Por que foi proibido consumir bebida no cockpit do Airbus A350?

Após deliberações entre Airbus, companhias aéreas e agência reguladora da aviação da Europa (EASA), foi definida a restrição do consumo de bebidas em certa área do cockpit dos aviões A350, após os casos de apagamento de motor em voo, causados por líquidos derramados nos instrumentos.

Cockpit Airbus A350

A EASA emitiu uma Diretiva de Aeronavegabilidade (DA) informando aos operadores do A350 que a partir de amanhã, 7 de fevereiro, o manual de voo (AFM – Airplane Flight Manual) usado como referência para as operações do modelo deve ser atualizado com uma revisão de informações emitida pela fabricante Airbus.

A revisão a ser incorporada ao AFM define uma zona na cabine de comando em que passa a ser proibido o consumo de qualquer tipo de bebida. Isso porque as investigações sobre certos incidentes de apagamento de motor em voo mostraram que o derramamento de líquidos sobre os conjuntos de instrumentos ao centro do cockpit interferiu no funcionamento dos sistemas que controlam os motores, desligando-os.

Apesar da EASA regular a aviação da Europa, os acordos internacionais entre as autoridades de diversos países fazem com que as companhias aéreas de grande parte do mundo sejam obrigadas a incorporar a nova limitação, sob pena de serem multadas ou suspensas por suas respectivas agências reguladoras em caso de não cumprimento.

Isso significa que nenhum Airbus A350 deve decolar antes que a companhia aérea atualize o Manual de Voo que fica a bordo da aeronave.

A Diretiva de Aeronavegabilidade número 2020-0020-E da EASA apresenta as seguintes informações a serem consideradas a partir desse dia 7 de fevereiro:

“Duas ocorrências em serviço foram relatadas envolvendo derramamento inadvertido de líquido no painel ENG START ou no painel de controle ECAM (ECP) no pedestal central na cabine de pilotagem dos aviões A350. Nos dois casos, o avião sofreu um desligamento em voo (IFSD) não comandado de um motor algum tempo após o derramamento de líquido.

As tentativas subsequentes de reativação do motor não foram bem-sucedidas. Nos dois eventos, a tripulação executou um desvio e pousou o avião em segurança.

Os resultados das investigações técnicas preliminares indicam operação anormal dos componentes do painel ENG START ou ECP devido a derramamento de líquido no sistema.

Essa condição, se não for corrigida, pode levar a um IFSD duplo dos motores, possivelmente resultando em um pouso forçado com consequente dano ao avião e ferimentos aos ocupantes.

Para resolver essas ocorrências, a Airbus publicou o AFM TR definindo uma zona proibida de líquidos na cabine e os procedimentos a serem seguidos em caso de derramamento acidental de líquidos no pedestal central.

A Airbus também publicou o FOT, lembrando os operadores sobre as práticas padrão para manipulação de líquidos no cockpit para reduzir a probabilidade de riscos.

Pelas razões descritas acima, esta DA requer alteração do AFM.”

Veja na matéria a seguir o caso mais recente, em que o Airbus A350 pousou no Alasca após o apagamento do motor:

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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