Para trabalhadora do serviço aéreo da ONU, cada dia é uma nova emoção na vida

Imagem: WFP/Elie Rasho

Apesar de ter estado “em torno de aviões por tanto tempo” devido à sua história pessoal e familiar, Rasha admite que ela ainda “fica com o coração palpitando” cada vez que vê um avião decolar. “Nunca é comum estar aqui, cada dia é uma nova aventura”, disse ela, ao comentar sobre seu trabalho no serviço aéreo das Nações Unidas (ONU).

Tal mãe tal filha

No início do ano passado, Rasha se juntou à equipe UNHAS (United Nations Humanitarian Air Service) do Programa Mundial de Alimentos (PMA) como assistente de aviação no aeroporto de Qamishli, no nordeste da Síria. Antes disso, ela trabalhou na aviação comercial por sete anos.

A paixão da jovem por aeroportos remonta à infância. “Minha mãe serviu no mesmo aeroporto por 35 anos. Lembro-me nitidamente dela vestindo seu uniforme prateado com uma blusa branca e um lenço de seda marrom cuidadosamente amarrado no pescoço”, lembra ela.

Mas o que mais fascinou Rasha foi a devoção de sua mãe. “Qamishli não é um aeroporto luxuoso, pois carece de conforto e serviços de alimentação, então pode ser difícil perder seu voo e ter que passar a noite aqui. Minha mãe ajudava a todos que ela encontrava de forma incondicional e da melhor maneira que podia, e eu queria ser ela um dia”.

Imagem: WFP/Elie Rasho

Viagem mais rápida e segura

Ao longo dos anos de crise na Síria, as linhas de conflito mudaram drasticamente, tornando perigosas as estradas que ligam Damasco às duas províncias do norte, Qamishli e Aleppo.

Os céus se tornaram a maneira mais viável para funcionários da ONU e trabalhadores humanitários viajarem entre a capital e o norte do país.

E com as companhias aéreas domésticas ainda mais prejudicadas pela pandemia de COVID, o lançamento do UNHAS em 2020 na Síria proporcionou uma conexão crucial entre a equipe e as pessoas que atende, transformando uma viagem exaustiva de 16 horas em um voo de uma hora.

“Se não fosse pela UNHAS, a equipe humanitária teria enfrentado muitos desafios para acessar as famílias necessitadas”, disse Rasha.

Hoje, o UNHAS na Síria atende a 39 organizações humanitárias diferentes, não apenas agências da ONU.

Com as precauções da COVID-19 seguidas à risca, a linha aérea montada pelo serviço humanitário transporta uma média de 350 passageiros em seus voos entre Damasco, Aleppo e Qamishli.

As necessidades humanitárias em toda a Síria atingiram níveis sem precedentes no ano passado, tornando mais importante do que nunca para a equipe chegar de forma rápida e segura àqueles que precisam urgentemente de assistência.

Outros integrantes da equipe em Damasco – Imagem: WFP/Manal Alkalaji

Núcleo humanitário

No início, Rasha ficou muito impressionada com os altos padrões, disciplina e pontualidade da companhia aérea, mas então ela encontrou um significado mais profundo para isso.

“Um dia, meus passageiros estavam todos a bordo para um voo para Damasco e estávamos prestes a fechar o portão quando um homem de outra organização humanitária entrou correndo com sua filha que precisava de evacuação médica urgente para Damasco”, contou ela. Quando Rasha contatou a gerência da UNHAS, ela foi imediatamente aconselhada a atrasar o voo até que o homem finalizasse os documentos necessários.

“Meu supervisor me disse: ‘Nossa existência é para servir essas pessoas, para que nossos portões não se fechem diante deles.’ Foi nesse momento que percebi a essência humanitária do meu trabalho e isso me comoveu profundamente”, disse ela.

Unidos na entrega

Além de pessoas, a UNHAS também oferece assistência médica que salva vidas. Em 2021, por exemplo, a companhia aérea transportou equipamentos médicos essenciais, incluindo vacinas da COVID-19 e auxiliares de mobilidade para pessoas com deficiência.

“Foi graças ao UNHAS que funcionários da ONU em Qamishli e seus dependentes foram vacinados, pois as vacinas e a equipe médica especializada tiveram que ser transportadas desde Damasco”, disse Rasha com orgulho.

Com o início do inverno, ela sabe que seu trabalho será mais desafiador nos próximos meses, mas reconhece o impacto de seu trabalho a cada dia, pois os colegas e as famílias estão agora mais próximos do que nunca.

Informações da ONU

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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