‘Militares não produzem pilotos suficientes’, afirma CEO de aérea, que acaba criticado

A fala do chefe da United Airlines acabou não repercutindo bem entre militares americanos, após ele reclamar da pouca “formação de pilotos”.

Divulgação – United

A fala de Scott Kirby, CEO de uma das maiores companhias aéreas americanas, não está errada, muito pelo contrário, mas a escolha do termo desagradou os militares e veteranos, que são uma porcentagem considerável da sociedade americana e, principalmente, uma boa parcela de seus funcionários.

Em entrevista ao programa Axios da HBO, Kirby falou sobre a falta de pilotos, um problema crônico de anos nos EUA. Ele citou que o número de pilotos militares, que são boa parte dos aviadores que entram nas companhias aéreas americanas e que tem benefícios como exigência legal de metade das horas de um civil, tem diminuído.

“Os militares produzem bem menos pilotos do que na era do Vietnã e na Guerra Fria e é mais difícil se tornar um piloto comercial por conta própria“, afirmou o CEO.

A fala dele é precisa, já que no Vietnã a demanda por pilotos militares explodiu com o primeiro uso massivo de helicópteros em uma guerra, somado ao fato da Operação Rolling Thunder ser a maior e mais longa campanha de bombardeiros da história mundial. No restante da Guerra Fria, os EUA apostaram fortemente no seu domínio aéreo para vencer os soviéticos, travando combates aéreos para depois destruir os blindados e tanques por cima, tirando a vantagem da cavalaria mecanizada soviética.

No entanto, sem aquela ameaça soviética e num campo de batalha com maior uso de drones a cada dia, o número de pilotos formados tem caído.

Outro ponto é que, exatamente pelo “assédio” das empresas aéreas, os militares tem tido dificuldade de manter os pilotos, e tem mudado recentemente os benefícios para ter maior retenção. Por fim, o orçamento militar nos EUA não está em plena expansão igual estava na Guerra do Iraque e Invasão do Afeganistão, e durante o pico da Operação Contra o Terror.

Tudo isso, somado ao crescente custo de formação de pilotos, tanto civis, quanto militares, a alta exigência, por lei, de experiência prévia e o pagamento baixo das aéreas regionais, que dão as primeiras oportunidades, tem afastado profissionais em potencial.

Críticas

No entanto, mesmo com toda a razão, a escolha das palavras pelo CEO foi infeliz, o uso de “produção de pilotos” deu um tom industrial e mecânico à frase. Por mais que o treinamento militar americano seja para transformar pessoas em “máquinas de matar” e, por vezes, a doutrina seja colocada como um “moedor de carne” pela rigidez, os homens e mulheres ali estão a serviço do país e não para serem preparados para serem colocados no mercado depois como mera mercadoria.

Os comentários mais curtidos na página Task & Purpose, que posta notícias militares e tem mais de 800 mil seguidores, apontam neste sentido. “Não sabia que o real propósito das forças armadas era fornecer pilotos para empresas aéreas”, comentou um homem.

Outro comentou que “os contribuintes pagam para que eles (pilotos) sejam treinados, e após eles darem baixa no serviço militar as empresas ganham um aviador treinado de graça, economizando dinheiro”.

Já outros comentários apontam pelo requerimento de vacinação contra Covid-19 para entrar nas companhias aéreas, que é um ponto de resistência de alguns militares, que preferem continuar nas forças armadas. Além disso, surgiram comentários sobre a rejeição de candidatos que estão em tratamento no sistema público de saúde militar (VA) e a falta de apoio para candidatos civis, que só agora estão recebendo um financiamento e ajuda maior para se formarem em aeroclubes.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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