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Garimpeiros usam matrícula falsa de avião em que Gabriel Diniz morreu

A fuga de garimpeiros das terras indígenas Yanomami revelou o pior lado da aviação brasileira, que se usa de tragédias em voos irregulares para encobrir crimes.

Com o fechamento do espaço aéreo pela Força Aérea Brasileira, que patrulha de maneira ativa uma vasta região de Roraima, incluindo aquela onde estão os índios Yanomami, a maioria dos pilotos de garimpo deixaram de voar, com medo de serem interceptados, presos ou até abatidos.

Com esse movimento, alguns aviões foram deixados para trás em pistas irregulares espalhadas pela terra indígena. Por outro lado, em pistas que já foram regulares, mas foram roubadas pela máfia do garimpo, alguns passageiros tentam de maneira desesparada sair da região.

Relatos apontam para cobrança de até R$15 mil reais por passageiro, cinco vezes mais do que o cobrado nos voos mais caros antes do fechamento do Espaço Aéreo pela FAB, segundo aponta o portal Amazônia Real que monitora a situação na região.

A demanda saltou não apenas por uma saída rápida da Terra Indígena, mas também porque, assim como os índios, muitos garimpeiros estão sofrendo com malária e subnutrição, e não aguentam fazer viagens longas de barco ou caminhando pela mata, numa jornada que pode durar alguns dias.

No entanto, além das operações ilegais de aviões na região, que já é de conhecimento público, um detalhe levantado por um leitor chama a atenção: a matrícula de um monomotor numa foto que circula nas redes sociais.

A aeronave, que aparenta ser um Cessna C182 Skylane, um dos favoritos dos garimpeiros e que leva até 500 kg de carga útil, segundo o manual da fabricante (e que não costuma ser respeitado na Amazônia), está com a matrícula PT-KLO. Só que esta matrícula não é deste avião, muito menos de qualquer outro Cessna ou aeronave de asa alta, sim do Piper PA-28 que caiu em 27 de maio de 2019 no Sergipe.

A bordo, estava um piloto e dois passageiros, sendo que um deles era Gabriel Diniz, famoso cantor em plena ascenção na época do acidente. Uma investigação da FAB revelou que um mau processo decisório do piloto, que não poderia estar realizando voos comerciais com aquela aeronave, levou o Piper a condições de voo por instrumento, sem estar voando em regras de voo por instrumento.

No Brasil, a reutilização de matrículas de aeronaves é proibida, logo o Cessna não poderia estar regular com a matrícula PT-KLO. A falsificação de registros de aeronave é algo comum no garimpo, e remete ao fato de bandidos rasparem o número de série da arma, de maneira a desvincular o objeto a um furto, por exemplo. No caso da aviação, isto vai além, já que o uso de uma matrícula existente dá a falsa sensação de legalidade.

Até o momento, o governo não divulgou um balanço de quantas aeronaves foram interceptadas, apreendidas ou destruídas durante a Operação Escudo Yanomami.

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