Qual o motivo da Ucrânia não ter tirado de lá o Antonov An-225, maior avião do mundo

Antonov An-225 Mriya pousando no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP)

Como temos acompanhado nos últimos dias, este domingo, 27 de fevereiro, ficou marcado, infelizmente, como a data em que a mais importante ferramenta de envio aéreo de cargas muito grandes, muito pesadas ou muito volumosas foi confirmada como atingida e destruída por uma bomba ou míssil na Ucrânia, em meio à guerra iniciada pela Rússia.

Com 6 motores, 32 rodas, 84 metros de comprimento, 88,4 metros de envergadura e capacidade de 250 toneladas em peso da carga (ou 1.300 m³ em volume), o Antonov An-225 Mriya é o maior avião comercial do mundo. Este único exemplar foi fabricado em 1985 pela ucraniana Antonov Design Bureau quando o território ainda fazia parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Segundo exemplar inacabado

Um segundo avião do modelo começou a ser feito na mesma época, porém, com a URSS entrando em crise e algum tempo depois se dissolvendo, a fabricação foi paralisada com a fuselagem e as asas parcialmente construídas.

O segundo Antonov An-225, inacabado

Até hoje ele descansa inacabado em um galpão em Kiev, capital da Ucrânia, porém, segundo declarações recentes de Oleksander Donets, CEO da Antonov Company, em 2012 estimava-se que seriam necessários $ 460 milhões para a conclusão.

Segundo o CEO, ele ficaria pronto em 3 anos caso houvesse financiamento para tal, porém, a cifra é considerada alta demais para se compensar posteriormente com a operação comercial do jato, tornando inviável o investimento.

Relevância na pandemia

Além de ser conhecido por possibilitar transportes super pesados (o segundo maior do mundo, o Antonov An-124, leva no máximo 150 toneladas), o An-225 também vinha apresentando um papel fundamental nesta pandemia ao levar enormes volumes de cargas hospitalares, como máscaras, luvas e outros equipamentos dessa natureza.

Enquanto até 2019 o enorme avião era visto decolando apenas quando contratado para levar itens grandes e/ou pesados algumas vezes ao ano, a partir de 2020 passou a voar com uma frequência nunca vista antes. Ocorriam paradas de algumas semanas no Aeroporto Hostomel (ou Gostomel), base da Antonov em Kiev, para as manutenções pesadas e bastante singulares do modelo, e então o Antonov 225 partia novamente.

Então por quê?

Então, se este jato, batizado de sonho desde sua concepção (“Mriya” significa “Sonho” em ucraniano), é tão importante não apenas para a Antonov e a Ucrânia, mas também para todo o mundo, por que foi deixado em Kiev em meio à iminência de uma invasão militar?

Seria porque os ucranianos não acreditavam que a Rússia efetivamente avançaria? Seria porque acreditavam que os russos preservariam um equipamento tão importante? Ou seria porque “a Ucrânia queria que ele fosse destruído para se tornar um mártir na guerra contra a Rússia”, como têm afirmado muitas pessoas?

A resposta é negativa para todas as perguntas acima. O motivo é outro, conforme comentado por diversas fontes da própria Antonov após este triste acontecimento.

Como vimos no domingo, um dos primeiros veículos do mundo a confirmar que o An-225 havia sido atingido em Hostomel foi o Air-Clips.com, um grande canal de vídeo de aviação no YouTube. Seu idealizador, em contato direto com pessoas da gerência da Antonov, reproduziu a nota recebida diretamente destas fontes, que dizia:

“Devido ao ataque das forças russas, nossos Antonov An-26, Antonov An-74 e Antonov-28 foram destruídos e queimados.

Nós fomos informados que o Antonov An-124 de registro UR-82009 e o Antonov An-225 Mriya, que estavam em manutenção no Aeroporto Gostomel, também foram queimados.

Informações de ontem eram de que a confirmação final ainda era desconhecida. Hoje eu tenho outra confirmação do Antonov An-225 tendo sido destruído”.

Portanto, como se nota, o motivo foi que o maior avião do mundo passava por manutenção desde que havia pousado pela última vez em Kiev, no dia 5 de fevereiro.

Sua manutenção é sempre demorada, por ser complexa e específica, já que não existem outros aviões do mesmo modelo para fornecer peças sobressalentes e nem fabricantes produzindo peças novas. Assim, o avião, infelizmente, não estava em condições de ser rapidamente finalizado para voo.

Reconstrução?

Embora a afirmação das fontes da própria fabricante sobre a destruição, oficialmente a Antonov Company preferiu apenas comentar que “Atualmente, até que o AN-225 seja inspecionado por especialistas, não podemos informar sobre a condição técnica da aeronave.”

Portanto, até que novas informações sejam divulgadas (e não é possível saber quanto isso pode demorar em meio a essa guerra), permanece o grande questionamento: será possível e economicamente viável reconstruir o maior avião do mundo e um dos grandes ícones da história da aviação mundial?

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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