Sindicato sugere que pessoas não estudem para se tornar piloto de avião

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O pavor da crise do setor aéreo está realmente trazendo ações inéditas e históricas para o mercado, principalmente no que diz respeito a empregos.

Nos últimos meses, acordos nunca vistos foram feitos por companhias aéreas do mundo todo com seus tripulantes para a manutenção de empregos. Muitos pilotos e comissários abdicaram de grande parte dos seus salários para manter seus empregos e ajudar as companhias a atravessar essa crise que promete ser extensa e de lenta retomada.

A situação é tão grave que chegou ao ponto de o Sindicato de Pilotos Britânicos de Linhas Aéreas, o BALPA (British Airline Pilots’ Association), alertar pessoas que pretendem fazer curso de piloto para que não façam.

A sugestão foi feita via site do sindicato e prevê um mercado de trabalho fechado nos próximos anos. Segundo Wendy Pursey, chefe de serviços de filiação e carreiras do BALPA, a europa contabiliza quase 10 mil pilotos comerciais desempregados. Esse número chega a 1.600 apenas no Reino Unido. Isso sem contar aqueles pilotos que estão na ativa, porém com seu rendimento diminuído em grande parte.

Mesmo os pilotos já contratados pela inglesa easyJet e em vias de adquirir certificação, cerca de 200, estão com o futuro indefinido e sua certificação como pilotos ainda é incerta devido à diminuição da demanda e da oferta de voos.

Ainda que seja um gesto nobre do sindicato, ainda é preciso ter em mente que a crise que o setor está passando não tem um precedente, o que leva a crer que ninguém sabe ao certo como será a retomada depois que medidas de controle e combate à pandemia forem estabelecidas no mundo inteiro.

Caso apareça uma vacina eficaz ou os países arrumem uma forma efetiva de controlar a pandemia entre suas fronteiras e a demanda volte de forma repentina, o setor pode carecer de profissionais qualificados, visto que muitos pilotos estão se aposentando precocemente. Para um piloto chegar até uma companhia aérea, precisa de treinamento árduo, muitas horas de estudo, diversas horas de voo e um investimento enorme.

Um paralelo com o Brasil

Aqui no Brasil a crise veio em um momento já delicado. Com a quebra da Avianca Brasil ainda recente, vários pilotos estavam buscando mercado no exterior, principalmente na Ásia, como China e Vietnã. Mas esses mercados se fecharam com a pandemia e, para piorar a situação, a Latam demitiu 700 pilotos de uma só vez, aumentando mais o já extenso excedente de recursos humanos do setor.

Os profissionais que ficaram também fizeram acordos com suas companhias de redução salarial e de jornada de trabalho e a retomada, a não ser que haja alguma surpresa, tende a ser lenta e alcançar os patamares de 2019 apenas em 2024.

O diretor de IATA no Brasil, Dany Oliveira, crê em uma retomada mais rápida impulsionada pela aviação doméstica, mas avisa: “A aviação que a gente tem hoje é 15% do que foi a de 2019. Então, tem um excesso de recursos humanos. Fazendo uma simples correlação, o mercado de trabalho deve retornar aos níveis de 2019 junto com o setor.”

Por outro lado, o Brasil tem uma vantagem sobre a Europa quanto ao mercado de voos domésticos, dado o tamanho do nosso país e a variedade de destinos que temos sem precisar cruzar fronteiras e enfrentar quarentenas e regras contra a pandemia. O mercado aéreo europeu é mais focado na aviação internacional, o que agrava mais a crise aérea na Europa.

Mesmo com a dualidade da eficácia do comunicado do BALPA para com o mercado de pilotos no Reino Unido, aparentemente a intenção foi de fazer aqueles que pretendem seguir a profissão a pensarem duas vezes nesse momento, evitando um investimento de cerca de 100 mil libras (cerca de 707 mil reais) que termine se deparando com um mercado fechado no futuro próximo.

Veja a seguir a íntegra do comunicado emitido pelo sindicato, no último dia 5 de novembro:

‘O sindicato dos pilotos, BALPA, emitiu um aviso a todos que estão pensando em embarcar em um curso de treinamento de pilotos: pense novamente. O BALPA deu esse passo extraordinário para ajudar a evitar que os alunos paguem mais de £100.000 para treinamento apenas para descobrir que não há empregos disponíveis no final.

Wendy Pursey, Chefe de Serviços de Membros e Carreiras do BALPA disse: “Existem atualmente 10.000 pilotos comerciais desempregados em toda a Europa, incluindo 1.600 pilotos no Reino Unido. Muitos pilotos estão trabalhando em tempo parcial ou com remuneração reduzida para salvar empregos. E já existem cerca de 200 formandos em escolas de formação de voo que estavam a caminho de empregos na easyJet e que agora não têm um caminho claro nem mesmo para uma licença, muito menos para um emprego.

Esta não é uma imagem positiva para quem está decidido a entrar nesta profissão. Haverá menos empregos, com mais pessoas competindo por cada um, mesmo quando a pandemia acabar.

Nesta situação, seria irresponsável se fizéssemos qualquer outra coisa senão alertar as pessoas para considerarem adiar seu treinamento de voo neste momento.

Nós encorajamos os pilotos em potencial a obterem experiência em outra profissão primeiro, o que irá adiar qualquer treinamento até que a indústria esteja em um mais forma robusta, fornece habilidades e experiência adicionais e também dá a eles outro caminho para recorrer.

Para quem ainda deseja prosseguir, deve considerar a rota de treinamento modular, que oferece a oportunidade de aprender e trabalhar em outras áreas”.’

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Claudio Brito
Claudio Brito
Apaixonado por aviação desde o berço como filho de comissário de bordo, realizou o sonho de criança se tornando comissário em 2011 e leva a experiência de quase 10 anos no mercado da aviação. Formado Trainer em Programação Neurolinguística, conseguiu unir suas duas paixões, comunicação e aviação.

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