Quebra da Avianca Brasil foi orquestrada por concorrentes, diz Germán Efromovich

Imagem: Aviacionline

Uma das figuras mais conhecidas da aviação na América Latina é Germán Efromovich. O empresário nascido na Bolívia, com cidadania no Brasil, Colômbia e Polônia, assumiu o comando da Avianca em 2004, quando o grupo aéreo estava à beira da falência, e conseguiu revitalizá-la.

Seu outro grande negócio do setor, a OceanAir, conhecida como Avianca Brasil sob licença do grupo colombiano, conseguiu capturar mais de 10% do mercado de aviação no maior país da América Latina. A Avianca Brasil, no entanto, fechou as portas em 2019 e o empresário agora põe as fichas em uma empreitada na Itália, a Aeroitalia.

Em entrevista ao Aviacionline, Efromovich falou sem firula de seu novo negócio na Itália e algumas “realidades” da América Latina, em sua percepção. Indagado sobre os últimos cinco anos, Efromovich disse que “foram difíceis”.

“Saímos da Avianca de forma um tanto grotesca, mas o legado ficou lá. Infelizmente, hoje existem muitas reclamações sobre o nível de atendimento e o nível de serviço desde o meu tempo. Mas eles mudaram o modelo, certo? E o modelo é um tipo diferente de serviço. Durante a pandemia, muitas outras coisas mudaram. Comecei na aviação da Itália. Obviamente, minha história e o que conquistei com a equipe que construí geraram confiança no mercado mundial, e vários investidores me procuram para investir”, disse ele.

Sobre a questão da Avianca no Brasil e sua quebra, Efromovich atribui a derrocada da empresa a uma ação orquestrada por concorrentes.

“A Avianca Brasil é a antiga OceanAir, que trabalhava sob a autorização de marca da Avianca Colômbia. Certamente poderia ter sido evitado porque o que aconteceu foi que o solo foi tirado das pessoas no Brasil. Os proprietários chegaram a um acordo. E quando entraram com pedido de recuperação judicial, LATAM e Azul abordaram os locadores e disseram “esses caras estão falindo, nos deem os aviões”. Então eles pegaram os aviões. Você não se recupera sem aviões, não é? Então foi muito bem orquestrado entre os concorrentes porque a Avianca Brasil estava causando problemas para muita gente. Eu era o perdedor no Brasil na época”, disse.

A respeito do modelo de baixo custo na América Latina, Efromovich também é bastante taxativo.

“Em primeiro lugar, eu disse um milhão de vezes ao longo de muitos anos que não existe um modelo de baixo custo. O termo “baixo custo” está incorreto. Os preços dos bilhetes não baixaram; o nível de serviço foi reduzido e o nível de desconforto nos aviões aumentou. Isso é tudo. O que você obtém são assentos de alta densidade pelo mesmo preço. Agora, por quê? Você sabe porque? Porque o negócio de baixo custo está errado“.

“O modelo de baixo custo só funciona em lugares como a Europa, por exemplo. Por que funciona na Europa? Não é porque os custos das companhias aéreas são mais baixos. O preço do avião, o combustível, a tripulação, quase tudo é igual. Não é porque tiram a Coca e o sanduíche que eles lucram. Onde está a vantagem de uma EasyJet ou Ryanair em termos de preço? Se você olhar seus preços hoje, a festa está acabando. Mas por que esse modelo surgiu e onde ele cresceu?”

Porque eles vão para aeroportos como Luton, em Londres, por exemplo. O aeroporto paga milhões para atraí-los. Então a companhia aérea recebe milhões do aeroporto para operar lá. Enquanto isso, outras companhias aéreas têm que pagar para operar no mesmo aeroporto. Eles gastam menos, mas até isso é fictício. Porque eles começaram a cobrar pela bagagem e tudo mais, é só uma questão de tempo até eles cobrarem pelo uso do banheiro”.

Mas com todas essas taxas, às vezes uma passagem de baixo custo acaba custando o mesmo ou mais que outras companhias aéreas. A diferença é tão pequena que hoje as companhias aéreas tradicionais também cobram quando você quer escolher seu assento, carregar bagagem extra, etc. Portanto, este modelo foi unificado. Só fará diferença se eles quiserem operar em um aeroporto diferente. Se esse aeroporto diferente for longe do centro da cidade para onde você está indo, a menos que você vá a pé ou de ônibus, acabará pagando a diferença do preço da passagem por um táxi”, finalizou.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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