Início Aeroportos

Por que fechar aeroportos não é a solução para combater o Coronavírus

OPINIÃO
Nos últimos dias temos visto diversos políticos pedindo fechamento total de aeroportos como forma de contenção da disseminação do novo Coronavírus, mas esta medida pode não apenas não ajudar como também atrapalhar o combante à pandemia da Covid-19.

aeroportos
© ICAO

O primeiro político a anunciar isso no Brasil foi o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). O político anunciou que os aeroportos seriam fechados, mesmo ele não tendo autoridade para isso.

No Brasil, assim como nos EUA e na maioria dos países, a autoridade para regular a aviação é estritamente do Governo Federal (União). No máximo, o Governador poderia fechar um aeroporto se fosse propriedade do estado, por aí sim ser operador do mesmo, ou se fosse um aeroporto não público, que não é o caso.

Porém, vamos supor que esta medida fosse seguida, seja por meios legais com o aval do Presidente Bolsonaro, seja por meios tiranos – vide o caso do Equador, em que a prefeita Cynthia de Guayaquil fechou o aeroporto local para um voo humanitário e está sendo acusada de interferência ilícita contra a aviação.

Citando o caso concreto do Rio de Janeiro, a situação do estado, que não é boa há tempos, seria ainda pior. Ao fechar os aeroportos, a medida impactaria diretamente a produção da Petrobrás, que já sofre uma perda no mercado devido à guerra de comércio do insumo entre sauditas e russos.

Sem os voos de helicoptéros na Bacia de Campos, que partem principalmente de Jacarepágua e Cabo Frio (e que hoje operam em sua normalidade), a produção de petróleo seria reduzida, se não interrompida.

Sem voos não existem testes

© Fiocruz – Rogério Reis

Não bastasse a crise que a queda da produção da Petrobrás na Bacia de Campos, iríamos perder toda a cadeia logística expressa que os laboratórios usam no país.

O maior exemplo é a Fiocruz, que está liderando a produção e o processamento de testes de Covid-19 no país. Na última semana, o Governo Federal contratou a fundação para produzir 3 milhões de testes, e pretende dobrar esse número na próxima semana.

O Aeroporto do Santos Dumont, o principal do estado e que foi citado como exceção por alguns políticos, não recebe voos de cargueiros. E no Galeão, voos cargueiros regulares só ocorrem para Salvador, Viracopos (Campinas) e Vitória.

A maioria das cargas no estado sai e entra por aviões de passageiros, sendo levadas nos porões das aeronaves comerciais.

Não bastasse isso, o reagente para a realização do teste de Covid-19 é importado. Sem aeroportos, com divisas fechadas e sem voos cargueiros internacionais, como este insumo chegaria à Fiocruz?

O mesmo se repetiria em Minas Gerais, onde o Laboratório Hermes Pardini, o maior da América Latina em exames laboratoriais, tem sua sede. Se fecham os aeroportos, os exames não saem e nem chegam.

Aeroportos enriquecem cidades

Aeroporto de Viracopos em Campinas © Divulgação

Outro político que sugeriu o fechamento de aeroportos foi o prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB-SP), que pediu à presidência a parada do Aeroporto de Viracopos.

Esta medida afetaria em cheio a Azul, que adotou o aeroporto de Viracopos como sua base quando foi criada em 2008. A escolha se deu exatamente pelo então Governador Sérgio Cabral do Rio de Janeiro exigir vantagens ilícitas para apoiar o hub da companhia na cidade carioca.

Logo, Campinas foi beneficiada, e o aeroporto – que já era o maior em número de cargas no país e hub dos cargueiros internacionais – se tornou rapidamente o sexto mais movimentado do país, contando com mais destinos domésticos diretos que os concorrentes Guarulhos e Congonhas.

Isso se refletiu no PIB da cidade: desde a criação da Azul até 2017, o indicador de riqueza subiu 95% segundo dados da SEADE-SP, muito acima da média nacional de 17% no mesmo período segundo o Banco Mundial.

Fechar um gerador de riqueza desse tamanho traria um prejuízo ainda maior para a região que, assim como todo o Brasil, já sofre com a crise.

Nenhum dos países que têm apresentado os melhores controles de casos da Covid-19 fechou seus aeroportos para voos internacionais ou domésticos: Alemanha, Cingapura, Japão, Israel e Austrália.

Diversos políticos têm se aproveitado desta crise para se promoverem, o que é triste, mas não surpreendente vindo do Brasil. Mas será ainda mais complicado se reeleger com uma crise econômica e de saúde maior causada pelos fechamentos dos aeroportos. Fica aqui o alerta sobre estas ações populistas sem embasamento técnico algum.

Sair da versão mobile