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Pilotos do Embraer que quase não decolou põem a culpa no computador de bordo, mas há controvérsias

A decolagem que quase resultou num acidente na Sérvia teria sido calculada pelo tablet do copiloto, segundo os pilotos declaram na investigação inicial. No entanto, há muitas controvérsias nesta declaração. O documento preliminar de investigação do Centro de Pesquisa de Acidentes de Trânsito da República da Sérvia, órgão oficial responsável por investigação de incidentes e acidentes aéreos no país, foi emitido nesta semana.

O relatório mostra um sumário dos acontecimentos, confirmando a informação de que o controlador de voo do Aeroporto de Belgrado alertou aos pilotos de estarem iniciando a decolagem de um local inadequado.

Também é confirmado que os pilotos estavam cientes do alerta do controlador e que, mesmo assim, quiseram prosseguir. A investigação revela que a tripulação alegou que inseriu os dados no programa ePERF, e que ele retornou que seria possível decolar.

O ePERF é um aplicativo para iPad desenvolvido pela Embraer, e utilizado por maioria dos operadores dos E-Jets. Nele, é possível inserir informações e obter resultados sobre cálculos de decolagem e pouso, além de contar com acesso às cartas (mapas) de voo, que são interativas e integradas com o GPS.

Os pilotos também informaram aos investigadores que ouviram um barulho alto logo após saírem do chão, seguido de vários alertas na cabine, principalmente de problemas nos flapes e na bleed, que é o sistema de pressurização que usa de parte do ar ingerido pelo motor antes da combustão.

A torre também notou que o E195-E1 deixou um rastro de poeira após sair do chão. Os pilotos decidiram declarar emergência e pousaram com uma velocidade acima do ideal já que os flapes não puderam ser estendidos completamente dados os danos na aeronave.

A investigação analisou a área após o fim da pista, onde fica o sistema de pouso por instrumento (ILS) da cabeceira oposta à de decolagem. Lá foram encontrados ao menos 3 fileiras de postes de iluminação danificadas, além de um buraco de 60 centímetros no chão com partes da fuselagem do E195.

Na aeronave foi detectado um buraco de 90 centímetros de comprimento, além dos danos já conhecidos na fuselagem, trem de pouso principal, asa esquerda e estabilizador horizontal esquerdo.

Como causa provável mas que ainda será confirmada no Relatório Final, a investigação apontou que foi feita “uma avaliação inadequada dos parâmetros de decolagem pela tripulação de voo, resultando numa decisão de decolar numa distância menor que a inicialmente planejada”.

Controvérsias

Pilotos da região notaram que na versão do ePERF deles, não existe a opção de cálculo para decolagem da pista 30L pela interseção D5, e sim pela D6 ou outros pontos onde a distância é maior. Logo, os pilotos da Marathon Airlines, que faziam o voo para a Air Serbia inseriram dados errados ou se confundiram na escolha do ponto de início de decolagem.

Mas vale destacar que foram os pilotos que informaram a distância de 1.273 metros disponível para decolagem, dando a entender que de alguma maneira eles sabiam qual era o comprimento da pista a partir daquele ponto até o final.

O AEROIN conversou com pilotos do Embraer E195 que voam fora e dentro do Brasil, além de pessoal técnico que atua diariamente com a aeronave, e todos relataram que não é possível afirmar isto no momento, já que existem banco de dados diferentes que alimentam o ePERF, que ficam à critério da companhia, que também pode colocar limitações no aplicativo seguindo o seu SOP – Manual de Operações Padrões – que é aprovado pela agência reguladora respecitva.

De qualquer maneira, o aplicativo registra os cálculos feitos, e se os pilotos realmente utilizaram ele, estará salvo no iPad a hora e os resultados feitos antes da decolagem. O relatório preliminar, em sérvio, está disponível na íntegra neste link.

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