A paquera vem de anos e essa não seria a primeira vez que o grupo alemão Lufthansa se aproxima dos italianos. Dessa vez, seu interesse está na Italia Trasporto Aereo (ITA), a newco que será operada no lugar da Alitalia. O flerte é demonstrado com uma proposta tentadora, onde a italiana teria papel de protagonista, mas a alemã não está sozinha na disputa.
A informação sobre a nova proposta da Lufthansa pela ITA foi dada pelo jornal italiano Corriere della Sera, e diz que os alemães têm grande desejo de fazer com que a sucessora redimensionada da Alitalia se junte ao seu grupo de companhias aéreas e entre na joint-venture transatlântica que tem com a United e a Air Canada.
Do outro lado da mesa, os italianos já demonstraram, mais de uma vez, interesse em uma parceria de peso que ajudasse a alavancar a sua empresa aérea nacional. Desde a época da Alitalia, agora com a ITA, o objetivo é que o negócio resulte em ganhos mútuos e que a empresa italiana não seja apenas coadjuvante.
Até o final de abril, foram realizadas sete reuniões com potenciais parceiros, incluindo o grupo franco-holandês Air France-KLM e a Delta Air Lines, além da própria Lufthansa. A ITA sublinhou, no entanto, que qualquer parceria deve oferecer não apenas vantagens comerciais, mas também a nível industrial e operacional para desenvolver os seus mercados europeu e norte-americano.
Nesse sentido, de acordo com o Corriere della Sera, o grupo Lufthansa estaria disposto a dar aos italianos acesso à sua infraestrutura de vendas, além de acesso a dados de inteligência compartilhados e a aquisição compartilhada de peças de aeronaves. Um ganho para a ITA estimado em torno de €200 milhões por ano, diz o jornal. Tentador.
Os grandes grupos aéreos correm para tentar trazer a ITA para si, no entanto o governo italiano tem uma tarefa mais difícil agora, que é colocar a operação para rodar.
Há duas semanas, uma vitória na Comissão Europeia ajudou a desembaraçar uma parte do nó burocrático que pode levar ao início das operações da ITA. Mas ainda há uma lição de casa a fazer.
O caso em resumo
De início, o governo italiano planejava começar a voar com a ITA em abril deste ano. Esse plano foi adiado após a intervenção da Comissão Europeia, que pediu documentos e informações mais claras sobre o plano de negócios da nova empresa. Quando o governo da Itália disse que planejava lançar a empresa com uma ajuda de € 3,0 bilhões, Bruxelas travou o negócio e pediu para analisar se isso não poderia infringir as regulamentações da UE para com relação a ajudas estatais.
Após reunião em 27 de maio, a Comissão Europeia concordou que a principal condição para liberar o negócio é que a ITA seja uma entidade separada da Alitalia, sem qualquer conexão financeira e de acionistas. Isso faz com que a empresa tenha que operar sob um Certificado de Operador Aéreo separado e não herde nem slots e nem o nome da empresa, que deverá ir a leilão público. O programa de milhagens MilleMiglia também seria vendido e as milhas acumuladas em voos da Alitalia não serão válidas automaticamente na ITA.
Antes de Bruxelas aprovar o plano de negócios, o ITA terá que provar que pode atender a todas as condições. O plano final deve ser apresentado à Comissão Europeia ainda neste mês e a intenção da empresa é começar a voar entre julho e agosto com uma frota e equipe reduzidas.