“Momento Kodak” das viagens corporativas é desafio para setor aéreo

Los Angeles – Foto: Fentress Architects

Até a década de 1990, ter um momento Kodak poderia se referir àquele instante memorável, digno de ser eternizado em uma fotografia. A Kodak era uma das maiores empresas do mundo no mercado de filmes analógicos e máquinas fotográficas e dominava o mercado sem se preocupar com a concorrência. Mas a companhia não se adaptou aos novos tempos, foi sufocada pelas novas tecnologias, até que em 2012 pediu falência, sem conseguir fazer frente à era digital.

Interpretando o hoje

Hoje, a expressão “momento Kodak” assumiu outro sentido. O Corporate Travel Community (CTC), uma rede de internacional de compradores de viagens corporativas, adotou o tema em um artigo recente para se referir ao rigoroso processo de transformação pela qual passa a aviação em tempos de coronavírus. O CTC é uma iniciativa da CAPA – Centre for Aviation, uma das fontes de inteligência de mercado mais confiáveis ​​do mundo para a indústria de aviação e viagens.

De acordo com o CTC, o novo sentido de Momento Kodak se refere às empresas que não percebem um cenário de ruptura no mercado em que estão inseridas, ou que percebem tarde demais a oportunidade para tomar medidas preventivas para diversificar os negócios e evitar se tornarem as últimas vítimas dessa quebra de sistema.

Por anos, as viagens corporativas têm sido o principal filão de receita de empresas aéreas do mundo todo, já que o ticket médio de uma viagem à trabalho costuma ser muito superior ao das passagens turísticas, com empresas e governos dispostos a gastar mais já que muitas reuniões são fechadas em cima da hora e não podem ser adiadas.

Nova realidade

Com aprofundamento das tecnologias para teleconferências, que podem se tornar uma prática predominante em muitas empresas ao redor do mundo nesse momento e daqui em diante, as viagens corporativas estão experimentando seu próprio “Momento Kodak”?

Para Martin Warner, diretor da MW Travel Consultancy Limited, talvez não, mas ele entende que se trata de uma ruptura e a nova realidade que se apresentará no pós-pandemia é que definirá o grau de impacto no transporte aéreo. É difícil dizer quando o mercado voltará ao cenário otimista de 2019 e essa incerteza é o configura o maior problema do planejamento das companhias aéreas para curto e médio prazo. Sabe-se no entanto, que as empresas estão cortando grande parte de suas viagens corporativas.

Lento

Para o CTC, a indústria de viagens e seu ecossistema são notoriamente lentos para mudar. Há uma relutância dos participantes em antecipar e impulsionar as mudanças com base em sinais mais subjetivos e o setor é, em geral, moldado diretamente pelo comportamento dos clientes que atende.

Quando os hábitos mudam repentinamente, as companhias sentem o choque com muita força e o que poderia ser temporário acaba se tornando mais longevo e até definitivo. Em um setor onde os custos operacionais são altíssimos, situações repentinas que impactam o ritmo das viagens podem ter efeitos devastadores. A própria IATA já defende que, sem ajuda governamental, centenas de empresas podem quebrar nos próximos meses.

É importante refletir sobre a escala de declínio e algum histórico de recuperações de outros declínios causados ​​por “choques no setor aéreo”, como o 11 de setembro de 2001, a pandemia de gripe aviária em 2002/03 e, mais recentemente, a crise financeira de 2008. A Covid-19 causou um declínio quatro vezes maior do que os atentados de 11/09 e seis vezes maior do que a crise de 2008. O CTC lembra que é amplamente aceito pelos analistas que a forma e a velocidade de recuperação, na crise de COVID-19, serão diferentes em comparação com tudo o que experimentamos antes.

Dificuldades especiais

O CTC lista quatro fatores que pesam na recuperação do setor aéreo: Saúde, Segurança e o bem-estar dos funcionários e o dever de responsabilidade de seus empregadores e dos respectivos governos. Algumas premissas são:

– Embora essas preocupações tenham uma ação genuína conduzida pelos departamentos de RH e aconselhamento médico de empresas e governos, líderes irão incorporar isso em seu foco na redução de custos, lucratividade e retorno aos acionistas e partes interessadas como razões para apenas apoiar cautelosamente um retorno de viagem.

– A duração da pandemia permitiu que alternativas para viagens, como produtos e serviços baseados em tecnologia, não apenas fossem testados, mas melhorados e, em muitos casos, oferecem algo adaptado ao “novo normal”.

– Essas alternativas baseadas em tecnologia foram adotadas e em muitos casos bem-vindas como substituição às viagens não apenas intermunicipais, interestaduais ou entre países, mas até mesmo como alternativas para ir ao escritório. Algumas categorias de viagens têm grande probabilidade de serem alteradas para sempre em termos de frequência, pelo menos, e não apenas temporariamente.

– É provável que a reestruturação da base de empregos reduza a idade média dos empregados. Os viajantes da “nova era” nascidos com a tecnologia e com probabilidade de adotar alternativas baseadas na tecnologia para viajar.

– Milhares de eventos estão mudando para plataformas online, à medida que grandes empresas de feiras e conferências removem eventos presenciais de suas programações, fora da China, até meados de 2021, sem confirmação sobre o futuro além disso.

– Diante da probabilidade de tais mudanças terem um impacto permanente no ecossistema da indústria de viagens, os diretores – companhias aéreas, hotéis, locadoras de veículos, TMCs etc., estão se preparando o suficiente para o risco equivalente de um “Momento Kodak”? O mercado pode se transformar definitivamente para sobreviver à nova era das viagens digitais.

Confira, clicando aqui, o artigo completo escrito pelo diretor da MW Travel Consultancy Limited, Martin Warner, especializado em consultoria para viagens e indústrias associadas.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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