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Com a drástica redução da movimentação no transporte aéreo mundial, provocada por quarentenas e isolamento social a fim de combater a propagação do novo coronavírus, Companhias Aéreas em todo o mundo tiveram de retirar de operação milhares de aeronaves e tomar medidas para sua conservação e manutenção, preparando-as para o eventual retorno após o final da crise atual.
Diante de tal ação, fica a pergunta: onde estão sendo armazenadas tantas aeronaves, e o que é feito para mantê-las dentro dos padrões de segurança dos rígidos programas de manutenção de seus fabricantes e dos regulamentos aeronáuticos nacionais?
Dados divulgados na última segunda-feira pela Cirium dão conta de que cerca de 61% da frota global de aeronaves comerciais (widebodies, narrowbodies e regionais) está no chão, armazenada. O que representa em torno de 16.100 aviões.
Encontrar um local adequado e manter as aeronaves em condições de voo (aeronavegáveis) tornou-se, da noite para o dia, uma prioridade para operadores e mantenedores em 2020. Aeronaves nessas condições não podem simplesmente ser colocadas de volta em operação.
Há um complexo trabalho de preservação e um contínuo monitoramento enquanto a aeronave está armazenada.
A escala do acontecimento impõe um desafio jamais imaginado em termos de estocagem e preservação, criando um verdadeiro pesadelo de logística que está tendo de ser enfrentado.
Dados da Cirium mostram que as aeronaves estão estocadas em 876 aeroportos espalhados pelo globo.
Onde armazenar?
Naturalmente as Companhias Aéreas tentam manter suas aeronaves próximas de suas sedes operacionais, Centros de Manutenção e terminais aeroportuários. Pistas de táxi e até mesmo pistas principais também vêm sendo utilizadas. Assim, as Companhias podem cuidar da preservação de forma mais barata e eficaz, e quando chegar o momento, rapidamente colocar as aeronaves de volta às operações.
Locais destinados a estocagem por longo período, no entanto, precisam ser de clima árido (baixíssima umidade). Assim, o Deserto de Mojave nos EUA, ou o chamado Outback Australiano, entre outros similares, são opções para este caso.
Os dados apontam que cerca de 2.000 aeronaves estão armazenadas em 10 localidades. Os três primeiros da lista de quantidade de aviões armazenados são localizados nos EUA: Roswell International Air Center, Victorville Southern California Logistics Airport e Marana Pinal Airpark. Roswell e Marana Pinal têm apresentado um crescimento acentuado nos números de unidades recebidas, informa a Cirium.
A United Airlines espera manter cerca de 400 aeronaves em seus hubs em Chicago e Newark. A Delta Air Lines tem enviado suas aeronaves para o Pinal Airpark, próximo a Tucson, Arizona. A American Airlines está utilizando sua base de manutenção em Tulsa, Oklahoma, bem como outros locais para armazenagem de suas aeronaves, segundo informação da Bloomberg.
No aeroporto Schiphol, em Amsterdã, Holanda, a KLM mantém cerca de 200 aeronaves estacionadas, em fingers e em pistas, organizadas por tamanho e com distanciamento adequado para o caso de haver necessidade de movimentação em solo, também segundo a Bloomberg.
A finlandesa Finnair tem suas aeronaves estacionadas no Aeroporto de Helsinki, e caso necessário, poderá se utilizar de mais espaço nos aeroportos de Tampere e Rovaniemi, segundo declara no portal da própria Companhia o Vice-presidente de operações em solo, Jukka Glader.
A British Airways mantém 6 aeronaves A380 (metade de sua frota do modelo), em Chateuroux, na França, em estocagem por longo período.
A Qantas declarou que mantém mais de 200 aeronaves estacionadas em aeroportos na Austrália, incluindo os Boeings 787 Dreamliner de sua subsidiária Jetstar. O clima do país, comparado com grande parte da Ásia, torna o armazenamento mais adequado, em vista do nível de umidade mais baixo, bem como a região ser menos sujeita a tufões.
Aeronaves de Empresas como Singapore Airlines e Fiji Airways estão estacionadas em Alice Springs, Território do Norte, na Austrália.
