Moody’s rebaixa nota da Gol e diz que aérea possui uma estrutura de capital insustentável

A agência de rating Moody’s Investors Service seguiu a decisão da Fitch e também rebaixou a nota de crédito da Gol Linhas Aéreas. Na escala da Moody’s, o rating corporativo (CFR) da Gol passa a ser Caa2, antes era B3, segundo relatório divulgado nesta data.

A agência também atribuiu o Caa2 ao novo rating subordinado garantido notas com vencimento em 2025 e notas com garantia sênior com vencimento em 2026 emitidas pela Gol Finance (LuxCo) em dezembro de 2022 e garantidas incondicionalmente pela Gol e Gol Linhas Aéreas SA. Ao mesmo tempo, a Moody’s rebaixou para Caa2 o rating das notas com garantia sênior emitidas pela Gol Finance (LuxCo), e rebaixou para Caa3 o rating das notas seniores sem garantia emitidas pela Gol Finance e Gol Equity Finance. 

A perspectiva para todos os ratings é negativa. Abaixo, um resumo dos fatores considerados pela agência foi elencado, mas a leitura do reporte completo é recomendada aos investidores.

Fatores considerados

O rebaixamento do CFR da Gol para Caa2 reflete o risco de liquidez da empresa e as grandes necessidades futuras de refinanciamento. A geração de caixa da Gol não se recuperou totalmente do impacto da pandemia e da alta do preço do petróleo nos últimos anos, e a empresa tem buscado alternativas de liquidez para refinanciar as obrigações da dívida e compatibilizar suas saídas de caixa com sua geração interna de caixa.

Em 7 de fevereiro de 2023, a Gol anunciou que o Abra Group, holding que deterá participações na Gol e na Avianca Group International Limited, levantará US$ 418 milhões em dinheiro e emitirá US$ 987 milhões em notas seniores garantidas.

A Moody’s vê o negócio como uma transação difícil. O acordo melhorará a posição de liquidez da Gol com o caixa adicional de US$ 400 milhões e o cronograma de amortização da dívida alongado. No entanto, em tal cenário, apesar do potencial refinanciamento e troca de dívida, a alavancagem financeira permaneceria muito elevada considerando o ainda fraco desempenho operacional, tornando insustentável mesmo a estrutura de capital recém-implementada da Gol caso a empresa não consiga melhorar suas fracas margens e gerar caixa livre positivo fluxo.

O Caa2 CFR da Gol também já reflete a posição de liderança da empresa no mercado brasileiro, sustentada por sua marca forte e estrutura de baixo custo baseada em uma frota operacional moderna e eficiente de aeronaves Boeing 737, juntamente com uma equipe de gestão experiente. A classificação também leva em consideração a recuperação pós-pandemia mais rápida do que o esperado no tráfego de passageiros no Governo do Brasil (Ba2 estável); e concorrência e capacidade mais racionais no mercado brasileiro, o que permitiu às operadoras cobrar tarifas aéreas mais altas, mitigando o efeito dos preços mais altos do combustível de aviação e outras pressões inflacionárias de custos. 

A capacidade da Gol de reduzir custos por meio de acordos com funcionários e locadores que resultaram em uma redução maior do que a esperada no consumo de caixa também está incorporada no rating Caa2.

Perspectiva

O rating Caa2 é limitado pela fraca liquidez da Gol, exposição à moeda estrangeira e volatilidade do preço do combustível, métricas de crédito ainda fracas, a contínua situação frágil do setor aéreo no contexto da pandemia e riscos macroeconômicos crescentes. A capacidade da empresa de aumentar a liquidez e controlar o consumo de caixa ou as necessidades de caixa ainda serão aspectos importantes em sua avaliação de rating, já que a Gol continuará dependendo da rolagem de dívidas para permanecer solvente.

Os ratings da Gol podem ser ainda mais rebaixados se a transação com o Abra e os sócios não for concluída conforme anunciado, e a Gol tenha que buscar outras alternativas de troca de dívida que acarretem maiores perdas para os credores do que aquelas associadas à categoria de rating Caa2.

Uma elevação dos ratings da Gol é improvável no curto prazo, a menos que haja melhorias sustentáveis ​​na estrutura de capital e liquidez da empresa, conclui a Moody’s.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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