Promotoria não indica culpado para a tragédia do voo AF-447, que decolou do Rio em 2009

A Promotoria do julgamento do acidente do voo “Air France 447”, que caiu enquanto voava entre o Rio de Janeiro e Paris em 2009, absteve-se, na quarta-feira (8), de pedir sentença contra a fabricante Airbus e a companhia aérea Air France, numa posição que indignou os familiares das vítimas.

Em 1º de junho de 2009, um Airbus A330 da Air France mergulhou no Oceano Atlântico, quase quatro horas após decolar do Rio de Janeiro. Seus 216 passageiros e 12 tripulantes perderam a vida nesta tragédia.

“A culpa das empresas parece impossível de provar. Sabemos que esta posição será inaudível para as partes civis, mas não podemos pedir a condenação da Air France e da Airbus”, disse a promotora Marie Duffourc. Após essas palavras, os parentes aplaudiram ironicamente para expressar sua desaprovação.

“Tenho vergonha de ser francesa. Para que serve a justiça?”, reagiu uma mulher numa sala apinhada, numa mensagem que foi reproduzida por outros familiares presentes no julgamento.

Embora os desembargadores tenham arquivado o caso em 2019, os familiares das vítimas e os sindicatos dos pilotos recorreram e, em maio de 2021, a Justiça levou as duas empresas a julgamento por homicídio involuntário.

O promotor Pierre Arnaudin detalhou os “fatores que contribuíram” para o acidente, a fim de determinar se a Airbus e a Air France cometeram erros relacionados à tragédia. Segundo laudos periciais, o congelamento das sondas do Pitot causou um distúrbio nas medições de velocidade do Airbus A330, que desorientou os pilotos até perderem o controle do avião.

Para o tribunal de apelações, que reverteu a improcedência do processo, a Air France não implementou o “treinamento adaptado” ou as “informações” necessárias para que os pilotos pudessem “reagir” a essa falha. A Airbus é julgada por “subestimar a gravidade” das falhas das sondas de velocidade, por não tomar as medidas necessárias de informar com urgência as tripulações ou treiná-las de forma eficaz.

A acusação considerou, no entanto, que estes elementos recolhidos pelo tribunal de recurso de Paris, que ordenou este julgamento no ano passado, não foram substanciados. Segundo ela, os réus não subestimaram a gravidade das deficiências nas sondas Pitot, que se multiplicaram nos meses anteriores ao acidente.

“Temos um promotor que deveria ter defendido o povo, mas acabou defendendo a multinacional Airbus”, reclamou Danièle Lamy, presidente de uma associação de vítimas, fora do tribunal.

Ambas as empresas enfrentam uma multa de 225.000 euros cada – e deve ficar por isso.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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