O renascimento da aviação latino-americana pelas empresas de baixo-custo

Um mercado antes dominado por empresas tradicionais e nacionalizadas viu na última década uma drástica mudança, quebrando a hegemonia das antigas companhias.

Foto por Maurice Becker

Até pouco tempo atrás cada país tinha sua empresa de bandeira e praticamente dominante no mercado doméstico, graças a regulamentações protecionistas: o Brasil com a Varig, a Argentina com a Aerolíneas Argentinas, o Chile com a LAN-Chile e a Colômbia com a Avianca, para citar alguns exemplos.

No entanto, olhando para esse quadro hoje, muita coisa mudou, principalmente na região andina. E toda essa mudança tem sido levada por novas empresas, que foram sem medo para cima das tradicionais e tem prosperado no negócio, sobretudo devido a medidas que flexibilizaram as regras e fomentaram a concorrência.

No exemplo do Chile, onde antes havia um “monopólio” da LAN-Chile, que virou a base para o renascimento da aviação latina, com a mudança de chave da SKY Airline que deixou de ser uma pequena empresa quase regional para se tornar numa low-cost verdadeira, abrindo subsidiárias inclusive no Peru.

E por falar no Peru, o país poderia ser citado como um clássico exemplo de mudança. Seu mercado era praticamente dividido pelas estrangeiras e vizinhas Avianca e LAN, porém hoje é bem mais disputado, com a LATAM Peru ainda em primeiro lugar, mas seguida pela Sky e a JetSMART, duas low-costs que vão ocupando cada vez mais terreno.

Esta última é, de longe, o maior exemplo de empresa aérea de baixo-custo. Fundada pela Indigo Partners, também dona da WizzAir, da Hungria, e da Frontier Airlines, dos EUA, A JetSMART apostou fortemente no mercado local di Chile, mas já possui divisões na Argentina, Peru e está em vias de abrir na Colômbia, além de ter intenções sobre uma subsidiária brasileira.

Na região ainda se destacam a Wingo, subsidiária panamenha da Copa, e a argentina Flybondi, que muitos apostaram em sua queda com a volta da esquerda ao poder, mas ela se estabeleceu como a segunda maior aérea da Argentina, somente atrás da estatal Aerolíneas.

Nem tudo são flores

Obviamente, com esse crescimento extraordinário na região, existe o outro lado da moeda. O Brasil, ao mesmo tempo, não viu um surgimento de novas empresas aéreas de fato, mas um fortalecimento do trio “AZUL-GOL-LATAM” após a queda da Avianca Brasil, causada por problemas de gestão próprios, mas que também refletiram na Colômbia e Argentina. Já a Bolívia e Venezuela continuaram paradas no tempo, sem atrair novos players.

Também houve países que se beneficiaram desse movimento, mas viram algumas empresas fecharem. O exemplo mais recente acontece na Colômbia, onde a Ultra Air e a Viva Air sucumbiram rapidamente, deixando vários passageiros prejudicados.

Na Argentina, uma vítima nem tão recente foi a Norwegian Air, também por problemas internos mas também uma conjuntura da empresa mãe, assim como a Avianca Argentina que teve um voo curto.

Isso mostra que ainda há problemas problemas estruturais que precisam ser revistos pelos governos latino-americanos, onde embora algumas empresas têm prosperado com a liberdade de mercado, elas ainda esbarram em problemas culturais e regulatórios, no caso mais claro do colapso da Viva, que seria comprada pela Avianca, e evitaria o pior, que foi o fechamento.

Foto por Clément Alloing

Por outro lado também demonstra que a era das grandes e imponentes empresas de aviação na América Latina já passou, ficando um mercado mais diversificado e sem fronteiras, se assemelhando um pouco como é a aviação na Europa guardada as devidas proporções.

Todo este movimento foi iniciado com um foco: o passageiro turista. A redução drástica de custos e foco apenas em viajar, de maneira inteligente e economizando, caiu no gosto do público latino-americano, e tende a se tornar um padrão na região, com as tendências de mercado sendo definidas pelas low-costs e seguidas pelas tradicionais remanescentes.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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