Rivais na aviação, Boeing e Airbus estiveram juntas hoje na partida da missão Artemis à Lua

Momento do lançamento na madrugada dessa quarta-feira – Imagem: Boeing

Após vários adiamentos de lançamento para correções de problemas, a missão Artemis I da NASA finalmente partiu nessa quarta-feira, 16 de novembro, rumo à Lua, e o importante momento mais uma vez mostra como a exploração do espaço une interesses do mundo todo.

As duas maiores fabricantes e grandes rivais da aviação, Boeing e Airbus, respectivamente norte-americana e europeia, são também empresas de tecnologias espaciais, e estiveram juntas no lançamento de hoje, já que o foguete foi feito pela Boeing e o módulo Orion foi feito pela Airbus.

O vídeo a seguir mostra o momento do lançamento, e na continuidade dessa matéria, são apresentados os detalhes sobre os equipamentos das duas fabricantes e a programação dessa missão.

Boeing

O foguete do Sistema de Lançamento Espacial da NASA, movido pelo estágio central construído pela Boeing, decolou à 1h47 ET (3h47 de Brasília) do Kennedy Space Center. Após oito minutos e meio de voo, o estágio central completou sua missão e separou-se do estágio superior do foguete, enviando a espaçonave Orion da Airbus em sua primeira jornada ao redor da Lua.

“Hoje, este país tem capacidade de lançamento de foguete superpesado pela primeira vez em 50 anos”, disse Jim Chilton, vice-presidente sênior da divisão de lançamento e espaço da Boeing. “Este voo de teste foi uma demonstração de inovação em engenharia e estamos prontos para apoiar a NASA e seus parceiros internacionais no retorno dos humanos à exploração do espaço profundo”.

Durante a missão, o estágio principal demonstrou várias funções importantes, incluindo abastecer os tanques, acionar o sistema hidráulico, ligar os motores, executar programas de controle do vetor de empuxo em voo, esgotar os tanques de combustível, desligar os motores e realizar as manobras de separação e descarte bem-sucedidos dos tanques auxiliares.

“Foi um lançamento absolutamente lindo – visual e tecnicamente”, disse John Shannon, vice-presidente e gerente do programa SLS da Boeing. “Este foguete controla forças incríveis enquanto acelera pela atmosfera. Ele cumpriu a missão conforme o projetamos, e agradecemos a nossa equipe e parceiros por todo o trabalho árduo para tornar este primeiro lançamento um sucesso.”

O estágio central do foguete tem quase 65 metros e é composto por:

– um tanque de oxigênio líquido de 196.000 galões (741.940 litros);

– um tanque de hidrogênio líquido de 537.000 galões (2.032.766 litros), juntamente com uma seção intertanque que une os dois reservatórios de combustível;

– uma borda dianteira no topo que se conecta ao estágio superior; e

– uma seção de motor com quatro motores RS-25 combinados para 2,2 milhões de libras de empuxo (997.903,1 kg).

Uma equipe da Boeing fabrica o estágio principal na Michoud Assembly Facility da NASA em Nova Orleans, Louisiana, e usa componentes fabricados por mais de 430 fornecedores nos Estados Unidos.

A equipe da Boeing está preparando as próximas unidades para seus respectivos voos:

– O Core Stage-2, ou CS-2, lançará a primeira tripulação do programa Artemis e está na área de montagem final em Michoud;

– O CS-3, que já está em funcionamento em Michoud, vai lançar o primeiro pouso lunar tripulado desde a missão Apollo, que incluirá a primeira mulher e a primeira pessoa de cor;

– O CS-4 também já está em funcionamento em Michoud.

Além disso, o artigo de teste estrutural de um estágio superior mais novo e mais poderoso, conhecido como Exploration Upper Stage, está em fabricação.

Airbus

Com lançamento dessa quarta-feira, a espaçonave Orion e o ESM (European Service Module – Módulo de Serviço Europeu) da Airbus acabam de começar sua jornada para a Lua na missão Artemis I da NASA, que testará o conjunto por completo no espaço pela primeira vez.

Concepção gráfica do ESM e da Orion passando ao redor da Lua – Imagem: Airbus

Esta missão não está tripulada e todos os sistemas serão levados ao seu limite – vital para garantir que os membros da tripulação em futuras missões a bordo da cápsula Orion estejam seguros.

