Após recentes operações da Polícia Federal como desdobramento do famoso caso do Boeing 777 flagrado com objetos de luxo em Campinas, a Guiné Equatorial decidiu sancionar o Brasil.
Tudo começou em 2018, quando o filho do ditador de Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Mangue, fez um voo particular com o Boeing 777-200LR governamental de matrícula P4-SKN para o Aeroporto de Viracopos em Campinas. Neste avião VIP foram apreendidos em torno de $16 milhões de dólares (em valores da época) dentre joias, relógios, dinheiro vivo e outros pertences.
Como à época não se tratava de um voo diplomático, a Polícia Federal pôde fazer a inspeção nas bagagens desembarcadas, e questionou se os bens haviam sido declarados, o que não foi feito. Com isso toda a carga foi apreendida, sob muito protesto do governo de Guiné Equatorial na época, que alegou que o filho do ditador veio para o Brasil para fazer tratamento médico e que os bens seriam para pagamento das despesas, além das joias serem de uso pessoal.
Apesar do protesto, a regra é clara e a Polícia Federal apreendeu todo o material, mas liberou os passageiros e a aeronave.
Na época o AEROIN fez um levantamento exclusivo apontando a frequência dos voos da Ceiba Intercontinental, a companhia aérea de bandeira de Guiné Equatorial, e que também operava o avião VIP acima. Apesar de ser um país pequeno e extremamente pobre, a Ceiba sempre contou com jatos Boeing 767 e 777 em sua frota.
Esses aviões faziam vários voos ao Brasil, algumas vezes relacionados às empreiteiras brasileiras, mas outras vezes de forma bastante misteriosa, parando diretamente na Base Aérea de São Paulo, em Guarulhos. Mais curiosamente ainda, os registros destes voos acabaram sendo apagados dos registros da ANAC, o que até hoje permanece sem explicação.
E agora, com a investigação avançando após anos, a Polícia Federal bloqueou um dos apartamentos em São Paulo em nome do filho do ditador por suposta lavagem de dinheiro na compra do imóvel, como mostra a Folha de São Paulo.
Em retaliação, o governo do país africano decidiu bloquear os bens das empresas brasileiras ARG, Zagope e OAS, que atuam no país como empreiteiras. O Vice-Presidente da Guiné Equatorial culpou diretamente a inspeção das malas pela sanção feita nesta semana, apontando que o pouso do 777 foi avisado anteriormente e que não deveria ser revistado mesmo sem justificativas básicas.
Debe tenerse en cuenta que la falta de coordinación política del Gobierno brasileño en ese momento, fue lo que desencadenó el incidente diplomático que ha originado los hechos, como lo demuestra este documento. pic.twitter.com/E2ftOmEXhr
— teddy nguema (@teonguema) June 16, 2023
O Itamaraty se limitou a dizer “que o governo acompanha com preocupação as decisões da Justiça guineense e que elas ignoram que os bens confiscados são alheios ao Estado —são, afinal, privados”, sem anunciar nenhuma medida retaliatória contra a Guiné Equatorial.