Nova empresa a usar jato Embraer nasce mais enrolada que se possa imaginar

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Lone Star Air, Asas da Libéria. Estes são, respectivamente, o nome e o mote da mais nova empresa aérea que planeja voar usando aviões da Embraer, mas que nasce da forma mais enrolada que se possa imaginar.

Embraer ERJ Lone Star Air
Jato Embraer com montagem da pintura da empresa – Imagem: Lone Star Air

Em sua página oficial no Facebook, a nova companhia aérea divulgou um comunicado na última terça-feira, 6 de outubro, descrevendo que o Governo da República da Libéria (GOL) e a companhia aérea ganense Goldstar Air (GSA) firmaram uma parceria estratégica para ressuscitar a Companhia Aérea Nacional do país.

Guarde bem este nome: Goldstar Air. Alguns parágrafos abaixo falaremos mais a respeito dela (se você é leitor do AEROIN há um bom tempo, talvez algo já lhe tenha vindo à memória).

Detalhes do comunicado

A nova transportadora nacional da República da Libéria anuncia que foi nomeada como Lone Star Air – Wings Of Liberia (Asas da Libéria) e irá inicialmente voar para onze destinos da África Ocidental a partir de Monróvia, a saber: Accra, Abuja, Lagos, Abidjan, Freetown, Banjul, Conakry, Dakar, Ouagadougou, Bissau e São Tomé.

O Presidente da República da Libéria, Sua Excelência o Dr. George Manneh Oppong Weah, declarou estar ansioso para criar mais empregos para os cidadãos da Libéria revivendo a transportadora nacional que cessou os serviços há cerca de trinta anos (1990), portanto, após alguns anos de consulta, optou pelos serviços de gerenciamento da Goldstar Air.

O Presidente considera necessário iniciar planos para um projeto dedicado à aviação como objetivo estratégico de usá-lo como um impulsionador da transformação socioeconômica, de tal forma que o principal foco das operações de negócios da Lone Star Air é atrair mais visitantes para a Libéria.

Para alcançar isso, detalha o comunicado, a estratégia de marketing será instituída com base nas características da metodologia de operação de pacotes e tours das transportadoras de baixo custo, que até hoje têm sido bem-sucedidas na América do Norte e na Europa.

Em uma reunião com alguns de seus ministros de Estado e funcionários da Goldstar Air antes da cerimônia de assinatura, o Presidente disse que a companhia aérea proporcionará à comunidade da aviação na Libéria a oportunidade de compartilhar e divulgar informações vitais da indústria para fortalecer e melhorar o setor aéreo, e também a conectar ao desenvolvimento nacional para criar empregos para os jovens.

Segundo o comunicado, a ambição de Sua Excelência é atualizar o Aeroporto de Monróvia, construindo uma Base de Manutenção (MRO) que garantirá a segurança e aeronavegabilidade de todas as aeronaves pelos padrões internacionais.

Além disso, irá implantar uma Vila de Carga, que manterá um fluxo de entrada e saída de carga, e um provedor de serviços logísticos terceirizados (E-Station Cargo), com uma cadeia de transporte dedicada para implementar e controlar o fluxo e armazenamento eficientes de mercadorias e serviço para atender aos requisitos do cliente.

A Goldstar Air Management Services, como parte da joint venture com o governo do país, garantirá que os produtos certos, nas quantidades certas e nas condições certas, sejam entregues no lugar certo, na hora certa e pelo custo certo, levando em consideração que o foco principal como uma companhia aérea que estabelece tendências será na alta qualidade, tempo de resposta curto e promoção de preços altamente competitivos e garantia de excelente serviço ao cliente.

O Ministro dos Transportes da Libéria, Honorável Samuel Wlue, assinou o Memorando de Entendimento em nome do Governo da Libéria, e o Presidente Executivo / CEO da Goldstar Air, Sr. Eric Alfred Bannerman, assinou em nome da companhia aérea, em 3 de outubro de 2020 no Gabinete do Presidente.

O comunicado termina afirmando que a aviação é crucial para os negócios internacionais, comércio e turismo, dos quais a Libéria e Gana podem se beneficiar muito, bem como as duas companhias aéreas, pois “pretendemos ampliar nossos destinos por acordo estratégico de codeshare / interline para impulsionar a conectividade da África Ocidental com o resto do mundo.”

