Por que o luxuoso A340 de Gaddafi está numa pequena cidade do sul da França?

O governante líbio Muammar al-Gaddafi possuía um luxuoso Airbus A340. Hoje o jato está em Perpignan – com uma conta alta não paga e vários mistérios cercando-o.

5A-ONE Airbus A340-213 Lybian Government cn 151

O aeroporto regional de Perpignan-Rivesaltes, no sul dos Pireneus Orientais franceses,recebe um hóspede de destaque há anos: o Airbus A340-200, que o falecido governante líbio Muammar al-Gaddafi já usou como seu “Air Force One”. Mas como o avião chegou ao sul da França? E por que ainda está lá?

Em 2011, durante a guerra civil da Líbia, os rebeldes assumiram o controle do avião e o usaram como uma vitrine de sua conquista, tendo publicado fotos, por exemplo, ao lado da grande cama que tem um espelho como cabeceira. Depois que Gaddafi foi morto e um governo de transição chegou ao poder, eles enviaram o jato de luxo, em 2012 para Perpignan, pelo menos para reparo e manutenção. Naquele momento, também se falou em desmontar para que suas peças servissem para reposição de outros aviões.

Foto de Jean-Guy Aldegon

Voando com buracos de bala

O avião chegou à França danificado, com vários buracos de bala. Assim, o A340 foi preparado de acordo com a mídia francesa, inclusive com a ajuda da Air France para a viagem e finalmente transferido. Os pilotos voaram o jato a apenas cerca de um terço da altitude de cruzeiro habitual e deixaram o trem de pouso baixado durante o todo o voo.

Chegando em Perpignan, a empresa de manutenção EAS reparou o avião como parceiro da Air France e o repintou. Ninguém pagou a conta no valor de milhões de dólares até hoje. Já em 2015, um grupo do Kuwait tentou apreender o avião para cobrar dívidas acumuladas pelo regime de Gaddafi, mas um tribunal francês recusou.

Proprietários anteriores de celebridades

Hoje a aeronave com registro 5A-ONE tem quase 23 anos. A Airbus havia originalmente entregue o A340-200 em outubro de 1996 ao irmão do sultão de Brunei. Mas, como isso foi considerado uso incorreto de dinheiro, e o governante local retirou o parente do cargo e vendeu o avião ao príncipe Al-Waleed bin Talal, da Arábia Saudita. Por sua vez, a aeronave foi vendida com lucro para Muammar al-Gaddafi.

O governante líbio mandou pintar o Airbus nas cores usuais da companhia estatal Afriqiyah Airways, mas por dentro ele foi montado como um luxuoso jato particular. Em 2009, ele enviou o avião a Glasgow para buscar o agente de inteligência da Líbia, terminalmente doente, e conhecido como o assassino de Lockerbie, Abdelbaset Al Megrahi.

Última rota do A340, de Tripoli para Perpignan

O que acontecerá com o A340?

Cheio de dívidas e sem perspectiva de um governo estável na Líbia, o avião terá um dos dois destinos: ou vai ficar anos parado até se tornar inútil ou então será leiloado. Pelo andar da carruagem, a primeira opção é a opção mais provável, nesse momento.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

Veja outras histórias