Ex-executivo apareceu morto em hotel após roubar dados de empresa aérea árabe

Imagem: Qatar Airways

No mundo dos negócios, há muitos interesses envolvidos e o que chega ao público é uma fração mínima do que se discute nas salas de reuniões das empresas. Uma reportagem de um dos mais antigos jornais do Reino Unido, o The Times, denuncia um crime envolvendo uma figura conhecida no Catar e ligada à Qatar Airways.

O caso relatado pelo jornal britânico fala sobre Marc Bennett, um alto executivo de uma empresa subsidiária da Qatar Airways, que atuava na promoção do país como destino turístico de interesse global, mas que foi encontrado morto num hotel de Doha, no final de 2019, sob suspeita de suicídio. Antes de seu trágico fim, Bennett trabalhava para melhorar a imagem do Catar perante o mundo, contrapondo alegações de abusos de direitos humanos publicados na imprensa internacional.

Segundo sua viúva e amigos próximos, Bennett não teria motivos para tirar sua própria vida e seu destino começou a ser desenhado depois que ele enviou de sua conta corporativa para um e-mail pessoal documentos altamente confidenciais da Qatar Airways, cujo teor não foi revelado publicamente. O vazamento foi descoberto e o caso foi parar na polícia secreta do país.

Enquanto o caso desenrolava, Bennett recebeu uma proposta de uma empresa saudita e aceitou, numa decisão vista como um insulto no Catar, dada a inimizade entre esses dois países. Na época, o Catar estava sujeito a um bloqueio físico e político por parte de vários vizinhos regionais liderados pela Arábia Saudita. Autoridades do Catar descreveram o bloqueio como “ilegal” e um “ato de guerra”. Além disso, com a investigação policial em curso, não era sabido se os dados da Qatar haviam vazado para outro lugar.

O tempo foi passando e Bennet deveria deixar o Catar rumo a Londres em 15 de outubro de 2019, mas teve problemas. Suas passagens continuaram sendo canceladas e, dois dias depois, ele foi convidado a ir à sede da Qatar Airways em Doha, onde a polícia o esperava. De lá, ele teria sido levado pela polícia secreta com os olhos vendados para um centro de detenção, onde teria passado por tortura. Sua viúva disse ao The Times que ele foi libertado em 10 de novembro de 2019, mas foi impedido de deixar o país e seu passaporte foi confiscado.

No dia de Natal de 2019, Bennett foi encontrado morto. Ele não havia deixado uma nota de suicídio.

Segundo a matéria do The Times, o escritório de Relações Exteriores do Reino Unido se envolveu no caso, mas em uma reviravolta bizarra, diplomatas desistiram do caso apenas uma semana depois que a primeira-ministra Liz Truss se tornou secretária de Relações Exteriores. Coincidentemente, Truss visitou o Catar um mês depois e, em poucos meses, o governo do Catar revelou um pacote de investimentos de £ 10 bilhões na Grã-Bretanha.

O governo do Catar não respondeu aos pedidos de comentários dos jornalistas do The Times.

Em uma declaração detalhada, a Qatar Airways disse: “Marc Bennett era um ex-colega valioso e popular do Qatar Airways Group que fez uma contribuição significativa para o nosso negócio e, embora ficássemos tristes ao vê-lo partir, ele foi com nossos melhores votos. Os ex-colegas de Marc na Qatar Airways ficaram chocados ao saber de sua morte trágica e prestamos assistência à sua família por meio de uma contribuição para os custos de repatriação e algumas viagens e outros custos.”

“Em 15 de outubro, Marc deixou o negócio e, posteriormente, surgiram evidências mostrando que, durante um período significativo de tempo, Marc havia enviado por e-mail documentos altamente confidenciais relacionados à Qatar Airways para um endereço de e-mail privado sem autorização. Marc ainda estava no Catar no momento em que esta descoberta foi feita. Ele foi preso e isso se tornou um caso de polícia”.

O The Times informou que segue acompanhando o caso, mas não antecipou os potenciais desdobramentos.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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