Um acidente fatal em um voo particular nos EUA não foi causado por turbulência, mas sim por problemas técnicos no estabilizador da aeronave.

O acidente com um jatinho executivo Bombardier Challenger 300 ocorreu no dia 3 de março e um passageiro morreu após uma abrupta turbulência, como foi relatado anteriormente em outra publicação aqui. De início, o acidente foi tratado como uma turbulência severa e repentina, mas a NTSB, órgão responsável por investigação de acidentes nos transportes dos EUA, iniciou a investigação que apontou para outra causa.
Segundo o relatório preliminar, divulgado hoje, o voo era entre Keene, em New Hampshire, e Leesburg, na Virgínia, mas acabou sendo desviado para Windsor Locks, no estado de Connecticut. Os dois pilotos e os outros dois passageiros não se feriram.
Os problemas começaram durante a decolagem, quando um dos pilotos esqueceu de remover a capa do tubo de pitot, sensor que faz a medição de velocidade da aeronave. Isto só foi notado durante a corrida de decolagem, devido a diferença entre os dois velocímetros do avião. Logo, a decolagem foi abortada e a capa retirada.
Algum tempo depois, o avião foi ligado novamente e, no acionamento do motor esquerdo, surgiu a mensagem de “Falha no Limitador do Leme de Direção”. O piloto em comando (PIC) relatou que tentou fazer dois testes de estol em terra para limpar a mensagem, pois já havia recebido essa mensagem em voos anteriores, porém os testes não “limparam” o aviso.
O voo foi continuado, pois a mensagem era um aviso, e não uma mensagem de cautela ou alerta que impede a saída da aeronave. A segunda decolagem ocorreu normalmente, com o piloto automático ativado conforme o previsto.
A tripulação relatou que, ao redor dos 6.000 pés de altitude, observou múltiplas mensagens no visor de aviso (EICAS). A tripulação lembrou de 3 principais: Falha de atuação do Piloto Automático no Compensador do Estabilizador Horizontal (AP STAB TRIM FAIL), Falha no Compensador baseado no Mach (MACH TRIM FAIL) e também a mensagem de Piloto Automático Segurando o Nariz do Avião para baixo (AP HOLDING NOSE DOWN).
Diante de várias mensagens, o piloto no comando pediu para que o outro piloto (SIC) pegasse o iPad para fazer o procedimento de falha de compensador, chamado de Falha de Ajuste no Compensador Primário (PRI STAB TRIM FAIL). O checklist para este procedimento foi executado conforme o manual e o primeiro item da lista era mover um interruptor do compensador do canal primário (PRI) para “desligado”. Foi aí que o acidente aconteceu.
Assim que o segundo piloto fez isso, a aeronave teve uma subida abrupta, que teve que ser controlada manualmente pelo piloto em comando, que já estava com a mão no manche, já que ele esperava que o piloto automático fosse desligado quando o interruptor fosse passado para “OFF”.
Apesar do susto, o piloto no comando relatou à NTSB que não teve nenhuma dificuldade em voar a aeronave manualmente após retomar o controle dela e o seu colega ter voltado o interruptor para a posição primária.
Já com a aeronave estabilizada novamente, o piloto foi chamado por um dos passageiros que relatou que um outro passageiro estava ferido. O comandante então decidiu desviar o voo para Windsor Locks, não religando o piloto automático. Após o pouso, uma ambulância já aguardava o jato. O passageiro foi atendido, levado ao hospital mas não resistiu.
A NTSB iniciou a investigação e teve acesso à “caixa-preta”, onde os dados do voo estavam consistentes com os relatos de ambos os pilotos. Mas algo chamou a atenção dos investigadores: foi detectado que o avião teve uma subida abrupta atingindo o ângulo de 11º com aceleração vertical gerando 3,8x a força da gravidade normal na terra.
Logo depois o avião entrou numa descida, gerando uma força G negativa de 2,3g, seguido de outra subida, desta vez mais íngreme com ângulo de 20º e aceleração de 4,2g positivos.
O sistema de proteção de estol da aeronave entrou em ação com vibração no manche e atuação direta no jato, abaixando a avião, reduzindo para 2,2g positivos. Logo após, a “caixa-preta” parou de gravar, provavelmente por causa de um interruptor de segurança de força g.
As causas do acidente ainda estão sendo investigadas, mas a NTSB reiterou que a aeronave estava com toda documentação e inspeções em dia. O relatório final não tem data ainda para ser divulgado.
NTSB issues its preliminary report for the ongoing investigation of the March 3 accident in which a passenger on a Bombardier Challenger 300 sustained a fatal injury during an inflight upset and the plane was diverted to Windsor Locks, Connecticut:https://t.co/Ht5eRmqT0i
— NTSB Newsroom (@NTSB_Newsroom) March 24, 2023