País árabe reclama que muro de aeroporto israelense viola sua soberania

Foto: Divulgação

A discussão sobre a permissão de Israel para que palestinos da Cisjordânia viagem para a Turquia a partir do aeroporto de Timna (Ramon), localizado perto da fronteira com a Jordânia, levantou uma nova polêmica entre israelenses e jordanianos.

Jordânia é contra o aeroporto

O aeroporto foi construído por Israel na região de Eilat (sul do país), no deserto de Negev, e próximo à fronteira com a Jordânia, país que sempre se opôs ao aeroporto, cuja construção foi concluída em janeiro de 2019, sob a alegação de “violação de soberania e espaço aéreo”.

Argumentando que os muros de 26 metros que cercam o aeroporto invadem o território da Jordânia, as autoridades jordanianas dizem que a proximidade do local com aeroporto Rei Hussein, em Aqaba, “causará um problema de segurança” para os aviões e que sua construção “contradiz os padrões internacionais”. Autoridades israelenses, por outro lado, argumentam que o aeroporto “facilitará o serviço prestado aos palestinos”.

Nova polêmica

Apesar das objeções da Jordânia, a Autoridade de Aviação Civil de Israel anunciou que os palestinos seriam autorizados a viajar do Aeroporto de Timna, mas a decisão foi adiada sem uma explicação sobre o motivo do adiamento.

O ministro dos Transportes da Jordânia, Wajih Uveys, por sua vez, afirmou que a decisão de Israel de adiar os voos foi resultado de “objeções” da administração de Amã, segundo relata a agência de notícias turca Anadolu.

Para analistas, no entanto, o problema está também relacionado ao bolso das partes, além de toda a questão política e religiosa.

Entendendo o contexto

Os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza enfrentam grandes dificuldades para viajar ao exterior devido às restrições israelenses e à ausência de um aeroporto na Palestina. Quando querem ir para o exterior, eles cruzam a fronteira entre a Jordânia e a Cisjordânia e usam o Aeroporto Internacional Rainha Alia, na capital Amã.

Nesta conjuntura, a Jordânia é a porta de entrada para o mundo exterior para centenas de milhares de palestinos na Cisjordânia e a administração de Amã obtém relevantes receitas com esses voos e pedágios nas fronteiras.

Por conta disso, analistas políticos preveem que a permissão de Israel para embarcar palestinos a partir do Aeroporto de Timna, tirará uma receita da Jordânia e criará uma nova tensão entre Amã e Tel Aviv.

À agência turca, o advogado internacional Enis Kasım disse que a objeção da Jordânia à abertura do aeroporto em 2019 não foi direcionada a Israel. Para ele, a postura da Jordânia se concentra apenas nos palestinos. Para Kasım, o custo de viajar pela Jordânia é três vezes maior para os palestinos do que pelo aeroporto de Timna, e que os interesses econômicos dos palestinos desempenham um papel aqui.

“A Jordânia tem uma opção muito simples pela frente. É facilitar o trânsito dos palestinos pelo portão da fronteira e reduzir seus custos. Apoiar a economia israelense não é do interesse dos palestinos. No entanto, eles naturalmente consideram seus próprios interesses recorrendo a custos mais baixos“, disse.

Impacto político

O presidente da Associação de Ciência Política da Jordânia, Halid Şenikat, também chamou a atenção para as dimensões políticas e econômicas da questão do Aeroporto de Timna. Afirmando que os palestinos que desejam viajar saindo de Israel, pois é mais barato e mais fácil de processar, Şenikat disse que politicamente, os palestinos que viajam deste aeroporto “indiretamente aceitam a ocupação”.

Piloto de combate, especialista em segurança e proteção da aviação, o analista militar Mamun Ebu Nevvar também afirmou que o Aeroporto de Timna fica próximo ao Aeroporto Rei Hussein.

“A abertura do Aeroporto de Timna impõe um fato consumado à Jordânia para coordenar com o lado israelense o pouso e decolagem de aeronaves no aeroporto. Existe a possibilidade de colisão de aviões pousando em dois aeroportos, especialmente em condições de mau tempo”, disse ele em relação à segurança dos voos.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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