O conjunto foi construído pela Airbus sob contrato com a Agência Espacial Europeia (ESA). O ESM serve como o principal sistema de propulsão da espaçonave Orion, além de fornecer manobras orbitais e controle de posicionamento.

Outra função importante do ESM é fornecer à tripulação da espaçonave elementos críticos de suporte à vida – incluindo água e oxigênio – e regular as condições térmicas a bordo da Orion.

Mesmo antes do lançamento, o ESM assumiu várias tarefas, como o resfriamento dos sistemas da espaçonave na plataforma de lançamento.

A missão: minuto a minuto

Apenas 54 segundos após o lançamento, o foguete – conhecido por sua designação formal como Sistema de Lançamento Espacial (SLS) – atingiu velocidade supersônica.

Após 8 minutos de voo, Orion foi separada do estágio principal do foguete, e a espaçonave atingiu a gravidade zero enquanto ainda estava presa ao estágio criogênico superior do SLS.

Aos 18 minutos de voo, era hora de ligar a fonte de alimentação da Orion. O distintivo painel solar de quatro asas do ESM foi aberto e a equipe esperou ansiosamente para ver os sensores ficarem verdes, indicando que tudo estava bem.

Depois disso, Orion viajou para uma órbita muito mais alta, passando de um perigeu de aproximadamente 26 km para cerca de 160 km de altora.

Cerca de 90 minutos após o lançamento, com a ignição final do motor do estágio superior, o módulo foi lançado em direção à órbita lunar. Neste ponto, os painéis solares foram dobrados para trás em 35 graus para reduzir as cargas geradas pela ignição do motor antes da separação do estágio superior do foguete.

Sete horas após o lançamento, os painéis solares foram colocados em sua posição final para fornecer energia à espaçonave Orion. Os painéis geram 11 quilowatts (kW) de energia, dos quais 1,3 kW são fornecidos ao ESM. 11 kW é aproximadamente equivalente ao consumo de 11 aspiradores domésticos padrão. O ESM, portanto, requer aproximadamente a mesma quantidade de energia que apenas um aspirador.

Além de fornecer energia, o ESM também regula a temperatura de toda a espaçonave Orion durante o voo. Assim como nós na Terra, quando exposta à sombra, a espaçonave fica particularmente fria, enquanto que quando está voltada para o sol, fica extremamente quente. Portanto, os elementos de aquecimento aquecem o lado sombreado, enquanto os radiadores dissipam calor para resfriar o lado ensolarado.

Um voo de quatro semanas

Durante o voo de 25 dias, todos os sistemas serão testados extensivamente. Inúmeros sensores e câmeras monitorarão as mudanças e funções do sistema durante a missão.

O espaço é conhecido por ser um ambiente extremamente hostil, e é por isso que há um foco especial em tudo que a futura tripulação da Orion precisará para se manter viva. Os astronautas voarão ao redor da Lua na próxima missão, Artemis II.

Para que isso seja aprovado, todos os sistemas de suporte à vida devem estar funcionando corretamente e validados no voo Artemis I. A cápsula Orion no Artemis I não está tripulada, mas os manequins ‘passageiros’ registram dados sobre as condições dos futuros membros da tripulação.

A viagem de ida à Lua levará vários dias. Orion voará cerca de 62 milhas (100 km) acima da superfície da Lua e, em seguida, usará a força gravitacional da Lua para ganhar impulso para cerca de 70.000 km além da Lua em órbita lunar. A espaçonave permanecerá nessa órbita por aproximadamente seis dias para coletar dados e permitir que os controladores da missão – incluindo os engenheiros da Airbus que projetaram e construíram o ESM – avaliem o desempenho da espaçonave.

Antes de retornar à Terra, a Orion realizará outro sobrevoo próximo à superfície da Lua para usar a gravidade da Lua para acelerar de volta à Terra. A cápsula de astronautas Orion se separará do ESM para entrar na atmosfera do nosso planeta, viajando a 11 km por segundo (39.600 km/h). Isso produzirá temperaturas na espaçonave de aproximadamente 2.760 graus Celsius.

Após esta missão de 26 dias e uma distância total percorrida de mais de 2 milhões de km, a cápsula cairá no Oceano Pacífico, na costa da Califórnia. O ESM não retornará à Terra com Orion, mas queimará de maneira controlada na atmosfera terrestre – tendo cumprido seu papel vital na preparação do caminho para a futura exploração do espaço.

Informações da Boeing e da Airbus

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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