Essa foi a conversa do piloto com o controlador que disse ter uma bomba no voo da Ryanair

Avião Boeing 737-800 Ryanair
Imagem: Michael Oldfield / CC BY-SA 4.0, via Wikimedia

O estranho desvio do voo Ryanair 4978, que seguia de Atenas para Vilnius, mas acabou pousando em Minsk, devido a uma falsa ameaça de bomba, e que resultou na prisão de um opositor do governo bielorrusso, ganhou mais um ingrediente hoje.

A agência de notícias Reuters divulgou uma transcrição da conversa entre o piloto do Boeing 737 e o controlador do Centro de Controle de Área de Minsk, em que claramente mostra o controlador direcionando a decisão do piloto.

As informações da Reuters vão de encontro às declarações das autoridades bielorrussas, que disseram que a decisão de alternar Minsk foram tomadas pelo piloto, sem qualquer interferência na decisão.

A transcrição também leva a entender que não houve uma ameaça de bomba por parte de passageiros disfarçados a bordo, embora testemunhas que estavam no voo tenham relatado um bate-boca entre comissários e, pelo menos, um homem.

Outra informação já confirmada pela Reuters é que o avião pousou em Vilnius com cinco pessoas a menos do número contado no embarque, reforçando a tese de que havia agentes policiais na aeronave.

Aqui está a transcrição:

ATC: Ryanair 4978, Minsk.
Piloto de Minsk: Ryanair 4978, prossiga.
ATC : Para sua informação, temos informações de serviços especiais de que você tem bomba a bordo e que pode ser ativada em Vilnius.
Piloto : Ok, você poderia repetir a mensagem?
ATC: Repito, temos informações de serviços especiais de que você tem uma bomba a bordo. Essa bomba pode ser ativada em Vilnius.
Piloto: Entendido, espere.
ATC: Por motivos de segurança, recomendamos que você desembarque no UMMS. (Código ICAO para o aeroporto de Minsk)
Piloto : Ok…compreendido, forneça um alternado, por favor.
Piloto: A bomba, de onde veio? De onde você obteve informações sobre isso?
ATC: Espere, por favor.

Piloto: Prossiga.
ATC: O pessoal da segurança do aeroporto informou que recebeu um e-mail.
Piloto: Ciente, a equipe de segurança do aeroporto de Vilnius ou da Grécia?
ATC: Este e-mail foi compartilhado com vários aeroportos.
Piloto: Ciente, aguarde.
Piloto: Mais uma vez, essa recomendação de desviar para Minsk de onde veio? De onde veio? Empresa? Veio das autoridades do aeroporto de partida ou das autoridades do aeroporto de chegada?
ATC: Estas são as nossas recomendações.
Piloto: Você pode repetir?
ATC: Estas são as nossas recomendações.
Piloto: Você disse que essa é recomendação?
ATC: Informe sua decisão, por favor.
Piloto: Preciso de resposta à pergunta: qual é o código do alerta: verde, amarelo ou âmbar, vermelho?.
ATC: Aguarde.
ATC: Dizem que o código é vermelho.
Piloto: Entendido, nesse caso solicitamos a manutenção na posição atual.
ATC: Entendido, mantenha sua posição, mantenha as órbitas no FL390 a seu próprio critério.
Piloto: Ok, mantendo a nosso critério na posição atual, mantendo FL390.
Piloto: Estamos declarando uma emergência ‘MAYDAY, MAYDAY, MAYDAY’. Nossa intenção seria desviar para o aeroporto de Minsk.
ATC: Ciente, aguarde vetores para Minsk.

A Reuters salienta que essa transcrição pode ter sido editada (e ter tido partes cortadas) pelas autoridades da Bielorrússia antes de ser divulgada, no entanto, ainda assim, ela revela claramente a influência que o controlador teve na decisão do piloto. Além disso, o alegado e-mail com a ameaça de bomba ainda não apareceu como evidência.

Essa história ainda ganhará muitos contornos. Ontem, já no final do dia, a União Europeia orientou suas empresas aéreas a não sobrevoarem a Bielorrússia. Ainda há a ameaça de que o espaço aéreo Europeu feche para empresas daquele país, deixando-o quase isolado.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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