O dia em que um ‘carro voador’ assustou pilotos num dos maiores aeroportos do mundo

Com a popularização dos drones entre entusiastas, curiosos e até entre crianças, aumentam os alertas sobre os riscos que os veículos aéreos não-tripulados podem oferecer para a aviação. Casos de invasões de espaços aéreos são cada vez menos raros e um caso exemplar se deu em um dos aeroportos mais movimentados do mundo.

Em fevereiro deste ano, a Air Accidents Investigation Branch (AAIB), agência do Reino Unido que investiga incidentes e acidentes aéreos (semelhante ao nosso CENIPA) publicou um relatório com a análise final de uma incursão no espaço aéreo do London – Gatwick Airport, o segundo mais movimentado aeroporto da Inglaterra e que está entre os TOP50 do mundo em número de passageiros.

O caso ocorreu em 4 de julho de 2019, enquanto ocorria o Festival Anual de Velocidade Aérea de Goodwood, que reúne amantes de drones e aeromodelismo em um aeródromo localizado a cerca de 50 quilômetros de Gatwick. No evento, um jovem representante autorizado da empresa australiana Alauda Aeronautics, apresentou seu Airspeeder Mk.II, um protótipo destinado ao transporte de pessoas, com 3 m de comprimento, 1,4 m de largura e peso total de 95 kg. Na exibição, ninguém voaria dentro do modelo, que previa espaço para um piloto, substituído por um simulacro. A pilotagem seria feita remotamente.

Alauda Airspeeder Mk.II, envolvido no incidente. IMAGEM: Divulgação AAIB

Descontrole

De acordo com o relatório do AAIB, o piloto remoto perdeu o controle da aeronave no meio do voo de demonstração. Uma chave de interrupção de emergência foi acionada, mas o equipamento continuou a voar sem controle sobre a multidão que acompanhava a exibição. Várias pessoas correram assustadas antes da aeronave não tripulada subir para cerca de 2.400 metros de altura, entrando no espaço aéreo controlado em um ponto de espera para voos que chegam ao Aeroporto de Gatwick.

Ele permaneceu voando em círculos no ar até o descarregamento total da bateria, enquanto o controle de voo de Gatwick suspendia parcialmente às operações. Até então, pilotos e a navegação aérea do terminal não sabiam se estavam diante de um possível ataque terrorista ou por quanto tempo duraria o perigo. Depois de alguns minutos, sem bateria, o drone caiu em uma plantação a cerca de 40 metros de casas ocupadas e 700 metros fora da área de operação designada. Felizmente, não houve feridos.

Apesar de ser um modelo industrial, com ambições comerciais de se tornar um carro voador popular, o equipamento em questão havia sido construído, em grande parte, de forma artesanal, na casa do operador, a partir orientações do fabricante. Várias falhas técnicas e dados errados extraídos da internet resultaram na pane durante a apresentação.

O AAIB concluiu que o Airspeeder Mk II não foi projetado, construído ou testado de acordo com qualquer engenharia reconhecível ou padrões de aeronavegabilidade, e “que seu projeto e qualidade de construção eram ruins”. O plano de segurança operacional continha erros e imprecisões. A aeronave não havia sido inspecionada pelas autoridades locais, no entanto, uma autorização para a demonstração no evento em Goodwood havia sido emitida de forma genérica.

A Autoridade de Aviação Civil no Reino Unido e a organização que projetou e operou o Airspeeder MK II introduziram subsequentemente medidas para resolver a  série de problemas identificadas durante o curso da investigação. O relatório da AAIB fez 15 Recomendações de Segurança relativas a padrões de aeronavegabilidade, gestão de segurança e supervisão regulamentar de sistemas de aeronaves não tripuladas no país e evitar que o problema se repita.

Receba essa e outras notícias em seu celular, clique para acessar o canal AEROIN no Telegram e nosso perfil no Instagram.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

Veja outras histórias