Em aeroportos já com problemas de espaço, como em Nova Deli, na Índia, uma pista principal foi transformada em área de estacionamento provisório, como em Schiphol.
Preservação
Parar uma aeronave para armazenamento não é uma tarefa simples, como deixar um carro na garagem por algum tempo, mesmo que este também necessite de certos cuidados para não sofrer degradação de seus sistemas.
Cabines devem ser limpas, antes de serem seladas. Para segurança, os tanques de combustível e as tubulações de óleo são drenados – e às vezes substituídos por outros líquidos – e as superfícies cromadas expostas, inclusive nos trens de pouso, devem são protegidas contra corrosão.
O processo de preservação varia dependendo do tempo em que a aeronave provavelmente ficará fora de serviço.
Além disso, haverá manutenção semanal se o avião ficar estocado por mais do que um ou dois meses: são feitas verificações e testes regulares de aviônicos, hidráulicos e outros sistemas operacionais, além de manter a cabine higienizada e seca.
Gary Byrne, Chefe de Operações Técnicas da Etihad Airways, disse à Bloomberg nunca ter visto algo do tipo em toda sua carreira na aviação. “Aeronaves são máquinas intrincadas, complexas. Não é como estacionar um automóvel”, declarou.
A Etihad trabalha 24 horas por dia na manutenção de sua frota armazenada, executando tarefas como: acionamento dos motores, energização dos sistemas elétricos da aeronave, checagem dos controles de voo, e instalação de proteções contra poeira e areia em sensores e motores.
A Finnair informa em sua página que são necessários o cumprimento de cheques nas aeronaves Airbus de sua frota a cada 7, 14 e 30 dias.
- O cheque de 7 dias é o mais básico, com inspeções visuais na aeronave e equipamento de proteção;
- A cada 14 dias um cheque mais apurado, que envolve a reconexão das baterias e energização dos sistemas elétricos das aeronaves, é executado;
- E a cada 30 dias, um cheque mais extenso é realizado, onde todas as proteções externas são removidas, os motores são acionados, sistemas de ar condicionado e de proteção contra gelo são inspecionados, a fim de garantir que não há problemas. Após as inspeções, as aeronaves voltam para o armazenamento.
Um fato curioso com a Finnair foi a necessidade de se “encomendar”, a carpinteiros locais, calços de madeira para os pneus das aeronaves estocadas. De 10 a 12 calços são necessários para cada aeronave. Devido ao grande número de aeronaves paradas, os calços se tornaram escassos.
Os calços evitam a movimentação da aeronave. “Quando uma aeronave fica estacionada por um longo período, os freios de estacionamento perdem eficácia, mesmo quando estão acionados. Para a maioria dos modelos, isso acontece em 24 horas”, comentou Jukka Glader.
Na Qantas as aeronaves armazenadas, desde os Boeings 737 aos Airbus A380, são movimentadas a cada uma ou duas semanas. Elas são rebocadas na pista ou suspensas em macacos para terem suas rodas giradas, um cuidado relacionado aos pneus.
Os trens de pouso recebem fluido hidráulico a fim de evitar corrosão. Sílica gel (em pacotes do tipo sachet, mas maiores) é usada para evitar umidade nos motores, enquanto orifícios na fuselagem das aeronaves recebem proteção para evitar a entrada de insetos e a criação de ninhos de pássaros.
Satyendra Pandey, consultor independente e antigo líder de Estratégia na Go Airlines Índia, declarou à Bloomberg que “o armazenamento por longo período requer habilidades especializadas, sendo ideal em locais com clima quente e seco. Mas este aspecto terá de ser revisitado, uma vez que aeronaves estão sendo colocadas em estocagem por todo o globo”.
Custo de estacionamento
Além de toda a logística, conhecimento técnico, pessoal necessário, custos com insumos, etc, o espaço ocupado pela aeronave tem um preço.
Segundo Mark Martin, fundador da Martin Consulting LLC, sediada em Dubai, o valor de uma diária em aeroporto na Índia, para uma aeronave de grande porte é de US$ 1.000,00. Assim, para uma Empresa com mais de 250 aeronaves, mesmo não se levando em conta taxas, o valor gasto em seis meses de pagamento de slot de estacionamento chegaria por volta de US [$ 12,5 milhões.
