Por que o jatinho de Luciano Huck foi usado para levar Lula e gerou toda essa polêmica?

Jatinho
Lula desembarca em SP

No dia de ontem, 9 de novembro, o Brasil foi testemunha de mais uma polêmica envolvendo aviação e imprensa. Tudo começou quando a última ficou assanhada ao ver o ex-presidente e ex-detento Luís Inácio Lula da Silva desembarcar em São Paulo a bordo de um jatinho executivo com a óbvia matrícula PP-HUC. Não precisou nem de meia hora do desembarque para que as primeiras notícias viessem ao ar sob a epígrafe “jatinho de Luciano Huck levou Lula a São Paulo”.

Se fosse para apostar, eu apostaria que, nesse momento, nem o próprio Luciano Huck fazia a menor ideia de que o jato que ele usa estava envolvido em tamanha polêmica. Ele devia estar com sua família, curtindo, quem sabe até vendo seu programa na TV. Embora eu gostaria de ter visto a reação do apresentador quando descobriu.

Deve ter sido uma surpresa tão grande que a resposta veio na velocidade do jato: “Não tenho qualquer influência para quem ela é fretada. A aeronave faz parte da frota da Icon Taxi aéreo e por meio da empresa foi contratada para o voo pois estava disponível na data solicitada. A agenda de locação das aeronaves é de responsabilidade da Icon Taxi Aéreo”, declarou Huck através de sua assessoria de imprensa.

E não foi suficiente, ele ainda fez um post no Instagram, onde diz que é sócio da Icon Aviation e quando não está usando o jato, ele pode ser alugado a outros demandantes interessados:

Jatinho da discórdia

Nesse momento, militantes destros e canhotos se armavam nas redes sociais e atiravam para todos os lados, maiormente guiados pela manchetes sem conteúdo e sem a voz da outra parte. Outros, aproveitavam o ensejo para julgar irregular o fato de o jato, um Embraer Phenom 300, ter sido adquirido por R$ 17 milhões em recursos do BNDES, ainda que não haja nenhuma irregularidade comprovada até o presente momento, embora a regra de liberação de recursos do BNDES precise ser revista (e será). Parece um vale-tudo em prol da bagunça.

Eu gosto do “véio da Havan” enquanto empresário, por seu estilo carismático e sua energia para tocar seus negócios. Mas penso que ele aproveitou-se do momento para capitalizar politicamente, dando uma bola fora pelo Twitter.

Em resumo

Num mundo normal, tal evento não deveria levantar polêmica, afinal se refere a uma negociação comercial entre um demandante de um voo privado e um ofertante do jato executivo.

Sem sombra de dúvidas, Luciano Huck não gostaria de ver seu nome associado a uma pessoa pública que acabou de sair da cadeia para responder em liberdade, já que isso seria péssimo para a imagem dele num momento de polarização. Se ele estivesse interessado em alinhar-se politicamente ao cara, certamente seria de outras formas.

pp-huc
Jato de Huck – Foto via Flickr

Por outro lado, essa polarização faz com que cada pequena ação tenha que ser coordenada e alinhada mil vezes. E, não querendo transferir a culpa, por que eu honestamente acho que, do ponto de vista comercial, a Icon Aviation fez certo ao alocar o melhor avião à disposição para atender à demanda, mas será que ninguém percebeu o caos reputacional que isso poderia causar?

No fim, foi uma polêmica gerada pela necessidade de criar argumentos para sabe-se lá o que, onde só quem perde é o Brasil.

* esse texto reflete as opiniões do seu autor.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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