Ponte de embarque passando sobre as asas do avião: por que a moda não pegou?

Uma dúvida constante na aviação e muito escutada por quem trabalha no aeroporto é: por que não colocam uma ponte na porta traseira da aeronave para ficar mais rápido o embarque e o desembarque?

Avião acoplado à ponte-dupla em Denver – Foto USA Today

Para facilitar as explicações, vamos nos referir à ponte de embarque por seu apelido em inglês “finger“, que significa dedo. Esse apelido foi dado pela comparação do terminal com uma mão e seus dedos alcançando diversos pontos – as aeronaves, no caso. E estes dedos são flexíveis, o que permite acoplar um pequeno Embraer E175 num momento e, minutos depois, um gigante Boeing 747.

Ponte como padrão mundial

O motivo para os fingers serem um padrão adotado praticamente em todo o mundo é o seu conforto e agilidade. Os passageiros e funcionários não enfrentam chuva, neve ou sol, quem tem mobilidade reduzida vê menos dificuldades numa rampa do que numa escada, e por aí vai, além de prover um serviço rápido para que as empresas rapidamente preparem a aeronave para o próximo voo.

Apesar de nós estarmos acostumados com filas em vários tipos de serviço, é normal reclamar ou ouvir outra pessoa reclamando que o embarque está muito lento, que a fila para entrar no avião não anda, que o passageiro da frente demora demais para se acomodar, e assim por diante. O mesmo se aplica para a hora da saída do avião.

Então, para os mais apressados, as empresas aéreas começaram a oferecer um novo “serviço”, e aplicar uma taxa extra para assentos localizados mais à frente. Mas, se os aviões têm duas (ou mais) portas, por que simplesmente não colocam um finger a mais para atendê-lo e agilizar as coisas?

Quanto mais simples, melhor

ponte
Boeing 747 da KLM com o finger traseiro acoplado em Amsterdã © AskThePilot

Pois bem, pontes de embarque duplas existem em alguns aeroportos ao redor do mundo, mas ambas se acoplam a grandes aeronaves e sempre pela frente da aeronave. Por outro lado, é raríssimo encontrar uma que passe por sobre a asa do avião e se ligue à porta traseira.

Essa ideia já foi utilizada por bastante tempo no passado, mas hoje se limita ao Aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, na Holanda. O motivo para o sistema cair em desuso é o que você está pensando: além de complexo, é caro e não compensa o risco.

Com o crescimento incrível da aviação ao longo das últimas décadas, os aeroportos foram ficando pequenos e o espaço que se ocupa para manter esse tipo de finger extra não tornava o projeto viável.

Outro problema-chave é a estrutura por trás da plataforma. Afinal, se a distância do finger para sua base for muito grande, ele pode requerer reforços estruturais, que acabam mais complicando a operação do que facilitando.

Um exemplo claro é Amsterdã. Veja na foto acima o tamanho da estrutura extra para poder segurar a extremidade do finger, que passa sobre as asas de aviões como Boeing 747 e 777, diariamente.

E, mesmos nos aviões mais baixos e menores como o 757 e o Airbus A320, onde a operação seria menos complexa (em teoria), acontecem problemas: em 2007 um finger traseiro caiu e acabou atingindo a asa de um Boeing 757 da United, em Denver. Felizmente, ninguém ficou ferido, mas a aeronave ficou parada por um tempo considerável até retirarem o finger e a equipe de manutenção avaliar o dano causado.

Desde então, o aeroporto não usa mais estas pontes para embarque na porta traseira. O único aeroporto americano que se tem notícia que ainda faz uso (e limitado) do finger traseiro é o de Albany, no estado de Nova Iorque.

Outro ponto além dos problemas técnicos é o ganho operacional de uma ponte dupla desse modelo. Normalmente, a porta traseira é utilizada para entrada da equipe de limpeza da aeronave e também de refeições. Utilizá-la para o embarque e desembarque de passageiros atrapalharia um pouco esse processo.

Além disso, o ganho de tempo ao utilizar a porta traseira é mínimo. A maioria dos passageiros ainda tende a sair pela frente, seja por um hábito de voar de avião ou mesmo de ônibus. Estudos mostram uma redução de menos de cinco minutos no desembarque um avião do porte do A320, o que é muito marginal para um investimento alto, isso descontando o tempo que levaria para acoplar a ponte traseira.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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