Enquanto seus planos de voar no Brasil passam por uma turbulência, a empresa Nella Airlines parece seguir avançando na América do Sul, sobretudo com a aproximação a empresas em más condições financeiras. O exemplo mais claro desta estratégia, até o momento, é o da boliviana Amaszonas, que desde o ano passado vende bilhetes e voa sob a nova marca. O caso mais recente, no entanto, vem da Argentina.
Como reporta o parceiro Aviacionline, nas últimas horas de sábado, 12 de fevereiro, foi sinalizada através das redes sociais da Nella Airlines a possibilidade dela ter adquirido a Andes Líneas Aéreas. A empresa argentina suspendeu suas operações em março de 2020, no início da crise sanitária do COVID-19.
Trata-se de mais uma empresa com crise de caixa, que nos últimos cinco anos sofreu perdas significativas, como resultado de não poder competir devido à incursão de novas companhias aéreas e a desvalorização da moeda argentina.
A Nella
A Nella tornou-se pública em 2020 com uma proposta de abertura de uma empresa aérea no Brasil, a qual até o momento não frutificou. Esses planos se envolveram de inúmeras polêmicas, que passaram por trocas sucessivas de comando e guinadas drásticas de estratégia. A companhia chegou a iniciar um processo de certificação junto à ANAC, mas até o momento não se encaminhou a uma conclusão.
Posteriormente, a empresa iniciou uma incursão na América do Sul. Primeiro, adquiriu a Albatros, com sede na Venezuela, em julho de 2021 e, em setembro, concluiu a compra da Amaszonas Líneas Aéreas, com sede na Bolívia, pelo valor declarado de US$ 50 milhões. Além disso, em novembro demonstrou interesse em reviver a marca LAP (Líneas Aéreas Paraguaias), com dois Boeing 737-800.
Para viabilizar todos esses planos, a empresa contaria com apoio da Falcon Vision, uma das empresas vinculadas ao Fundo de Investimento Público (PIF) da Arábia Saudita, que é comandado por Mohammad bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, príncipe herdeiro da Arábia Saudita. No entanto, do aporte divulgado de mais de US$ 300 milhões, ainda não há confirmação sobre a chegada dos recursos à América do Sul.
Sobre a Andes
A Andes Líneas Aéreas nasceu em 2005. Apoiada pelo Governo da Província de Salta, a empresa estava destinada a cobrir o legado da Dinar Líneas Aéreas. Inicialmente, operava entre Salta e Buenos Aires/Aeroparque; em seguida, foi adicionado Puerto Madryn, naquelas que seriam suas duas rotas principais. Operou esporadicamente em San Salvador de Jujuy, San Miguel de Tucumán, Puerto Iguazú, Comodoro Rivadavia, San Carlos de Bariloche, Neuquén, Córdoba, Mendoza, Cafayate e Oran.
A empresa acabou encontrando seu nicho de maior sucesso nos voos fretados, transportando estudantes de pós-graduação para Bariloche, além de voos para o Caribe e a costa do Brasil. Durante o verão realizou operações para Ushuaia na temporada de cruzeiros.
Em 2018, no âmbito da Audiência Pública nº 218, solicitou um total de 199 rotas ligando 39 cidades argentinas e estrangeiras. A maioria das ligações tinha destinos como o Caribe, a costa mexicana e brasileira e a Flórida.
Em seus quinze anos de operação, possuiu uma frota diversificada: dois Bombardier CRJ-900, um Fairchild Swearingen Metro 23, quatro Boeing 737-800 e, seu modelo principal, dezesseis McDonnell Douglas MD-82, 83, 87 e 88. Nos seus últimos dias, tinha apenas dois MD-83 operacionais (LV-WGM e LV-WGN), enquanto outros três eram usados como fonte de peças de reposição.
Em sua história, transportou mais de 3.891.000 passageiros, sendo 2018 seu melhor ano, transportando 1.985.340 passageiros. Os últimos dois anos da empresa foram turbulentos, em que acumulou uma dívida de US$ 25 milhões, que inclui dívidas com seus 250 trabalhadores, fornecedores e usuários que ficaram retidos.