Piloto se distrai durante refeição na cabine e perde o controle de avião de passageiros

Foto: Masakatsu Ukon, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Um avião Airbus A330 da Sri Lankan Airlines perdeu altitude enquanto voava em cruzeiro com destino a Sydney, na Austrália, no dia 21 de março de 2021. Os pilotos nada reportaram de anormal após o pouso, mas uma investigação acabou sendo aberta mesmo assim. Agora, o relatório dos investigadores revela como um erro dos profissionais na cabine resultou em um incidente grave.

Aquele deveria ser um voo tranquilo, já que havia apenas nove passageiros e sete tripulantes a bordo, ainda num momento em que a pandemia estava em plena ascensão no mundo e as fronteiras fechadas. Mas não foi assim, como mostra o relatório final da Autoridade de Aviação do Sri Lanka. 

Após o primeiro segmento de voo UL-606, o comandante foi descansar na cabine de passageiros. O segundo homem na cabine se moveu para o assento da direita como piloto supervisor, e o primeiro oficial (copiloto) ocupou o assento da esquerda, assumindo o posto de piloto no comando, reportou o Flight Global.

A rota do voo diário UL-606 – Radarbox

A comida

Neste momento, o primeiro oficial recebeu uma refeição, entregue pela equipe de comissários, mas não entregou o controle da aeronave ao seu colega. Ao invés disso, sem perceber, tocou no sidestick, empurrando-o para frente e, como resultado, apontando o nariz do Airbus para baixo. O piloto automático desacoplou e um aviso disparou na cabine.

O relatório não explica exatamente como tudo aconteceu, mas diz que o A330 começou a descer a uma velocidade de 5.700 pés ou 1.740 metros por minuto. Ao perceber, o piloto do assento da direita reagiu com seus próprios comandos, puxando o sidestick, mas sem dizer que estava assumindo o controle da aeronave. 

Acontece que o piloto no assento da esquerda também reagiu e ambos os pilotos acabaram dando seus próprios comandos na aeronave, mantendo o piloto automático desacoplado. Quando os pilotos finalmente se entenderam quanto a quem estava no controle, o avião já tinha perdido 1.540 pés, ou 469 metros.

Escondendo o jogo

Apesar da pandemia e do tráfego aéreo reduzido em todo o globo, a perda de altitude do Airbus da Sri Lankan foi particularmente perigosa. Isso porque ele voava em espaço aéreo RVSM, que significa Mínimo de Separação Vertical Reduzida. Nesse espaço aéreo, a diferença de altitude entre os corredores de voo de diferentes aeronaves às vezes é de apenas 1.000 pés ou 305 metros e o uso do piloto automático é obrigatório.

Ao descerem indiscriminadamente, os pilotos entraram no corredor de aviões que voavam no sentido contrário e poderiam ter se metido em um conflito de tráfego potencialmente perigoso. Felizmente, não havia outra aeronave no sentido inverso.

Um dos pontos mais relevantes citados pelo investigadores foi que os pilotos não forneceram um relatório independente sobre o incidente após o voo. Com isso, a companhia aérea só percebeu o que havia acontecido analisando os dados do voo e, vendo a anomalia, denunciou à autoridade aeronáutica local para um investigação. Enquanto o trabalho dos investigadores acontecia, a tripulação foi colocada em suspensão e também a se submeter a um exame psicológico.

Por fim, no relatório final não houve críticas apenas aos pilotos, mas também à companhia aérea, que foi acusada de diversas falhas, como o treinamento da tripulação da cabine e as regras internas, que não estipulavam claramente que um piloto deve entregar o controle da aeronave durante as refeições.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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