A empresa estatal chinesa, Air China, está no centro de uma polêmica relacionada com a potencial transferência de combustível para a aviação da Coréia do Norte, circulando as sanções atualmente vigentes contra o regime de Pyongyang. Em um flagra recente, um Being 737 da empresa chinesa é visto conectado a um caminhão tanque norte-coreano.
O site de notícias e análises NK Pro, divulgou fotos mostrando o que parece ser o reabastecimento de um dos Boeing 737-700 da Air China no Aeroporto Internacional Sunan, na Coréia do Norte. A foto mostra uma aeronave conectada a um caminhão-tanque de combustível que pertence à Air Koryo, empresa estatal norte-coreana.
Quando as fotografias foram apresentadas à companhia aérea, ela se limitou a dizer que “a aeronave é abastecida para o voo de ida Pequim-Pyongyang ao sair de Pequim e o reabastecimento é feito no aeroporto de Pyongyang para o voo de volta”.
Essa explicação parece razoável quando interpretada superfícialmente, mas alguns especulam que possa haver algo oculto por trás dessa prática. E isso se deve à escassez do suprimento de combustível para aviação da Coréia do Norte. Entenda.
Dois cenários e um mesmo problema
Independente da atividade capturada nas fotografias, haverá polêmica, independente se o avião estava sendo abastecido ou não. Ambos os cenários apresentam possíveis problemas.
Vamos primeiro pensar na situação de que a Air China estava reabastecendo na Coréia do Norte. Na nota, a companhia aérea disse que precisava de combustível para cumprir a etapa de regresso do voo, que dura apenas 80 minutos. No entanto, o 737-700 é mais do que capaz de fazer a rota de ida e volta sem a necessidade de reabastecer, como a Air China sempre fez.
No entanto, desde 2016, foram contadas sete ocasiões em que o avião da empresa chinesa foi flagrado conectado a um tanque de combustível, segundo o NK. Essa transferência estratégica de combustível pode representar outra coisa.
Uma análise interessante é que o avião que faz essa rota, geralmente, é preparado para ela, ou seja, ele não vem de outras rotas e precisa decolar rápido de Pequim, de forma que não há tempo para abastecer. Muito pelo contrário, fizemos uma análise dos voos CA121 e CA122, através do histórico do FlighRadar24, e identificamos que o avião costuma chegar de uma rota e ficar horas parado em Pequim antes de assumir o voo a Pyongyang, dando-lhe tempo mais do que sucifiente para ter o preparo necessário para a rota.
A Coréia do Norte possui um suprimento muito restrito de combustível de aviação e a importação de combustível de aviação foi proibida pelas sanções da ONU há quatro anos. A sanção declara que “… Todos os Estados impedirão a venda ou o fornecimento, pelos seus nacionais ou de seus territórios ou usando suas embarcações de bandeira ou aeronave, de combustível de aviação… para o território da Coréia do Norte, ou a menos que o Comitê tenha previamente aprovado em um caso excepcional, caso a caso…”.
Isso significa que a Coréia do Norte teria um suprimento particularmente anêmico de combustível de aviação para si e, quase que nulo para ofertar à Air China. Mesmo que tivesse o suficiente, a troca não funcionaria realmente a favor da Air China, pois o combustível provavelmente seria proibitivamente caro.
E se a Air China estivesse desabastecendo?
Se a companhia aérea não estivesse reabastecendo, a única possibilidade é que estivesse desabastecendo e isso infringe frontalmente a sanção da ONU, que afirma claramente que essa prática não é permitida. A única cláusula de exceção refere-se à ajuda humanitária, mas não houve nenhum pedido à ONU para isso.
Além disso, quando questionada pelo Financial Times, a Air China se recusou a comentar sobre a situação, o que aumenta ainda mais as suspeitas. Sua transparência sobre o assunto seria a chave para entender se ele estava violando a regulamentação da ONU.
Tal como está, a companhia aérea parece estar operando com total desrespeito às sanções e isso pode lhe prejudicar, já que ela tem uma grande malha de voos para Estados Unidos, Europa e seus aliados. Além de, por ser estatal, pode amargar ainda mais a relação da China com os EUA.