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Na rota do tucunaré: aviação e pesca na Amazônia

aventura

A presa não tem tempo de reação. Como que no intervalo de menos de um segundo, o feroz Tucunaré salta fora d’água e abocanha seu prêmio com valentia. Sacode a água com grande explosão e, se quiser trazer sua prenda, o pescador terá de aplicar, nessa hora, toda sua técnica. Fará, assim, valer a pena a longa e emocionante viagem a bordo de toda a sorte de aeronaves, com rasantes épicos e muita emoção no meio da floresta.

 

Por Luís Alberto Neves

A partir de agora você é convidado do AEROIN e da agência paulistana WF VIAGENS E TURISMO, a embarcar em jatos e turboélices e conhecer mais do transporte aéreo regional na Amazônia durante a alta temporada da pesca esportiva. Vamos juntos, na rota do Tucunaré!

Tucunaré, do tupi ‘tucun’ (árvore) e ‘aré’ (amigo), é um peixe ósseo de até um metro de comprimento e dez quilos que habita os remansos dos rios da Amazônia. O peixe mais esportivo do mundo.

 

Hora de partir

Nosso check-in sempre chama muita atenção no aeroporto de Guarulhos. Dezenas de pescadores, muitos deles uniformizados, portando cada qual suas varas em coloridos tubos de até 2 metros de comprimento, fazem do grupo uma atração à parte no saguão.

Nosso trajeto até Manaus foi a bordo do TAM 3748, onde voamos no Airbus 330-200, o voo estava completamente lotado, com aproximadamente 60% dos passageiros formados por pescadores de vários cantos do Brasil.

Três horas e meia de viagem à frente, chegamos ao internacional de Manaus, o Brigadeiro-do-ar Eduardo Gomes, também repleto de grupos e de tubos de varas. Esse ano, somente a WF VIAGENS levou, além do AEROIN, outros 188 pescadores para a Amazônia, com destino a cidades como Barcelos, Apuí, Itapará e Santa Isabel do Rio Negro, em voos regulares ou fretados pela agência, com atendimento exclusivo.

Os tubos que carregam as varas são decorados pelos próprios pescadores, que chamam muita atenção por onde passam

Grande estrutura da pesca esportiva

Para atender aos grupos esse ano, a agência fez parcerias com quatro empresas para o fretamento de suas aeronaves: a TRIP Linhas Aéreas com ATR-42-500, a Apuí Taxi Aéreo com o Bandeirante E-110, a Manaus Aero Taxi com Bandeirante E-110, um Cessna Grand Caravan anfíbio para operação em flutuantes que ficam no meio da floresta amazônica e a Tio Taxi Aéreo com Beech Baron para 5 passageiros.

Em nossa jornada, seguimos para a última fronteira da pesca esportiva no estado do Amazonas e o sonho de pesca de qualquer pescador no mundo: a cidade de Santa Isabel do Rio Negro.

Para poder atender a cada grupo formado por vinte e quatro pescadores por semana, foram usados os serviços da TRIP e da Tio Taxi Aéreo. A estrutura hoteleira da cidade é composta basicamente por barcos-hotéis especializados no atendimento ao turismo de pesca, cada qual com capacidade para 26 pescadores.

O ATR-42 da TRIP é uma das aeronaves usadas pelos grupos de pescadores
Beech Baron da Tio Taxi Aéreo sendo carregado para o transporte dos turistas às regiões mais remotas do país
Os grupos desse ano usaram duas aeronaves da Manaus Aero Taxi. Um deles foi o Embraer 110 Bandeirante, visto acima …
… e o outro foi o Cessna Caravan anfíbio, acima retratado.
Aeroporto de Uapés, extremo norte do Brasil
No pequeno pátio, dois Embraer 110 Bandeirante. Durante a alta temporada o tráfego aéreo é altamente incrementado.
A diversidade na região é muito grande, a placa de boas vindas do aeroporto em línguas indígenas denuncia esse fato.
Outro grupo embarca no Bandeirante, certos da missão cumprida na Amazônia

A vida na Amazônia

Curiosamente, devido à localização da cidade, a aproximadamente 800 km de Manaus e bem no meio da floresta (imaginem o calor!), não foi possível levar energia elétrica e hoje a cidade é mantida ‘acesa’ por dois geradores gigantescos que se revezam e geram a eletricidade para a população.

Para se ter uma ideia, o custo de vida na cidade acaba sendo estranho para nós, que vivemos em cidades maiores. Produtos populares que fazem parte do nosso dia-a-dia, como o acesso à internet, em Santa Isabel custa muito caro. Por exemplo, a hora da internet na cidade sai por R$5.00, não existe 3G e a navegação e muito lenta, não sendo possível mandar imagens por e-mail ou abrir a pagina do Facebook. Um pacote de biscoito Passatempo custa R$4.00, devido a dificuldade de frete que tem que ser por meio fluvial ou aéreo.

Os habitantes vivem de pequenas lavouras, plantio de mandioca, açaí, grãos e pesca profissional. O calor é intenso e a umidade do ar é grande, então, se você for para lá, leve roupas leves e se prepare para suar. Por conta dessa condição, todos os dias desaba a famosa chuva de floresta tropical.

