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Relembre a última visita do Antonov An-225 ao Brasil, quando algo inexplicável ocorreu

O maior avião do mundo, o Antonov An-225 Mriya esteve no Brasil em duas ocasiões. A primeira em 2010 e a segunda em 2016. Em especial, esta última visita guarda muitas lembranças e mostra como muita gente pode se unir em torno de algo que causa fascinação.

An-225 pousando em Campinas

Por se tratarem de memórias, e boas memórias, o AEROIN pede licença para dar um aviso: este texto pode conter um pouco de emoção e sentimento, vindo de uma das centenas de pessoas que se reuniram para ver o maior avião do mundo de perto, e entender o significado de “Myria” (“Sonho”), mesmo sem falar ucraniano.

O texto abaixo foi escrito por Carlos Martins, editor do AEROIN.

Experiência com o Antonov An-225

Eram 7 horas da manhã do dia 14 de novembro de 2016, quando fotógrafos, jornalistas e entusiastas foram até o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, para testemunhar uma das maravilhas da engenharia aeronáutica: o An-225 Myria.

Como muitos ali ainda sonolentos, mas motivados, entramos no ônibus preparado pela administradora do aeroporto de Campinas e seguimos rumo ao outro lado da pista. Era um dia chuvoso e a viagem de ônibus foi curta, já que ele ficou preso num atoleiro, nos obrigando a andar cerca de três quilômetros para contornar a cabeceira do aeroporto até chegar no ponto onde a foto que ilustra essa matéria foi tirada. A chegada do gigante, no entanto, atrasou, aumentando a ansiedade. Quando ele apareceu, porém, deixou a todos paralizados.

Congestionamentos se formaram nas vias em torno do aeroporto e todo mundo tentou chegar o mais próximo possível do avião, seja o pessoal do aeroporto, do parque industrial, os moradores, os caminhoneiros, funcionários do aeroporto (voos até atrasaram), foi algo massivo.

Os seis motores, a fuselagem, tudo chamou a atenção das pessoas que, mesmo vendo de longe, sentiram que estavam diante de uma conquista mundial.

Para nós, no entanto, esse era apenas o início da cobertura, já que dali teríamos que andar mais três quilômetros à pé e depois ir de carro até Guarulhos onde uma carga de enormes proporções seria embarcada no An-225. Entre a entrada e a saída do Myria no Brasil foram mais de 30 horas, e o AEROIN cobriu cada movimento do avião, com uma equipe de seis pessoas, dentro e fora do aeroporto.

A chegada em Guarulhos foi o ápice da visita, o terraço do então Hotel Matiz (hoje Hampton Inn) ficou lotado. O hotel, já sem vagas, acabou sendo ponto de referência para quem queria acompanhar o avião e a Av. Natalia Zarif, assim como a Hélio Smidt, ficaram paradas, mesmo com a polícia pedindo para liberar o trânsito. Foi impossível não ser captado pela energia ali.

A cereja do bolo foi o acender das luzes nas asas quando o avião já estava próximo do público, foi um “cheguei” inesperado e comemorado. Detalhe: era quase de madrugada, mas ninguém iria dormir, pois o An-225 não iria deixar.

Ao chegar no pátio, nossa equipe prontamente se deslocou para as janelas do terraço do aeroporto, que ficaram cheias a madrugada toda, e dali montou campana à espera da saída do gigante, que só foi ocorrer no dia seguinte, após vários atrasos no carregamento

Quando o Myria começou a se movimentar novamente, à noite, e decidimos iniciar uma transmissão ao vivo com o celular mesmo no nosso Facebook. A pretensão era transmitir para o público da página, que na época era relevante mas ainda não havia se tornado o que é hoje, com dezenas de milhões de acessos mensais.

Sem que esperássemos, um recorde foi batido: Em torno de 20 mil pessoas simultaneamente assistiram à transmissão, que totalizou 402 mil visualizações únicas, alcançando um milhão de pessoas. Eram entusiastas de todo o Brasil, participando, interagindo, foi uma sensação única estar ali.

Fomos conferir estes números apenas dias depois, e sinceramente pensamos: ‘por Deus, o que um avião é capaz de fazer’. Todo mundo saiu dali cansado, mas em êxtase.

Infelizmente, ao que sabemos agora, não terá outra vez, nem outro pouso, nem outra reunião como essa para ver o avião, fica o sentimento de saudade e de boas memórias. No entanto, também surge a revolta de como uma guerra incompreensível por ser cruel com as pessoas e com as conquistas da humanidade.

Por fim, existe a esperança de ver o homem produzir, um dia, outra máquina como essa, dada sua importância para a indústria global. Ao longo da pandemia, ele também foi empregado como jamais antes em voos de transporte de equipamentos de combate à Covid.

Deixamos aqui nosso registro e tributo ao gigante dos céus, único e insubstituível Antonov An-225 Mryia.