Irã abre nova companhia aérea com aviões ocidentais que ninguém sabe de onde vêm

Na sexta-feira, 17 de fevereiro, o Ministério do Turismo do Irã anunciou o lançamento da Yazd Air, uma companhia aérea privada que terá sede em Yazd, localizada a 620 quilômetros ao sul da capital do país, Teerã.

Segundo a Press TV, a companhia aérea fez o seu primeiro voo ligando Teerã a Yazd com um BAe 146, um dos dois que compõem a sua frota, que inclui ainda dois Airbus A310 e dois Embraer 145.

É impressionante que, apesar das duras sanções que o Ocidente impôs à aviação comercial iraniana, os projetos de novas companhias aéreas proliferam e nunca faltam aviões para experimentar. No início do ano, o Irã comprou por meio de uma triangulação altamente suspeita com Burkina Faso quatro Airbus A340 que antes operavam para a Turkish.

Mas não foi a primeira vez, nem será a última em que aviões ocidentais acabam operando no país persa.

Onde o Irã consegue aviões?

A longa lista de sanções que afetam a aviação iraniana não se esgota na proibição de comprar diretamente da Boeing, Embraer ou Airbus, por exemplo. Por meio de diferentes leis, quem colabora para o regime na obtenção de peças de reposição ou aeronaves usadas também está sujeito a processos judiciais e sanções.

No entanto, em muitos casos, o Ocidente tende a fechar os olhos para a aviação comercial do país porque, em última análise, os mais afetados serão os passageiros, que terão que se arriscar a voar em aviões com manutenção precária ou pelo menos questionável. Mas a corda aperta quando o Irã se livra dessas seleções e elas vão parar em países amigos.

Sem ir tão longe, uma das últimas grandes “aquisições” venezuelanas foi o Boeing 747-300M que a Emtrasur Cargo, recém-criada divisão de cargas da Conviasa, operou quase sem problemas até que foi parar na Argentina e foram detectadas irregularidades com alguns dos seus ilustres passageiros iranianos.

Embora os tripulantes já tenham sido autorizados a retornar à origem, o avião, ex-Mahan Air, continua apreendido no aeroporto de Ezeiza com poucas chances de voltar ao serviço ativo e muitas chances de acabar como paisagem eterna do terminal aéreo.

Mahan Air, na tempestade (novamente)

A breve história da Yazd Air já tem ligações com a Mahan Air. A agência oficial de notícias IRNA diz que a nova companhia aérea vai “depender” dos serviços da Mahan Air nos primeiros dois meses de operação e depois preparar sua infraestrutura e equipe para operar por conta própria, com cerca de 70 funcionários.

Com um investimento privado de cerca de 22 milhões de dólares, a companhia aérea planeja voar para Najaf (Iraque), Dubai, Istambul e Mumbai com o A310 e cobrir voos domésticos e regionais com o Embraer 145 e o BAe 146.

Uma tarefa monumental para a Yazd Air será conseguir peças sobressalentes e rotativas para sua frota, já que nenhuma das aeronaves com as quais opera está em produção. A Embraer fechou a linha de produção do 145 em 2020, portanto, embora haja estoque de peças de reposição, também existem muitos operadores “legais” do modelo que dificilmente se livrarão de itens de seu inventário. Pelo menos legalmente e a preço de mercado.

O British Aerospace 146 – também conhecido como Jumbolino – foi produzido até 2001 e hoje existem menos de 70 aeronaves voando de um total de quase 400 construídas. A grande vantagem da Yazd Air é que a Mahan Air é a operadora do modelo com cerca de 14 aeronaves ativas. Ele tinha 32 no auge, então ainda deve ter algum estoque e a opção de contrabando está sempre presente.

O Airbus A310 também terá suporte informal da Mahan Air, já que a produção foi descontinuada em 1998, mas a companhia aérea continua a operá-los. Dos três modelos que a Yazd Air vai operar, o A310 foi o menos construído, então a logística também é um mistério.

Com todas essas questões acima, a Yazd Air nasceu em um ambiente operacional complexo e polêmico como o iraniano. O que vai acontecer com ela no futuro, ninguém sabe.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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