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Por que a GOL vai trocar a empresa que audita suas finanças?

Avião Boeing 737-800 Gol

A GOL Linhas Aéreas Inteligentes enviou um comunicado às Comissões de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) e do Brasil em 23 de julho, assinado pelo Diretor de Relações Institucionais Richard Lark, no qual informa ao mercado que terminou o contrato com a KPMG Auditores Independentes. Em seu lugar, a empresa aérea contratou a EY e a Grant Thornton.

A substituição, segundo ambas as empresas, se deve a motivos comerciais e não tem nenhuma relação com os resultados das auditorias contábeis conduzidas pela KPMG ou qualquer desavença relacionada com a condução dos trabalhos.

No mês passado, havíamos feito uma matéria relacionada ao tema, onde colocamos nosso contraponto a algumas matérias alarmistas publicadas por outros veículos, dando conta de que os auditores estariam se preparando para dizer que a GOL teria sérios problemas de caixa.

Sem ressalvas contábeis

O relatório de auditoria da KPMG de 29 de junho de 2020 foi anexado às demonstrações financeiras consolidadas da GOL referentes ao período findo em 31 de dezembro de 2019. Nesse relatório, a KPMG não emitiu nenhuma opinião adversa ou isenção de opinião quanto aos princípios de contabilidade. No entanto, havia um parágrafo separado, declarando assim:

“A companhia (GOL) possui um capital de giro líquido negativo e uma deficiência de liquidez que levanta dúvidas sobre sua capacidade de continuar saudável. Os planos da Administração com relação a essas questões estão descritos na Nota 37. As demonstrações financeiras consolidadas não incluem nenhum ajuste que possa resultar dessa incerteza”. 

Em outras palavras, a empresa de auditoria vê conformidade com os padrões contábeis internacionalmente aceitos e sua dúvida sobre a liquidez da empresa está endereçada pela gestão através de planos de ação e, por conta disso, não há ressalvas adicionais.

Isso confirma, de fato, que não havia necessidade de alarmismo naquele momento e referente ao exercício de 2019, quando não havia pandemia (importante ter isso em conta).

Mas há ressalvas nos controles

Em nossa matéria de 17 de junho, falamos comentávamos sobre nossa expectativa de que a KPMG emitisse alguma nota relacionada com o ambiente de controles internos da GOL, o que se confirmou.

Consta na nota registrada na SEC que “a KPMG indica certas deficiências materiais nos controles internos da companhia sobre os relatórios financeiros relacionados a controles gerais de tecnologia da informação, determinadas autorizações e funções administrativas concedidas ao presidente do conselho de administração e políticas e procedimentos ineficazes relacionados à preparação e revisão das demonstrações financeiras consolidadas. O comitê de auditoria da companhia discutiu os pontos fracos relevantes com a KPMG e a companhia autorizou a KPMG a responder totalmente às perguntas da empresa de contabilidade pública registrada, sucessora e independente”.

Embora não haja ressalvas contábeis, deficiências materiais de controles internos podem resultar em problemas igualmente relevantes para uma empresa do tamanho da GOL. Esses problemas podem ir desde fraudes internas e externas, até vazamento de informações, caso os controles de TI não estejam funcionando adequadamente.

Não foram dados detalhes sobre quais são essas deficiências encontradas pela KPMG.

Em resumo

Tudo isso significa que a GOL possui uma contabilidade adequada, mas controles internos deficientes. Apesar de ser um problema para a gestão resolver, esse cenário é extremamente comum nas grandes empresas, que “lutam” constantemente para melhoras seus controles internos.

A troca de empresa de auditoria também é comum no mercado. A EY, outra “Big 4”, que assume no lugar da KPMG, já foi a empresa de auditoria da GOL por muitos anos e pode ter oferecido uma proposta comercial mais atraente. Considere que os serviços das “Big 4” custam alguns milhões de reais.

Para constar: “Big 4” é como as quatro grandes empresas de auditoria do mundo são conhecidas: KPMG, EY, PWC e Deloitte.

Por fim, como a GOL é uma empresa de capital aberto e a KPMG uma respeitada empresa de auditoria, e ambas confirmam que a troca ocorreu por questões comerciais, é extremamente remota a chance do distrato ter-se dado por outra razão.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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