Programa “Fantástico” entrevista mecânico da Voepass, que fala de falhas e negligência na manutenção dos aviões

Uma matéria jornalística exibida no programa dominical Fantástico, da Rede Globo, trouxe à tona revelações sobre falhas na manutenção das aeronaves da Voepass, que teriam levado ao trágico acidente com um avião da companhia, ocorrido em 9 de agosto de 2024.

A reportagem abordou, com exclusividade, detalhes sobre a falta de suporte na manutenção da companhia aérea, a negligência com as condições das aeronaves e os bastidores da decisão que culminou na suspensão das operações da empresa pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Conforme amplamente divulgado, a ANAC anunciou no último dia 11 de março a suspensão das operações da Voepass, companhia aérea que ficou tristemente marcada por um acidente fatal no ano passado. Naquele dia, um avião ATR-72-500, de matrícula PS-VPB, da empresa caiu sobre Vinhedo, no interior de São Paulo, após decolar de Cascavel, no Paraná, no voo PTB2283, resultando na morte de 62 pessoas.

O trágico acidente ganhou repercussão internacional e, pouco menos de um mês depois, o Centro de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) divulgou um relatório preliminar apontando falhas técnicas no voo (clique aqui para ler a sequência dos fatos). O documento revelou que a formação excessiva de gelo nas asas, comum nas altitudes em que os ATR operam, não foi tratada adequadamente, embora ainda não se saiba o porquê de não ter sido tratada adequadamente.

A aeronave não desceu para derreter o gelo, como recomendam os procedimentos de segurança, e os sistemas de expulsão de gelo das asas não funcionaram corretamente. Com isso, a estabilidade do voo foi comprometida, levando à perda de sustentação da aeronave e, consequentemente, ao desastre. Este tipo de acidente, com movimento de descida em espiral, conhecido como “parafuso chato”, é raro na aviação comercial.

Para entender os bastidores do acidente e as circunstâncias que levaram à drástica suspensão das operações da Voepass, o programa Fantástico, da Rede Globo, entrevistou com exclusividade um mecânico que trabalhou na empresa antes e depois da tragédia.

Durante a entrevista, o mecânico revelou aspectos preocupantes sobre a operação da Voepass. Segundo ele, a empresa não fornecia suporte adequado para a equipe de manutenção, nem em termos de peças de reposição, nem de ferramentas adequadas para o trabalho.

Ele relatou que, ao contrário de outras companhias aéreas onde trabalhou, na Voepass a falta de recursos para a manutenção das aeronaves era evidente. “A Voepass não dá suporte nenhum para a gente da manutenção“, afirmou, destacando a grande diferença de infraestrutura e condições de trabalho em comparação com outras empresas do setor.

O mecânico também revelou que o avião envolvido no acidente, apelidado de “Papa Bravo” pelos funcionários da empresa, devido à matrícula da aeronave, já era um problema recorrente. Ele relatou que a equipe de manutenção sabia das dificuldades técnicas e das frequentes panes do avião, alertando a alta chefia da Voepass sobre a situação. No entanto, essas preocupações não foram suficientes para impedir que a aeronave fosse enviada para voar, apesar dos riscos.

Eu já sabia que ia acontecer isso com o Papa Bravo. Era o avião que dava mais problemas, era o avião que dava mais pane. A gente avisava que o avião estava ruim, e eles queriam obrigar a gente a botar o avião para voar“, disse o mecânico.

Após o acidente trágico, o mecânico afirmou que, ao contrário do esperado, não houve melhorias significativas na empresa. “Mudou em nada. Acho até que piorou“, afirmou, ressaltando que a falta de mudanças nas práticas de manutenção e operação da Voepass continuava a ser uma preocupação.

Imagens obtidas pelo Fantástico em dezembro de 2024 mostram aviões da Voepass parados em um matagal em Ribeirão Preto, onde a empresa tem sede. Segundo o mecânico, esses aviões estavam sendo desmontados para fornecer peças para outras aeronaves da frota, prática conhecida como “canibalização“. Embora essa técnica não seja, por si só, ilegal, o ex-funcionário afirmou que a prática na Voepass era realizada de maneira irregular.

Além disso, imagens capturadas mostraram aviões cobertos com lonas, o que, segundo o mecânico, tinha o objetivo de esconder a realidade da ANAC, que estava prestes a realizar uma vistoria na empresa. “Eles estavam escondendo da ANAC“, explicou o mecânico.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Com uma paixão pelo mundo aeronáutico, especialmente pela aviação militar, atua no ramo da fotografia profissional há 8 anos. Realizou diversos trabalhos para as Forças Armadas e na cobertura de eventos aéreos, contribuindo para a documentação e promoção desse campo.

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