Ouça o que disse o controlador de voo uruguaio ao negar o pouso do Jumbo iraniano

A proibição de sobrevoo e pouso do Boeing 747 venezuelano no Uruguai foi gravada e teve seu conteúdo liberado pelo governo.

Divulgação – Conviasa

A história (que já está virando uma verdadeira novela, dada a quantidade de capítulos) começou quando um Boeing 747-300 da Venezuela Emtrasur, empresa ligada à estatal Conviasa, voou do México até a capital da Argentina com peças automotivas. O que seria um fretamento corriqueiro e autorizado se tornou um incidente diplomático e um escândalo global, envolvendo ao menos oito países em dois continentes.

Tudo começou um tempo atrás

Tudo começou quando se descobriu que o Jumbo, que já foi da empresa Mahan Air, estava com iranianos a bordo, mesmo sem necessidade técnica para isso (os pilotos eram venezuelanos e um voo de carga como esse seria normalmente feito com dois tripulantes, mas havia 23 pessoas a bordo), além disso, nem todos os ocupantes estavam declarados no manifesto do voo.

Isso por si só já levantou suspeitas, mas o assunto escalou depois que as empresas argentinas se negaram a prestar qualquer serviço ao Jumbo, com receio de serem retaliadas pelas sanções dos Estados Unidos sobre a Mahan Air, aérea ligada à Guarda Revolucionária Iraniana e suposta dona da aeronave. Sem opções, os pilotos decidiram voar até o Uruguai para reabastecer, mas não conseguiram entrar. Ao retornarem a Buenos Aires, o avião acabou apreendido temporariamente e está lá até agora.

Recusa uruguaia

Alertados pelos paraguaios sobre um dos pilotos do avião, Gholamreza Ghasemi, acusado de terrorismo pelos EUA e Israel, o governo do Uruguai decidiu proibir a entrada do Boeing 747 quando ele já estava sobrevoando a Foz do Rio da Prata, quase chegando no país.

O alerta dos vizinhos foi levado mais a sério quando a tripulação solicitou permissão para não ficar apenas 3 horas em solo para reabastecimento, mas sim 24 horas, sendo que já havia descansado em Buenos Aires.

Ao entrar em contato com o Controle de Montevidéu, o controlador fala em inglês ao Jumbo que “aparentemente tem um problema com sua permissão para entrar no espaço aéreo uruguaio, vamos pedir que vocês façam órbitas (voltas) no ponto DORBO (uma posição geográfica denominada “fixo”, usada na navegação aérea)”.

A instrução é entendida e seguida pela tripulação da Emtrasur. Logo depois, o controlador retorna e afirma em espanhol “recebi a informação que não podem entrar, faz alguns minutos apenas, estou coordenando e já te confirmando, continue a orbitar em DORBO e já te retorno”.

Então o controlador chama o Jumbo mais uma vez e informa que “o Comando de Defesa Aéreo uruguaio não autoriza sua entrada no espaço aéreo uruguaio, confirme se retornará para Ezeiza ou quais são suas intenções”.

Os pilotos do Jumbo afirmam, então, que vão retornar e perguntam se “vão coordenar com Ezeiza para retornarmos?” e o controlador responde “sim, correto, estamos em comunicação com eles (argentinos), mas agora vá para rumo ao Rio da Prata”. Por fim a tripulação do 747-300 pede condições meteorológicas do Aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires, que são passadas pelos uruguaios antes de transferirem a comunicação para os argentinos, escute:

O áudio foi divulgado pelo próprio governo do Uruguai, e reforça que o país bloqueou a entrada após as denúncias de ligação ao terrorismo, tanto da aeronave como dos tripulantes.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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