Esse feito perdura até hoje como o recorde de pessoas transportadas em um único voo por um avião comercial, e dificilmente será batido.
Em maio de 1991, a Etiópia estava em meio a uma guerra civil e a capital Addis Abeba prestes a ser tomada por forças rebeldes. Enquanto isso, acaloradas negociações entre Israel e o Governo etíope se desenrolavam na tentativa de apressar o processo de retirada dos judeus do país que, até aquele momento, eram tratados como peões políticos pelo governo do então presidente Mengistu Haile Mariam, sendo usados como moeda de troca por armas e material de guerra.
Com o apoio dos Estados Unidos e de uma carta do Presidente George H. W. Bush diretamente ao mandatário etíope, os africanos finalmente decidiram ceder e cooperar com a operação de resgate, que já vinha sendo secretamente desenhada havia um ano.
O acordo com os etíopes previa executar o plano de resgate a partir de 24 de maio, com duração de alguns dias. No entanto, em 21 de maio, Mengistu fugiu do país temendo por sua vida. Israelitas e americanos tiveram então que correr contra o tempo para costurar um novo acordo com o governo de transição e com os rebeldes. Um novo acerto foi logrado; apesar de Israel ter de pagar US$ 35 milhões e se comprometer em concluir a operação em apenas três dias, o resgate poderia ser feito.
Detalhes do plano foram mantidos totalmente em segredo do mundo até o último minuto. Apenas na manhã de 24 de maio, dia do resgate, é que os judeus etíopes, que a esse momento já estavam em campos de refugiados, foram informados sobre o viria a acontecer.
A principal parte da operação seria por via aérea, com dezenas de voos “camuflados” e uma janela curta de tempo para resgatar mais de 14 mil judeus. Quando o cronômetro disparou, uma frenética operação foi posta em prática com apoio de 35 aeronaves comerciais e militares e mais de 500 pessoas. Visando acomodar tantas pessoas quanto fosse possível, vários dos aviões foram despojados de seus assentos e, para evitar retaliações, o nome El Al e a bandeira de Israel foram removidos das fuselagens.
Uma curiosidade é que, como o resgate começou numa sexta-feira e teria que continuar ao longo do sábado, o Sabbath judaico, uma permissão especial foi dada pela congregação dos rabinos já que tinha o objetivo de salvar vidas. É importante lembrar que os judeus guardam o sábado e não realizam nenhuma atividade.
Um Boeing 747-200C (4X-AXF) foi o primeiro a decolar de Tel Aviv, às 12h58 da sexta-feira. Previamente usado para carga aérea, ele foi convertido para passageiros em 24 horas. Com pitch limitado a 74 cm, sem galleys e com apenas quatro banheiros, nada menos do que 760 assentos foram instalados.
No comando do voo estava o diretor de operações da El Al, Arie Oz. Nos anos 1960, Oz fora o piloto pessoal do imperador etíope Haile Selassie. Em 1976, ele foi o primeiro piloto a pousar em Entebbe, Uganda, quando Israel resgatou os reféns de um voo da Air France que havia sido sequestrado por terroristas.
Os 2.575 Km entre Tel Aviv e Addis Abeba foram cobertos em 3h15 e os países na rota foram notificados sobre a natureza humanitária da operação.
Sem perder tempo, logo após o pouso, filas de refugiados foram rapidamente embarcados no jumbo.
Até seis pessoas eram espremidas nos quatro assentos do meio, enquanto que até quatro eram colocadas nos três assentos das janelas. O peso da aeronave não era um problema, já que os africanos eram muito leves e não carregavam bagagem. Médicos e guardas armados também foram embarcados e apenas água foi servida durante o voo.
Quando o 747-200 fechou suas portas para a viagem de volta, a contagem de pessoas foi de incríveis 1.087. Esse número já seria um recorde, mas foi batido duas vezes ao longo do voo. Isso por que um bebê nasceu no trajeto, aumentando a contagem para 1.088 e, após o pouso, uma nova contagem revelou que, na verdade, haviam 1.122 pessoas, já que várias crianças e bebês não haviam sido contados.
Esse feito perdura até hoje como o recorde de pessoas transportadas em um único voo por um avião comercial, e dificilmente será batido.
A El Al fez 11 voos durante a operação, transportando quase a metade dos 14.325 imigrantes. Os três primeiros voos foram com Boeing 747s, entretanto Boeing 767 e 757s também foram empregados. A Força Aérea Israelense fez mais de 30 voos com seus Boeing 707 e C-130 Hercules. A Ethiopian Airlines fez um voo com Boeing 757. Nenhum dos aviões militares tinha assentos e os refugiados foram colocados no chão.
A chegada foi marcada por aplausos e festa. No aeroporto Ben-Gurion, em Tel Aviv e nas bases aéreas adjacentes, os imigrantes, andavam, se arrastavam ou eram carregados pelas escadas das aeronaves. Muitos vestiam apenas mantos, outros estavam descalços e alguns carregavam suas poucas e humildes posses. Alguns se ajoelharam e beijaram o solo da terra prometida, com um sentimento de alívio e paz.
Ao meio-dia de sábado, o último avião decolou de Addis Abeba. Uma hora depois, a Ethiopian Airlines comunicou que estaria encerrando operações na capital por que os rebeldes estavam invadindo a cidade. No domingo, os rebeldes capturaram o aeroporto.