O que aconteceu com os Airbus A310 da Passaredo?

Em seus quase 25 anos de história, a Passaredo já operou vários modelos de negócio. E, se na atualidade, o destaque está na mudança de nome para VoePass, na aquisição da Map e em sua reentrada no Aeroporto de Congonhas, no seu passado há histórias um tanto interessantes.

PP-PSE em Guarulhos – foto de Luís Neves

É o caso dos dois A310. Poucos sabem que a empresa sediada no interior paulista já operou dois aviões de corpo largo (“widebodies”) em fretamentos para o litoral brasileiro e do Caribe. Nessa matéria vamos conhecer também o destino das aeronaves.

O motivo da Passaredo tê-los operado

Em 1997, três anos após a introdução do Plano Real, o momento econômico brasileiro era estável e as famílias sentiam confiança para aumentar seu consumo, inclusive de viagens, favorecendo um setor turístico dominado por grande agências e centrado na venda de pacotes. Por ser uma época em que não havia a internet como a conhecemos hoje, as pessoas dependiam muito mais das agências para organizarem suas viagens.

Essa alta na demanda incentivou um grupo de empresários do turismo a se unirem e pensarem na aquisição de seus próprios aviões, a fim de ter alguma flexibilidade extra na programação de pacotes, principalmente para o nordeste e o Caribe. Apesar da ideia ter sido aprovada, as agências não tinham experiência na gestão de uma operação aérea e, portanto, precisavam de um apoio. Acabaram finalmente elegendo a recém-criada Passaredo como seu braço operacional.

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E a saída para viabilizar os voos foi encontrada no Airbus A310-300, um avião largamente usado para fretamentos naquela época e que era considerado barato de operar, tanto nos voos mais longos para o Caribe, quanto nos fretamentos mais curtos para o Nordeste. A busca no mercado resultou na escolha de duas aeronaves de segunda mão, porém um tanto novas.

Chegada triunfal… mas atrasado

Entre 1997 e 2000, a Passaredo teve sob sua guarda e pintura, dois A310-300 matriculados PP-PSD e PP-PSE. Interessante observar que as pinturas não eram padronizadas, mas ambas bastante atraentes.

O primeiro a chegar foi o PP-PSD, que aterrissou no Aeroporto Internacional de Guarulhos na manhã de 19 de dezembro de 1997, após um grande atraso que resultou em muitas dores de cabeça para as agências.

Originalmente, era previsto que a aeronave chegasse quinze dias antes, para melhor aproveitamento da alta temporada, mas como isso não aconteceu, voos tiveram que ser cancelados e passageiros reacomodados, gerando estresse e prejuízo. Mas a ânsia por operar era tão grande que no mesmo dia em que chegou ao Brasil o avião fez o primeiro fretamento, de Guarulhos para Fortaleza, com 263 passageiros – lotado… e apertado.

Divulgação Passaredo (1998)

Já o segundo foi o PP-PSE, que pousou em São Paulo no dia 26 de junho de 1998, com quase dois meses de atraso, atribuídos à burocracia na importação da aeronave. Ainda assim, chegou antes de assumir os voos durante as férias de julho.

Um deles teve um fim trágico

Quando o PP-PSD chegou na Passaredo, ele já tinha 10 anos de uso pela belga Sabena, empresa que recebeu o avião de fábrica. No Brasil, ele voou por exatamente três anos, de dezembro de 1997 a dezembro de 2000. Após o fim da parceria das agências turísticas, o avião acabou repassado à BRA em janeiro de 2000, embora mantendo as cores básicas da Passaredo.

Nesse momento, a disparada do dólar afetava a busca por pacotes turísticos, ao passo que uma pane no motor manteve o avião parado por meses, encerrando a vida dele no Brasil e resultando em sua devolução. Depois disso, o PSD passou a integrar a frota da Air Wagon (Indonésia). Também voou na vietnamita Pacific Airways e na egípcia AMC, antes de terminar a carreira na Sudan Air e ser armazenado no aeroporto de Cartum em 2010.

PP-PSD após ser repassado à BRA – Cartão Portal escaneado

Por sua vez, o PP-PSE teve uma vida mais curta no Brasil. Apesar de ter sido fabricado em 1990 e, portanto, ser mais novo do que seu predecessor, ela já havia passado por várias mãos. Voado inicialmente na francesa Air Liberté, Aerocancun, Adorna Airways e novamente na Aerocancun, antes de chegar à Passaredo em junho de 1998. Assim como seu antecessor, a operação foi inviabilizada por motivos econômicos e acabou indo embora em setembro de 1999, sendo repassado para a Yemenia.

Mas o fim foi trágico. Na empresa do Iêmen, a aeronave sofreu um acidente, vindo a cair no Oceano Índico, matando 152 dos 153 ocupantes. O caso ficou conhecido como Yemenia 626.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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