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O que a Microsoft fez para o Flight Simulator parecer tão real

Em agosto do ano passado, a Microsoft lançou a versão mais recente de seu Flight Simulator (MSFS) para satisfação de entusiastas e profissionais, muitos dos quais deram seus primeiros passos na aviação simulando voos com o software da empresa de Bill Gates. Além disso, com o lançamento, a franquia chegou a incríveis 36 anos, a mais antiga da empresa americana.

O novo Flight Simulator, que está disponível para PC e Xbox, oferece aos “jogadores” muito mais detalhes e textura no ambiente e na aeronave, iluminação muito melhor e características gráficas de voo muito mais realistas do que nas versões anteriores. As representações precisas dos todos aviões e os detalhes de cada aeroporto são impressionantes.

Diferente de outras versões, o MSFS agora reproduz todo o planeta, de polo a polo, em alta resolução. As estrelas aparecem como se fosse em tempo real, incluindo a fase correta da lua. O sistema ainda reproduz os efeitos da refração atmosférica, que “entalha” o sol nascente ou poente, faz com que as estrelas pisquem e produz distorção gerada pelo escapamento do motor. Alcançar essa façanha exigiu a aglutinação e o processamento de enormes quantidades de dados em disciplinas que vão da aerodinâmica à geodésia e da fotogrametria à ótica.

Como ficou tão realista

A Asobo Studio, sediada na França, liderou o desenvolvimento do programa. Seus desenvolvedores trabalharam com uma série de empresas e organizações especializadas em todo o mundo, incluindo a empresa geoespacial Bing Maps (do grupo Microsoft), o especialista em dados atmosféricos Meteoblue, o construtor de sistemas machine learning Blackshark.ai, o FlightAware para tráfego aéreo global em tempo real e muitos outros.

Para criar a alta fidelidade do Flight Simulator, o Asobo escaneou fuselagens reais, por dentro e por fora, contando com um scanner Artec Leo 3D, que oferece resolução de meio milímetro. Com isso, os “jogadores” veem representações dessas aeronaves reais, até marcas de arranhões nas janelas e entalhes nas alavancas. 

Também foi capturado todo o espectro da acústica interna e externa de um avião, incluindo os ecos da cabine causados ​​pela chuva ou neve. A equipe estudou a aerodinâmica, simulando como o ar interage com 1.306 superfícies do avião e desenvolveu um regime de controle de voo.

“Todas as aeronaves foram revisadas por pilotos profissionais que têm muitas horas voando nelas ou pilotos de teste dos fabricantes para garantir que fossem controlados exatamente como deveriam”, declarou o fundador e CEO do Asobo Studio, Sebastian Wloch. “Em outras palavras, quando os pilotos de simulação tentam puxar e inclinar um A320, eles obterão exatamente a mesma resposta como se estivessem voando no avião real”.

O mundo como ele é

A equipe usou imagens de satélite de alta resolução, fotografia aérea e, em muitos casos, dados fotogramétricos detalhados do Bing Maps para recriar a Terra. O tamanho desse conjunto de dados, que é continuamente atualizado e expandido, agora é de três petabytes

A maioria dos dados são verticais e, por isso, o mundo fica mais real quando se usa a câmera externa da aeronave, mas alguns são oblíquos e todos estão em duas dimensões. Para apresentar essas informações em três dimensões e garantir a continuidade visual, a equipe do Flight Simulator decidiu aproveitar os serviços da Blackshark.ai. 

Os sistemas Blackshark aprenderam a renderizar e colorir todos os aspectos do planeta, incluindo a determinação da altura das árvores, a remoção de sombras de nuvens de imagens aéreas, quando apropriado, e a garantia de cores precisas. O resultado final é a Terra renderizada com uma resolução de pelo menos 1 metro. Regiões mais populosas ganharam mais precisão, com uma resolução entre 10 e 30 centímetros.

O céu nem sempre azul

A empresa Meteoblue, pioneira em modelos gráficos de clima, dividiu a atmosfera terrestre do nível do solo à estratosfera em 250 milhões de compartimentos espaciais. 

“Fazemos isso armazenando temperatura, velocidade do vento, umidade, pressão, chuva, neve e praticamente tudo que define o clima”, explica Mathias D. Müller, cofundador da Meteoblue. Seu sistema reúne grandes quantidades de dados meteorológicos históricos e em tempo real de estações terrestres e satélites e, em seguida, recria o céu e todas as suas condições a qualquer momento com base em algoritmos que levam em consideração a interação molecular. 

O sistema ainda mostra como o clima interage com a aeronave, incluindo gelo e manchas de água da chuva.

Voando e falando

Para lidar com o tráfego aéreo, o simulador conta com a empresa de informações de aviação FlightAware para transmitir dados em tempo real de aeronaves no céu usando seus servidores continuamente atualizados. O que os pilotos do Microsoft Flight Simulator experienciam virtualmente está ocorrendo de fato, desde a coloração rosa de uma tempestade imponente ao pôr do sol até um avião próximo fazendo uma aproximação em um aeroporto. 

Com milhões de usuários, o Flight Simulator já é um sucesso, o único “porém” está no fato de requerer uma máquina (PC) super potente para rodar tanta perfeição, no entanto, mesmo para quem roda o “jogo” na configuração básica, já pode notar os avanços supracitados.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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