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Estudo da USP aponta que transporte aéreo acelerou a disseminação da Covid-19

Embarque remoto
Embarque remoto no Aeroporto Internacional de Guarulhos

Um estudo desenvolvido na Escola Politécnica (Poli) da USP demonstrou as conexões entre 5.569 cidades brasileiras e analisou o impacto do transporte aéreo no início da disseminação da Covid-19 pelo país. O trabalho compara as redes criadas pela malha rodoviária e pela malha aérea e verifica que os aviões diminuíram as distâncias entre as cidades em 70%, acelerando o alcance da doença.

Os pesquisadores se basearam no “modelo do mundo pequeno”, desenvolvido por Duncan Watts e Steven Strogatz e publicado em artigo para a revista Nature, em 1998. O modelo apresenta as conexões entre as pessoas como uma rede em que todas estão separadas umas das outras por poucos passos (os nós).

O artigo dos pesquisadores da Poli, The impact of Brazil’s transport network on the spread of COVID-19, publicado na Scientific Reports, considerou as cidades brasileiras como os nós que se ligam as cidades vizinhas por vias terrestres, mas também as cidades com aeroportos e voos frequentes entre elas.

Quando você pensa em uma pandemia, é importante pensar no contato entre as pessoas. É aí que entra a rede, porque os indivíduos vão passar a doença para as pessoas a quem estão conectados”, explicou Giovanna Cavali Silva, que cursa o MBA em data science no Programa de Educação Continuada da Escola Politécnica (Pece-Poli) da USP.

Pelas rodovias, as conexões diretas entre as cidades são reduzidas e os passos são maiores para alcançar cidades em outras regiões. Assim, em casos de disseminação de doenças, a transmissão ocorre para as cidades vizinhas.

Já pelas linhas aéreas, considerando conexões entre cidades de regiões diferentes, por exemplo, o alcance da transmissão da doença é muito maior. Seguindo o “modelo do mundo pequeno”, o artigo reduziu 27 nós rodoviários para sete nós aéreos.

A análise foi realizada através de softwares de processamento de dados e utilizou o modelo SIR (Suscetível, Infectado, Recuperado), usado para simulação de epidemias. Foram usados dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do repositório de dados públicos do Brasil.io, que acompanhou os números da pandemia no País.

As simulações foram feitas por cidades e não por pessoas, ou seja, cada cidade teve uma probabilidade de ser infectada”, destaca Evandro Marcos Saidel Ribeiro, professor do Pece. O primeiro passo dos pesquisadores foi construir uma rede de acordo com as posições geográficas e dividi-las entre cidades com aeroportos internacionais, aeroportos locais e aquelas sem transporte aéreo. 

De acordo com dados das Secretarias Estaduais de Saúde, 99% das cidades brasileiras estavam infectadas pelo vírus causador da covid-19 na vigésima semana epidemiológica, o que se aproxima da simulação do gráfico 2. Ao adicionar as possibilidades aéreas, a distância entre os nós caiu 70%. “As cidades estão agrupadas àquelas em seu entorno, mas ao adicionar uma conexão aérea, os grupos não são desfeitos e a distância diminui drasticamente”, aponta Evandro Ribeiro.

Prevenção

Segundo os pesquisadores, a diminuição do número de nós entre as cidades é propícia para a disseminação de doenças infecciosas e, para evitar novas epidemias, é necessário voltar as atenções para o transporte aéreo. “Logo no começo da pandemia já é possível detectar os focos [de disseminação] das doenças, e eles serão os aeroportos. É uma rede extremamente conectada, onde infecções saem do controle epidemiológico”, diz Giovanna Silva.

Por isso, nesses casos, medidas drásticas devem ser tomadas para impedir a dispersão dos vírus, como diminuição do número de voos em cidades mais afetadas ou até mesmo o fechamento dos aeroportos. O acompanhamento e a intervenção governamental nesse tipo de transporte são essenciais para prevenir ocorrências de pandemias.

No mundo globalizado e em um país em desenvolvimento, como o Brasil, “é muito bom ter uma rede conectada para passar informações, mas frente a uma doença altamente contagiosa como a covid-19, ela se torna uma fragilidade. O mundo conectado pode representar um risco global”, diz a pesquisadora.

Informações cedidas pelo Jornal da USP

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