Por que a Força Aérea Brasileira quer jatos Airbus A330 de meio bilhão de reais cada?

Após anos, a Força Aérea Brasileira parece estar mais próxima do que nunca de substituir o Boeing 707, mas por que motivo ela quer o Airbus A330?

Divulgação – FAB

Esta tem sido uma pergunta frequente de nossos leitores desde que o projeto KC-X3, que visa substituir o KC-137 (o Boeing 707 ex-Varig adaptado para reabastecimento em voo e transporte estratégico), foi criado.

Aposentado em 2013, o Boeing 707 cumpria um papel importante na FAB, fazendo o transporte rápido entre cidades, levando militares, apoiando na evacuação aeromédica de grande escala, cargas em geral ou na sua missão principal, que é o reabastecimento em voo.

Uma parte dessa lacuna deixada pelo 707 foi preenchida pelo KC-390, mas, como veremos, ainda está distante da categoria de aviões estratégicos de transporte que a FAB precisa.

Imagem: Força Aérea Brasileira

Objetivos diferentes

Atualmente, países como os EUA, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Austrália e outros utilizam o “combo” de aviões cargueiros militares dedicados e jato estratégicos. Para dar um exemplo, uma parte destes países utiliza o mix de aviões Airbus A330 ou Boeing 767 combinados com cargueiros Hércules (o qual o Embraer KC-390 sempre visou substituir).

Como se observa, são categorias diferentes de aeronaves.

Dando especial foco ao A330 MRTT, ele consegue levar 37 toneladas de carga apenas no porão, ou 8 pallets militares, já o KC-390 leva 26 toneladas e 7 pallets. Para evacuação aeromédica, o Airbus leva 130 macas, enquanto o brasileiro apenas 74. Em termos de alcance, também fica clara a diferença de tamanho das máquinas: o jato brasileiro voa até 6.200 quilômetros se estiver vazio, já o europeu alcança mais de 14 mil quilômetros.

C-130 Hércules, Airbus A330 e Boeing C-17 © Paul Crouch – RAF Brize Norton

Outro ponto é que o KC tem que colocar tanques no porão de carga para poder realizar reabastecimento em voo, enquanto o A330 pode utilizar dos próprios tanques internos para a missão.

Pode parecer que o avião brasileiro é pior, mas não é certo dizer isso, ele é apenas de uma categoria diferente, como dito acima. Como um avião militar puro, o KC-390 consegue operar em pistas de terra, algo impensável para o A330, que também não pode ser utilizado para lançar paraquedistas ou carregar um blindado sobre rodas.

Assim sendo, para um país continental como o Brasil, existe a necessidade da Força Aérea operar um mix de aeronaves. Um A330 teria feito a diferença durante a pandemia, sobretudo diante da crise de falta de oxigênio no Amazonas, onde a FAB ajudou muito, mas não como queria ou deveria.

Os A330 disponíveis no mercado

A licitação da FAB é muito clara: serão duas aeronaves A330-200, ano 2014 ou superior, civis, porém aptas a serem convertidas para a função militar nas instalações da própria Airbus na Espanha.

Uma rápida pesquisa no MyAirTrade, principal site de anúncios de aviões comerciais de grande porte, mostra apenas um A330-200 disponível nestas condições, embora isso não signifique que seja o único do mundo. É apenas um jato listado, que usamos para servir de exemplo na análise. No caso se trata de um A330-200 que foi da árabe Etihad Airways, dos Emirados Árabes Unidos, e que está estocado em Teruel, na Espanha.

Um dos A330 disponíveis saindo de fábrica em 2014 © Clément Alloing

Achar um jato deste, que não esteja disponível apenas para leasing (aluguel) não é uma tarefa fácil. Uma busca em outros sites retornou poucas opções. Apenas um deles estava com preço informado, mas não falava o número de série, não podendo ser possível rastrear a sua origem.

Nesse caso, o site GlobalAir aponta seu preço: $109 milhões de dólares americanos, que convertido com a cotação atual dá atualmente R$589 milhões de reais. Este valor não contempla a conversão para o modelo MRTT, que inclui a instalação de sondas de reabastecimento, porta de carga e outros detalhes.

A FAB está recebendo propostas até março e qualquer companhia aérea, lessor ou dono de A330 pode enviar a sua proposta, que pode inclusive incluir aviões novos.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

Veja outras histórias