Etapa da aproximação para a cidade de Santa Isabel
Já tinha ouvido falar do barco escolar?
As populações ribeirinhas vivem geralmente da pesca e do cultivo de subsistência e são extremamente pobres, mas como qualquer ser humano do século XXI também têm seu apreço pelos refrigerantes
As crianças se divertem com brincadeiras tradicionais. O rio é uma das fontes de diversão, seja nadando, pescando ou navegando em suas jangadas.
Boa parte da população vive da pesca profissional
Outra parte lucra com o turismo exótico da região, direcionado quase que exclusivamente aos pescadores durante a alta temporada. Na foto acima, nosso barco-hotel, o melhor da região.
Subitamente, sem que ninguém esperasse, o boto deu as caras. Uma cena cada vez mais rara.
E eis que a festa da pesca rendeu muitos bons peixes aos pescadores do grupo desse ano.

Grandes desafios para a operação aérea

Neste mês que o passamos em Santa Isabel, observando o movimento nos voos fretados na alta temporada da pesca esportiva, comprovamos o quanto é difícil administrar a logística numa cidade com tão poucos recursos para telecomunicação e transporte.

A TRIP teve de instalar uma grande antena para poder acessar o sistema operacional da empresa que, mesmo assim, não funciona cem por cento do tempo e às vezes os funcionários precisam emitir as passagens manualmente.

Interessante salientar que a TRIP mantém voos para Santa Isabel fora da temporada de pesca. Esses saem praticamente vazios de Manaus, na maior parte das vezes transportando o pessoal da vigilância sanitária, médicos, políticos, funcionários de autarquias, mas raramente com turistas. A passagem de ida e volta, saindo da capital manauara não sai por menos de R$ 2.000,00 e a grande maioria da população utiliza barcos para suas viagens. Mesmo assim, a TRIP mantém o voo semanal que segue até São Gabriel da Cachoeira para ser abastecido e retornar.

À frente, uma imensidão verde. As rotas visuais seguem o leito de rios.
Mas quando os rios são muitos, um GPS ajuda muito. Imagine nas épocas passadas quando os pilotos não tinham esse recurso.
Outra cena muito rara de se ver: durante a rota avistamos, ao longe, o Pico da Neblina, ponto mais alto do Brasil e que, quase sempre, está coberto de que? De neblina, é claro! Com 2.993 metros de altura, ele foi descoberto em 1950 por um comandante da Panair do Brasil.

  

Uma chegada triunfal

A chegada ao município também tem toques épicos. Após 1h38 a bordo do Baron da Tio Taxi Aéreo, nossa chegada ao pequeno município é anunciada por um rasante impressionantemente baixo sobre a cidade (veja o vídeo abaixo). O motivo? Chamar atenção de qualquer funcionário da prefeitura, que se desloca para abrir o aeroporto. Certa vez, o funcionário não veio e os pescadores, que vieram a bordo de um Bandeirante da Manaus Aero Taxi, tiveram de pular o portão para sair do aeroporto.

 

Notas sobre o vídeo que você vai ver:

– reparem a altitude que o Baron passa (observe a altura com relação às copas das árvores)

– o objetivo da passagem é alertar a prefeitura para abrir o aeroporto

– observem características da cidade como o tamanho, as construções

– acompanhem tudo isso a partir da cabine

 

Existe um projeto da prefeitura de Santa Isabel para aumentar o tamanho da pista, para atrair mais investimentos e permitir a operação de aeronaves maiores. O mercado da pesca esportiva no estado do Amazonas cresce a cada ano, em 2001 quando a WF começou a formar os grupos de pescadores, eram apenas três viagens por ano com media de quarenta e oito pessoas e hoje, em 2012, são cento e oitenta e oito pescadores e um novo projeto junto com o Amazon Sport Fishing que prevê um aumento significativo de turistas e o uso de mais aeronaves e mais destinos.

As aproximações para os aeroportos da Bacia Amazônica são belíssimas, impossível não se emocionar diante de tanta beleza.
Início do procedimento de pouso em Santa Isabel
Na curta final.
Após o pouso, é aguardada a chegada do funcionário da prefeitura que abre o portão do aeroporto.
A foto do terminal de passageiros dispensa comentários.
Também trazendo um grupo de pescadores, o ATR da TRIP pousa regularmente em Santa Isabel.
Rumo ao terminal.
Balcão da TRIP no aeroporto.
Decolagem do Baron .

Pescar é muito bom!

Sem sombras de duvidas foi uma grande experiência para o AEROIN poder acompanhar essa aventura no estado do Amazonas, vale lembrar que, mais que voar, tivemos oportunidade de conhecer a fundo mais essa logística de transporte em nosso país e ficamos muito satisfeitos com a experiência conquistada durante esta viagem.

Além disso, estar ao lado de pescadores de todo o país, numa rica diversidade, em meio à mata intocada, próximo a aldeias indígenas, a animais exóticos e a toda a sorte cultural dos ribeirinhos da Amazônia, fez o passeio ficar muito, mas muito rico!

Agradecemos à WF VIAGENS E TURISMO pelo grande apoio. Acesse o site para conhecer mais: www.wfviagens.com.br/

 

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