A Gulfstream, uma das maiores fabricantes de jatos executivos do mundo, está promovendo o seu recém-lançado G700, o maior jato já feito pela empresa. Mas a fabricante americana vem causando sentimentos diversos em quem vê sua peça promocional, que usa o acidente da Air France de 2009 para destacar uma “vantagem” de seu jato sobre outro concorrente.
Em um comparativo com o seu principal concorrente, o Global 7500 da canadense Bombardier, a empresa cita o acidente do voo Air France 447, do Airbus A330-200 que caiu no Atlântico enquanto fazia a rota entre Rio de Janeiro e Paris, vitimando 228 pessoas.
Dentre os principais fatores que levaram ao acidente da Air France, estava a falta de consciência situacional, já que os pilotos focaram em apenas um dos instrumentos, que estava com falha devido à formação e o entupimento no sensor (tubo de pitot).
Com a falha do sensor, um dos instrumentos da aeronave indicou excesso de velocidade e por padrão desligou o piloto automático. Se prendendo a apenas um dos instrumentos, o piloto comandou o nariz do Airbus para cima, até o avião perder sustentação e cair, com potência máxima nos motores.
O Lito do Aviões e Músicas explica bem este acidente, assista abaixo se você ainda não viu:
No caso da Air France, o comando de nariz para cima foi feito apenas por um dos pilotos, e os dois sidesticks (manches) não são interligados. Logo, se um sidestick é empurrado, o outro não se mantém na posição “neutro”. Inclusive a caixa-preta apontou que tiveram comandos sobrepostos durante a tentativa de recuperação na queda da aeronave, mas que já era tarde demais.
Suposta vantagem no Gulfstream
E é aí que a Gulfstream faz o seu apelo, dizendo que “seu jato não é igual ao Airbus e nem ao Bombardier, em que os comandos não são interligados”.
Citando uma matéria do jornal britânico The Telegraph sobre o acidente da Air France, a fabricante americana afirma que seu jato G700 não tem o comando igual Global 7500, que é um manche passivo igual do Airbus A330, e que isto causa uma perda crítica de segurança e de consciência situacional. Veja a peça da Gulfstream.
Segundo o jornal “o fato do sidestick do piloto se manter neutro, independente da ação do stick do outro piloto, não é uma boa coisa. Não fica claro de imediato para um piloto que o outro está fazendo”.
É incomum nestes comparativos entre fabricantes citar um terceiro fabricante e um acidente ainda por cima.
Ainda mais num caso em que diversos fatores levaram ao acidente, como é o caso voo da Air France e o maior deles relacionado com a falta de consciência situacional, não tendo necessariamente relação com o fato dos comandos do avião não serem interligados, até porque isto faz parte da filosofia da Airbus e que todo piloto deve incorporar esse conhecimento antes de voar o jato.
Marketing por marketing às vezes pode ser um tiro pela culatra. Veja abaixo outros pontos citados no comparativo, que afirma que o G700 é superior ao Global 7500: