinal de cansaço.

Há uma regra de cem anos para nunca falar sobre comprometer a segurança, ou sugerir que qualquer companhia aérea não é segura, porque isso poderia minar a confiança no próprio setor. Antigamente, as companhias aéreas não eram tão seguras e agora são o meio de transporte mais seguro com base em fatalidades por pessoa por milha percorrida.

A cultura de segurança não vem de agora, mas já leva décadas. Cada empresa possui suas práticas próprias, mas todas alinhadas às regras de aviação de seus países. Num dos exemplos mais claros disso, os executivos da Pan Am, quando entravam na empresa, eram obrigados a assistir a um documentário sobre acidentes aéreos, com especial destaque para a tragédia de Tenerife, a maior catástrofe aérea da história da aviação. Tudo com o objetivo de mostrar que segurança deve estar acima de tudo.

E foi com essa mente que as companhias passaram pelas diferentes crises do petróleo, do 11 de setembro e agora da Covid, sem abrir mão da segurança e elevando o patamar seguro do setor para o nível mais alto.

Logo, as palavras do CEO da Wizz Air são mais do que tóxicas e espera-se que seus pilotos não entrem nesse jogo para manterem seus empregos. Aos passageiros, espera-se que tomem conhecimento disso e pensem na hora de escolher com que companhia aérea voar.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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