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Por que a Porter trocou os jatos ‘da casa’ e fez o maior pedido do Embraer E2 até aqui?

ANÁLISE – Uma grande notícia fez barulho no mercado da aviação nessa semana: a canadense Porter Airlines dispensou os aviões “nacionais” e optou pelo brasileiro Embraer E2.

Divulgação: Embraer

A encomenda, que totaliza 80 jatos E195-E2, sendo 30 deles pedidos firmes, é maior que a da Azul, cliente de longa data da Embraer e que tem 75 jatos E2 na carteira, dentre pedidos firmes e opções de compra (assim como a Porter).

A surpresa maior vem do fato de que a encomenda foi feita por uma empresa canadense e que historicamente só operou com aviões regionais produzidos em seu país pela Bombardier, de longe a maior concorrente da fabricante brasileira.

Até hoje, apenas a Air Canada, através da subsidiária regional Air Canada Express / Jazz operou jatos brasileiros registrados no Canadá, mas em quantidade bem menor do que os jatos CRJ da Bombardier.

Pondo em contexto

Uma das maiores disputas entre as fabricantes Embraer e Bombardier aconteceu no segmento de jatos com até 76 assentos, para os quais aplica-se a famosa “Scope Clause” (Cláusula de Escopo) dos sindicatos de pilotos da América do Norte.

A Cláusula de Escopo limita o tamanho dos aviões das empresas regionais, que operam de maneira terceirizada (e mais barata), voos para as grandes companhias e seu objetivo é evitar que os empregos dos pilotos sindicalizados de grandes companhias aéreas sejam terceirizados.

Divulgação – Bombardier

Acontece que a situação na Porter é um pouco diferente. Por ser uma empresa regional independente, sem afiliações com a Air Canada ou com a WestJet, que são os “big players” do seu país, ela não fica vinculada às amarras sindicais e pode operar aviões maiores.

Por conta disso, a empresa foi a primeira a encomendar o CS100, configurado para 107 assentos, num acordo fechado em 2012 que previa 30 aeronaves entre pedidos firmes e opções de compra. Mas a ideia logo se mostrou infrutífera.

Um pequeno aeroporto no caminho

A Porter colocou uma condição à Bombardier, à época, que era bem peculiar: o jato deveria operar no Aeroporto Billy Bishop em Toronto. O que de início parecia mais uma restrição operacional, na verdade tem um forte componente político-ambiental.

O Aeroporto Bishop fica numa ilha bem ao lado do centro da maior cidade canadense, o seu acesso é exclusivo por um túnel ou por barco. Apesar da bela vista em torno do aeroporto, ele é restrito, já que sua maior pista tem apenas 1.216 metros de comprimento.

E explorando esta pequena pista, a Porter cresceu utilizando exclusivamente turboélices Dash-8, feitos pela de Havilland Canada. Mas o aeroporto foi ficando pequeno para a demanda crescente dos passageiros que optavam pela comodidade de saírem do centro da cidade ao invés de irem até o grande Aeroporto Internacional Pearson, que fica a 25 km do centro.

Foi pensando em aumentar a capacidade que a Porter encomendou o CS100 e a Bombardier afirmava que o jato iria operar lá sem grandes problemas. Mas isto não aconteceu. O principal motivo por trás da frustração quanto ao jato fabricado no Canadá deveu-se à resistência do Conselho da Cidade e os vizinhos do aeroporto, que não queriam ver o aumento de voos e nem ter aviões “tão grandes”, que teoricamente causariam mais ruídos, trânsito e congestionamento.

A Porter e a Bombardier rebateram a ideia, até porque os motores PW1000G, que também equipam o Embraer E2, são mais silenciosos que os dos turboélices. Mas os cidadãos de Toronto não se convenceram e a restrição aos jatos continuou, fazendo com que a encomenda fosse cancelada.

Caçando como gato

No final, esse contexto contribuiu em prol da Embraer. Anos depois, a Porter começou a analisar outras opções para continuar seu crescimento, e mudou sua estratégia, deixando de ter uma operação exclusiva do Bishop e voando também a partir do Pearson.

Uma nova cotação no mercado levou ao ganho da concorrência pela fabricante brasileira ante a indústria local, especialmente o A220 – que é o novo nome dado pela Airbus ao antigo C-Series, após a compra dessa linha pelos europeus. Bom para a Embraer!

Segundo a Porter divulgou numa nova página especial, serão vários os destinos futuros do E2, abrindo um grande leque. A maioria deles está nos EUA, mas também incluem Nassau, nas Bahamas, e boa parte do oeste canadense. Na verdade, a maioria das rotas está a oeste do Rio Mississippi, bem distante dos destinos atuais da empresa, mostrando que o jato brasileiro será um verdadeiro game changer da Porter, que agora concorrerá diretamente com a Air Canada e WestJet.

Acima de tudo, a mudança de negócios mostra que a pandemia trouxe caos à aviação mas também criou oportunidades, e a Embraer soube ocupar seu espaço a fim de convencer que o jato brasileiro era a melhor compra.

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