Passageiros compram a mesma viagem em dois voos diferentes para driblar cancelamentos

Southwest: favorita entre aqueles que compram bilhetes de backup.

Em meio à crise que atinge a aviação os Estados Unidos e na Europa, uma prática bizarra tem sido adotada por alguns passageiros para diminuir as chances de sufoco no caso de cancelamento ou atraso: comprar passagens em voos simultâneos operados por companhias aéreas diferentes.

Foi o que fez  o norte-americano Scott Mayerowitz, editor do blog The Point’s Guy, em que contou sua história. Ao retornar para Nova Iorque do Caribe, onde passou férias com a esposa e a filha, Mayerowitz ficou preocupado porque não teria onde ficar no caso de cancelamento e a companhia não possuir uma solução disponível.

Scott tinha passagens comprada pela JetBlue, mas se assustou com a crise crescente que estava deixando muitos viajantes no chão.

“Como não confio que as companhias aéreas tenham um Plano B prontamente disponível nesta crise, criei meu próprio plano de backup e, com minhas milhas, reservei três passagens de reserva separadas no voo da Delta que sairia uma hora depois”, conta ele.

Risco e benefício

O jornalista preferiu torrar suas milhas a correr o risco de competir por reacomodação com todos os demais passageiros voo da JetBlue em caso de cancelamento. Ao final, Scott conseguiu voar com a companhia com que havia planejado inicialmente.

Viajante profissional, Joe Hegedus , também adotou os voos de reserva para evitar os transtornos de cancelamentos. Quando viaja a turismo com a esposa, o norte-americano recorre à prática, sobretudo, quando volta para casa de locais onde teria dificuldades de se hospedar numa situação crítica. “Para nossas necessidades, o melhor backup é o Southwest, porque a empresa tem uma das políticas de cancelamento mais generosas e também bilhetes-prêmio”, conta.

A Southwest permite o cancelamento de um voo até 10 minutos antes da partida. Se o voo tiver sido reservado por pontos de milhagem, todo o valor será reembolsado. Se a passagem foi comprada, a Southwest emite um voucher de voo válido por 1 ano a partir da data da compra.

Nem tão absurdo assim

Mayerowitz lembra que, durante a pandemia de COVID-19, muitas companhias flexibilizaram o processo de alteração e cancelamento de voos, o que facilitou a reserva dupla de passagens.

American, Delta e United eliminaram as taxas de alteração da maioria das passagens no final de 2020 e mantém a prática até o momento. A Southwest, gigante do baixo custo, nunca teve taxas de alteração. Se houver tempo hábil, também é possível cancelar a passagem a extra no caso de não utilização. 

Mas, como nos Estados Unidos não existe uma legislação que obrigue as companhias aéreas a arcarem com despesas de hospedagem e alimentação dos clientes em caso de atraso e cancelamento, muitas pessoas acham mais barato, em algumas situações, comprar um novo voo do que gastar com hotel e refeições. Caso o voo comprado não ocorra, o valor do bilhete também é reembolsado pela transportadora, o que estimula o procedimento.

Ética

Há um questionamento ético a respeito do assunto porque, embora as reservas possam ser canceladas até pouco antes do embarque em algumas companhias aéreas, isso pode impedir que outras pessoas adquiram aquele assento.

De acordo com Mayerowitz, se praticada em uma escala maior, esse tipo de estratégia pode prejudicar as equipes de gerenciamento de receita das companhias aéreas que planejam o cronograma de voos do próximo ano. Mas o jornalista ressalta que não parece haver muitas pessoas fazendo isso, já que nenhuma empresa, até agora, mostrou qualquer tipo de resistência a situação.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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