Incêndio no Boeing 777F que viria ao Brasil teria sido causado por pastilhas de desinfecção

O Boeing 777F em chamas antes da partida para o voo – Imagem: The Aviation Herald

Um grande incêndio em um Boeing 777F (Freighter, ou Cargueiro) ganhou destaque nas mídias de todo o mundo em 22 de julho de 2020, quando o avião foi severamente danificado na China, antes de partir para uma operação que teria como destino o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (para ver novamente vídeos do momento em que o jato era consumido pelas chamas, clique aqui ou no título disponibilizado ao final da matéria).

Como reportado na época, havia comentários de que o fogo poderia ter começado em baterias de íons de lítio na carga a bordo do grande avião, porém, a informação parecia não fazer sentido, já que a operação traria ao Brasil materiais hospitalares, em função da pandemia da Covid-19.

E agora, informações atualizadas indicam que, de fato, não estavam corretas as suposições sobre as baterias serem a causa do incêndio no Boeing 777F da Ethiopian Airlines.

Segundo reportado ontem pelo The Aviation Herald, os detalhes foram revelados por reportes de mídias da China, após o relatório final ter sido obtido por alguns meios de comunicação, já que nunca foi publicado e também não está disponível no banco de dados de relatórios da ICAO.

De acordo com esses relatos da mídia, a causa do incêndio não foram baterias e nem mesmo componentes elétricos da aeronave. Em vez disso, a investigação teria concluído que a causa mais provável do incêndio foram pastilhas de desinfecção com dióxido de cloro, um composto que podem se inflamar espontaneamente em altas temperaturas e ambiente úmido.

A investigação informou que a aeronave havia sido carregada com 69,3 toneladas de carga de toda a China, incluindo quatro remessas contendo baterias de íons de lítio, no entanto, após inspeção detalhada, descobriu-se que as baterias estavam intactas internamente, embora externamente apresentassem descoloração, demonstrando que foram afetadas por calor/fogo do lado de fora.

Na posição que mostrava o maior dano dentro do compartimento de carga, um carregamento contendo pastilhas de dióxido de cloro havia sido carregado. As pastilhas foram classificados como um material de limpeza de nano liberação lenta e como “bens perigosos”. O Instituto de Pesquisa da Indústria Química da China afirmou que o material era principalmente um oxidante e secundariamente corrosivo.

Experimentos confirmaram que as pastilhas eram suscetíveis à ignição espontânea em temperaturas próximas a 80ºC e em condições de umidade.

No momento do acidente, a temperatura ambiente externa era de 34ºC, porém, experimentos demonstraram que temperaturas de 80ºC foram alcançadas dentro dos paletes no compartimento de carga, causando condensação dentro das películas das embalagens das pastilhas. Estas eram condições eram suficientes para que ocorresse a combustão espontânea.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

Veja outras histórias