Um herói pouco lembrado da história da aviação é um norte-americano que, aos 46 anos, ajudou a mudar os rumos do transporte aéreo mundial, mas, infelizmente, não por um bom motivo. Thomas Selfridge foi a primeira pessoa a morrer em um acidente de avião motorizado.
Thomas Etholen Selfridge, nasceu na cidade de São Francisco, Califórnia, em 8 de fevereiro de 1882. Em 1903, formou-se como cadete na Academia Militar dos Estados Unidos de West Point (USMA, na sigla em inglês). Na carreira militar, esteve presente em momentos importantes dos primeiros equipamentos aéreos que surgiam no seu país.
Selfridge, por exemplo, foi piloto de testes quando Alexander Graham Bell (já famoso pela invenção do telefone) testou a sua pipa tetraédrica. Em dezembro de 1907, pouco mais de um ano depois do voo do 14-Bis, de Santos Dumont, o cientista propôs um equipamento voador mais pesado que o ar feito de uma estrutura de painéis aerodinamicamente estável. O militar norte-americano foi fixado no aeroplano e voou por sete minutos a uma altura superior a 50 metros, segundo registros da época.
Pioneirismo
O experimento foi feito no Canadá e entrou para história daquele país como o primeiro voo tripulado registrado nos ares canadenses. Graham Bell liderava um grupo de estudiosos aficionados por experimentos aéreos, chamado Aerial Experiment Association. Com o apoio desses cientistas, Thomas Selfridge projetou o Red Wing , um biplano planador para um piloto.
No ano seguinte, outro marco importante. Frederick Walker Baldwin, o primeiro homem a voar em uma aeronave motorizada no Canadá, além de amigo de Bell e Selfridge, convidou o militar a pilotar seu avião. O avião voou por mais de 100 metros e chegou a 30 metros de altura.
A fama e a coragem de Selfridge de se voluntariar a testar voos na pré-infância da aviação, levou-o a se envolver com outros pioneiros dos ares.
Os irmãos Orville e Wilbur Wright já testavam vários modelos de aviões motorizados em 1908. Naquele ano, o Exército dos Estados Unidos estava estudando os aviões fabricados pelos dois irmãos e o “experiente” piloto foi designado para testar os equipamentos.
Wright Flyer III
A aeronave Wright Flyer III era a sensação do momento. Os irmãos passaram os últimos três anos aprimorando a sua máquina mais eficaz. O avião, um biplano que decolava com a ajuda de uma catapulta, já tinha feito diversas demonstrações de voo e até levando voluntários como passageiros.
Em 17 de setembro de 1908, Wilbur e Orville Wright chegaram a Fort Myer, no estado da Virginia, para exibir, mais uma vez, todo o potencial de seu invento. Orville Wright realizou dois voos de demonstração com diferentes passageiros do Exército, e ambos os voos foram bem-sucedidos. O tenente Thomas Selfridge era passageiro no terceiro voo do dia.
Diante de uma plateia estimada em 2 mil pessoas, Orville Wright levantou voo com Selfridge ao seu lado. A principio, tudo correu bem, com a aeronave circulando a multidão a uma altura de 45 metros do solo. Infelizmente, uma pane no motor e um movimento errado no controle de nivelamento derrubou o Wright Flyer III violentamente. Orville Wright teve uma perna e várias costelas quebradas e só deixou o hospital depois de sete semanas.
Thomas Selfridge, por sua vez, não teve a mesma sorte. Ele sofreu uma fratura no crânio e morreu no hospital, tornando-se a primeira pessoa a morrer em um acidente de avião.
Novos rumos
Com a tragédia, os irmãos passaram a pesquisar novos meios para reforçar a segurança das suas aeronaves. Eles descobriram um desgaste na hélice do avião, o que causou a pane e o acidente. Foi o último voo do Wright Flyer III. Os irmãos optaram por não consertar a aeronave, que depois de abandonada em um hangar, acabou em um museu.
A morte trágica de Selfridge provocou forte comoção e lançou um novo olhar para a aviação. A partir dali, a segurança passou a caminhar junto com o desenvolvimento tecnológico.
O espetáculo deu lugar a uma ciência com objetivos mais sérios, o que permitiu, já nos anos seguintes, o desenvolvimento de aviões mais operacionais, que passaram a ser usados por forças militares e, pouco depois, no transporte civil. Como muitas vezes acontece, a tragédia foi mais revolucionária que o sucesso.