Muito bem. Tudo devidamente anunciado e planejado. Desejamos sucesso para que mais uma empresa aérea ganhe os céus do mundo.

Mas, vamos à Goldstar Air, conforme prometido.

Goldstar Air, a mais enrolada do mundo

Em julho do ano passado, acompanhamos o desenrolar dos planos de uma empresa aérea de Gana que almejava altos voos pela frente: a Goldstar Air.

Na verdade, tudo começou em 2014, quando a empresa fez uma grande festa na cidade de Accra para comemorar seu nascimento. Parecia que algo grande estava por vir, quem sabe uma empresa que conectaria Gana ao mundo, além de servir como um importante centro de conexões, como faz a Ethiopian Airlines ou a Royal Air Maroc no continente.

Pouco depois, em 2015, a empresa divulgou um ambicioso plano de incorporar aeronaves de grande porte e estabelecer uma rede mundial de voos. Seus planos incluíam os mais diversos modelos de grandes jatos, como Boeing 747, 767, 777, MD-11 e até 787. À época, várias mídias ao redor da África e do mundo divulgaram matérias sobre a nova empresa que chegava forte no mercado para concorrer com algumas grandes já estabelecidas.

A companhia também chegou a divulgar em seu site algumas montagens de aeronaves (ou algo do tipo) com suas cores, mas as coisas já se mostravam bem estranhas com esse híbrido ‘de nada com coisa nenhuma’ da imagem abaixo.

Imagem que estava no site oficial da Goldstar Air

Mas, na medida em que o tempo foi passando, parece que o fogo foi se apagando e começou-se a notar que algo estava errado.

Mudança de planos

Os planos revolucionários davam lugar a uma estratégia mais humilde, a de operar com um Boeing 737-300 e três Boeing 767-200 de segunda mão. Mas os planos ainda eram mirabolantes e pretendiam ligar Gana ao mundo, incluindo destino no Brasil.

Muitas foram as idas, vindas e desentendimentos com a GCAA (autoridade da aviação civil em Gana). Depois de uma larga espera e sem vislumbrar um acordo, os executivos da empresa parecem ter “chutado o balde”.

Em meados de 2016, a empresa comunicou ao mercado que estaria comprando três aeronaves e começou a vender passagens em seu site, à revelia das autorizações do governo, na total clandestinidade.

Logo em seguida, a GCAA emitiu nota ao mercado, comunicando que a empresa aérea estava tentando operar sem as certificações, e que tinha grande preocupação. A nota foi lida em toda a imprensa de Gana e causou revolta dos executivos.

Como resposta, a Goldstar disse que havia uma conspiração em curso para manchar sua imagem e impedi-la de operar. Tudo isso aconteceu em rede nacional e acabou transbordando para outros países, tornando-se uma verdadeira vergonha nacional.

Nova empreitada

Em 2018, o principal executivo da empresa anunciou (de novo) ao mercado a chegada de cinco aeronaves Boeing, que seriam batizadas com nomes de personalidades de seu país. Ele também ressaltou que a empresa criaria imediatamente cinco mil postos de trabalho diretos e indiretos.

Já em 2019, empresa que nunca voou lançou um novo site, menos bizarro do que o primeiro, é verdade, mas igualmente amador e com imagens de aviões de outras empresas aéreas. Nele, a empresa cita que conseguiu da GCAA o desejado certificado de operador aéreo e que buscaria por Boeings 767-300ER.

Mas, como divulgamos na semana passada, a Autoridade da Aviação Civil do país vem alertando à população a não fazer negócios com as companhias aéreas Global Ghana Airways e Goldstar Air, por divulgarem voos inexistentes e operações fraudulentas.

Ainda mais do que um possível caso de estelionato, as companhias aéreas movimentaram o setor empresarial e político do país africano, venderam passagens, homenagearam autoridades e até ganharam prêmios.

Elas não são formalmente acusadas de crimes, mas, a GCAA acusa as duas companhias de práticas não idôneas, pois as duas se comportam como plenamente operacionais e buscam negócios com parceiros que podem ser enganados. O que se sabe é que elas ainda não estão nem perto de conseguir as autorizações necessárias para começar a voar.

Portanto, esta é a fama da empresa com a qual o governo da Libéria fechou o grande acordo para colocar no ar a Lone Star Air. Alguém aí apostaria suas fichas que a companhia um dia decola?

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Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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