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Jato Embraer Phenom estolou na aproximação final após piloto não ver gelo acumulado na asa

Foto: BEA

Investigadores franceses da BEA determinaram que um Embraer Phenom 100 foi destruído durante um pouso em Paris-Le Bourget após seu piloto persistir em aterrissar em condições de gelo, mas com uma sequência de ações em não-conformidade com tal situação. O relatório da agência também aponta que a configuração da aeronave teria impossibilitado o pouso da aeronave no local.

Embora as informações meteorológicas para Le Bourget indicassem a presença de gelo severo entre 3.000-5.000 pés, o piloto optou por realizar procedimentos para uma aproximação à pista 27 em condições sem gelo, mas tomando medidas para verificar se o gelo não estava acumulando na aeronave.

Com isso, selecionou uma velocidade de referência de aproximação de 97kt – próxima à velocidade de estol em caso de acúmulo de gelo na asa – em vez dos 119kt que seriam necessários com os sistemas de degelo ativados. Isso se mostrou preponderante para o acidente.

Quando chegou a 3.000 pés (900 metros) de altitude, o piloto ativou o antigelo da asa e dos estabilizadores por 21 segundos, perfazendo assim um ciclo de degelo do sistema. Quando achou que estava tudo bem, o piloto desligou o sistema e não ligou mais. Posteriormente, os investigadores determinaram que o julgamento do piloto foi equivocado.

Depois disso, já na aproximação final, o ângulo de ataque da aeronave aumentou de 10° para 28°, enquanto sua velocidade caiu para 90 nós. A BEA diz que o jato “afundou abruptamente” e sua taxa de descida aumentou para 960 pés/min. Um alarme de estol soou no cockpit e a aeronave estolou em uma final muito curta, entrando em contato com a pista com força e seu trem de pouso direito quebrou, perfurando o tanque de combustível da asa direita.

O fogo começou na raiz da asa e perto dos motores, o trem de pouso dianteiro foi danificado e a aeronave deslizou ao longo da pista por mais de 1.000 metros antes de guinar cerca de 110° e parar na borda esquerda.

Nem o piloto, nem o único passageiro a bordo da aeronave, operada pela Luxwing (de matrícula 9H-FAM), ficaram feridos no acidente de 8 de fevereiro de 2021. O comandante explicou que a estratégia de aproximação era uma “adaptação padrão” do procedimento e indicou que observou, através da janela da cabine, que o gelo que se formava nas pontas das asas havia se quebrado.

A BEA diz que o gelo se formou claramente na aeronave durante a descida, mas o piloto não percebeu a extensão da contaminação – possivelmente devido às condições de luz e nuvens – ou parou de monitorar ativamente a situação, ou simplesmente subestimou o gelo.

Para os investigadores, a desativação do sistema de degelo pode significar que o gelo permaneceu no estabilizador horizontal ou se acumulou na aeronave no final da aproximação. Pouco antes do impacto, a aeronave estava voando em envelopes de baixa velocidade e alto ângulo de ataque, onde era provável que a aeronave estolasse em caso de contaminação por gelo.

Além disso, a análise da BEA descobriu que a ativação total dos sistemas de degelo, como mandava o manual da Embraer, teria exigido uma distância de pouso 450m maior do que a disponível para a pista 27. Ela também diz que a pista 25 de Le Bourget também teria sido 200m mais curta. Com isso, ainda que estivesse com a configuração correta para a ocasião, o piloto deveria ter alternado para outro aeroporto.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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