Nesta madrugada, o primeiro A330 da FAB vai para o Oriente Médio, onde será pintado

Foto: FAB

Está prevista para a madrugada de sábado (21) a decolagem do Airbus A330-200 da Azul, de marcas brasileiras PR-AIS, rumo à Jordânia, onde passará por manutenção (Check C) e pintura nas instalações da Joramco, antes de ser repassado à Força Aérea Brasileira. A ida da aeronave ao Oriente Médio foi informada com exclusividade pelo AEROIN há cerca de duas semanas.

A aeronave é a primeira das duas que a Azul deverá repassar para a FAB nos próximos seis meses, como resultado de uma licitação vencida pela empresa aérea.

O processo de licitação

Em abril, tornou-se publicamente conhecido que a Azul Linhas Aéreas sagrou-se vencedora da licitação aberta pela Força Aérea Brasileira, por meio de seu adido em Washington, visando a incorporação de duas aeronaves Airbus A330-200 para futura conversão em aeronave multitarefa. Como parte do certame, a aérea tem 90 e 180 dias para entregar a primeira e a segunda aeronaves, respectivamente, e corre contra o relógio.

A primeira das aeronaves a ser repassada à FAB deve ser o jato de número de fabricação MSN 1492, que já operava na Azul sob a matrícula PR-AIS e no passado operou como PR-OCJ na Avianca Brasil. Para esse exemplar, o prazo para repasse à FAB é 17 de julho, um tanto “apertado” considerando-se as condições atuais de mercado. Para viabilizar, a Azul tem sido obrigada a buscar alternativas distantes do Brasil.

O contrato com a FAB prevê que a aeronave seja entregue com a manutenção (Check C) concluída e a fuselagem pintada. No entanto, os dias atuais têm sido desafiadores para as equipes de gestão de frotas das empresas, uma vez que o mercado de MRO está muito agitado com a retomada dos voos internacionais e a recolocação de aeronaves para voar.

Por conta disso, está muito complicado conseguir slots nas principais oficinas de manutenção do Brasil, América Latina e até da Europa. Recentemente, o AEROIN falou sobre situações envolvendo a Latam e a Gol, que enviaram aeronaves para a Bulgária, a fim de garantir sua agenda de manutenção. E sempre lembrando que a manutenção de aviões é sempre preventiva, já que não se pode esperar dar o problema para depois corrigir, como se faz com carros, por exemplo.

Solução na Jordânia

Dados os desafios de tempo e de slots de manutenção, a alternativa que a Azul encontrou foi enviar o Airbus A330 para a Jordânia, onde ele será atendido nas oficinas da Joramco, uma oficina homologada pelas principais autoridades aeronáuticas do mundo, como a EASA e FAA, mas que dificilmente seria a primeira escolha de uma empresa brasileira, dadas as demais opções disponíveis e mais próximas.

Dentre as oficinas mais “próximas” estariam a da Latam (Brasil), Avianca (Colômbia), Mexicana (México) e até a da TAP Air Portugal. No entanto, com a decisão de enviar o jato à Jordânia, presume-se que não havia disponibilidade nesses locais.

Por fim, considerando o prazo de entrega à FAB, entende-se que o traslado da aeronave PR-AIS de Campinas (onde está estocada) até Amã, capital jordaniana, deve ocorrer nos próximos dias.

Mais da licitação

A empresa Azul S.A. foi declarada vencedora por atender a todos os requisitos do certame, apresentando uma oferta no valor global de aproximadamente US$ 80 milhões, o equivalente a R$ 375 milhões de reais, na cotação atual. O processo foi encerrado no último dia 7 de abril.

A aquisição tem como objetivo suprir as carências operacionais da FAB em ações estratégicas, como Reabastecimento em Voo (REVO), Transporte Aéreo Logístico (de cargas e passageiros) e Ajuda Humanitária. Em situações de calamidade pública, como desastres naturais, pandemias ou emergências médicas, o avião pode, também, realizar missões de Evacuação Aeromédica (EVAM) de grande número de pacientes.

A segunda aeronave, a ser entregue até outubro, será o MSN 1508, que no passado operou como PR-OCK na Avianca Brasil e foi agora adquirida pela Azul no mercado internacional para ser ofertada para a licitação.

Ambos os equipamentos, que já estão com suas matrículas definidas (FAB 2901 e FAB 2902), receberão o designativo KC-30 e serão operadas pelo Segundo Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte (2º/2º GT) – Esquadrão Corsário, sediado na Base Aérea do Galeão (BAGL), no Rio de Janeiro (RJ).

Benefícios à FAB

Em toda a sua história, a FAB teve somente um vetor capaz de cumprir esta variedade de missões estratégicas: o Boeing KC-137, que voou pela última vez em 2013. Hoje, as maiores aeronaves da FAB são os KC-390 Millennium, que têm um papel importante nas missões de transporte aéreo de carga e pessoal, lançamento de paraquedistas, assalto aeroterrestre, dentre outras, em um cenário tático.

Com a nova aquisição, a FAB une as possibilidades do KC-390 às características de emprego estratégico do KC-30, resultando em um significativo incremento em sua operacionalidade.

Sendo o Brasil um País de dimensões continentais, torna-se imperativo possuir a capacidade de desdobrar seus meios aéreos, tropas e equipamentos para qualquer lugar, a qualquer hora. Uma aeronave estratégica, carregada com cerca de 110 toneladas de combustível, é um fator multiplicador de capacidades de qualquer força aérea, pela possibilidade de apoiar uma grande quantidade de aeronaves de caça, em suas missões de emprego. Além disso, as demais características da aeronave são essenciais para cumprir missões de logística e de transporte.

Diversos países já operam o A330 MRTT, a exemplo da França, Reino Unido e Austrália, dentre outros. A negociação com a empresa Airbus para conversão das aeronaves comerciais em plataformas MRTT será iniciada nas próximas semanas, a fim de que a primeira aeronave com esta configuração entre em operação em 2024.

Vetor multimissão

Um vetor multimissão estratégico de transporte e REVO se caracteriza por ser capaz de transportar passageiros, em uma cabine comercial convencional, e um grande volume de carga nos porões, em voos de longo curso. A mesma cabine pode ser reconfigurada rapidamente para cumprir missões de evacuação aeromédica, ou seja, moldar-se de acordo com as necessidades operacionais, com grande flexibilidade.

Assim, com a junção das potencialidades das duas aeronaves, a Força Aérea Brasileira realiza um salto operacional extraordinário na Aviação de Transporte e garante, ainda mais efetivamente, a manutenção da soberania do espaço aéreo e integração do território nacional, com vistas à defesa da Pátria.

Informações da Força Aérea Brasileira (adaptado pelo AEROIN)

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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