Terrorismo, trabalho de graça, demissão: Piloto conta sua incrível história de superação

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Dificuldades se apresentaram na carreira do Comandante Faraz, que perdeu seu pai em um atentado terrorista, trabalhou de graça e foi demitido, mas nada disso o impediu de seguir seu sonho.

Tudo começou quando Faraz Sheikh, nascido em Londres, mas de família do Quênia, voou em um Boeing 747 da British Airways para visitar familiares e teve a oportunidade de conhecer a cabine. Foi a primeira vez que teve contato com um avião dessa maneira, mas ali já estava decidido: ele queria ser piloto.

Ao compartilhar seu sonho com o pai, ele recebeu uma dura resposta, que veio como um conselho: “Você não pode ser piloto, você é ruim na escola! Se você se tornar um piloto eu vou te cumprimentar pessoalmente um dia no seu voo”, afirmou o pai de Faraz.

Faraz entendeu aquilo como um desafio, mas ouviu o pai. Ele se esforçou na escola e tudo foi melhorando, com o menino melhorando suas notas e preparando-se para entrar no Ensino Médio. Então, vieram terroristas.

O seu pai mantinha um emprego estável na Embaixada Americana em Nairóbi, capital do Quênia, quando ela foi atacada por membros da jihad egípcia parceira da al-Qaeda, no que é considerado o primeiro ataque contra os EUA orquestrado por Osama Bin Laden. Uma outra cidade africana, Dar es Salaam, na Tanzânia, também teve a Embaixada Americana atacada. Ao todo 224 pessoas morreram, sendo a maioria em Nairóbi, incluindo o pai de Faraz.

“Infelizmente eu perdi meu pai nesse atentado e minha vida mudou completamente desde então”, afirma Faraz em entrevista ao site do renomado fotógrafo e jornalista de aviação Sam Chui.

Para tentar ajudar o pequeno jovem após perder seu pai, uma tia deu a ele de presente um pequeno pacote de horas de voo num Cessna 172, em uma escola do Quênia. Ali, Faraz foi novamente tocado pela aviação e reacendeu-lhe o sonho.

Faraz e seu pai – Arquivo Pessoal

Sem a presença do pai, sua família se mudou no ano seguinte para Londres, onde Faraz concluiu seu ensino médio e começou de vez o curso de piloto num aeroclube local. Nesse período, ele contou com a mentoria de um piloto de Boeing 747 da British Airways, que conheceu quando foi visitar o memorial construído para as vítimas dos atentados da embaixada.

Ele acabou sendo um amigo para Faraz, que ouviu os conselhos do experiente piloto de Jumbo: “Ele me ajudou a manter meu foco e meu sonho vivo e a almejar entrar para a academia de pilotos da British”.

Faraz chegou a se inscrever para a Academia de Cadetes da British Airways, porém o ano era 2001 e, novamente, os terroristas atrapalharam seus planos com um atentado. Logo após o 11 de setembro, a aviação entrou na sua pior crise, superada apenas pela atual do Coronavírus, e o programa de cadetes foi suspenso.

Boeing 747 da British foi a inspiração eterna para Faraz

Novamente, o jovem piloto se viu perdido, sem ter onde tentar um emprego na aviação, mas sua vontade foi maior e ele decidiu iniciar uma faculdade de Administração de Aviação Civil, enquanto trabalhava em outros ramos. Durante os 3 anos do curso, ele foi treinando no Flight Simulator e tendo contato com o maior número de pessoas da indústria.

Com a aviação se recuperando, começaram a reabrir os programas de cadetes em meados de 2004 e 2005, mas de maneira diferente: agora o aluno precisaria pagar todo o custo de formação, algo que se tornou padrão até hoje.

Foi aí que ele teve uma ideia para juntar os $100 mil dólares (na época) necessários para fazer o curso para tirar a licença de PLA – Piloto de Linha Aérea. Ele decidiu abrir sua carreira para investimentos, pedindo uma ajuda amiga, uma espécie de “empréstimo”.

Ele pediu a cem pessoas que cada uma investisse $1.000 dólares nele, e que ele pagaria de volta com juros. Para isso, escreveu uma carta falando de sua história, suas qualidades e perspectivas, e assim convenceu várias dezenas de pessoas e conseguiu o dinheiro.

Faraz conseguiu então uma vaga na academia de cadetes da ThomsomFly, hoje TUI Airlines, na Espanha, onde se graduou em 2008. Mas o destino nunca facilitaria a vida do jovem e a crise mundial de 2008 bateu forte na aviação de novo. Como resultado, a empresa não contratou nenhum dos cadetes.

Novamente sem emprego, Faraz correu atrás e começou a trabalhar com o que conseguia para se manter no mercado de trabalho e se sustentar. Por sorte, acabou meses depois sendo chamado pela companhia aérea BMI. O cargo era para copiloto de Airbus A320, o que seria ótimo se não fosse o fato da empresa cobrar dos pilotos as 150 horas de voo do chamado “treinamento em rota”.

Nesta fase final de formação, após o exame no simulador e em rota, o novo piloto é acompanhado de um instrutor, que acompanha o novo tripulante em voos reais, assim como também o piloto acompanha os voos reais. No caso, ele teria que pagar para trabalhar, algo que não é permitido no Brasil mas acaba sendo comum em alguns locais do globo. Faraz acabou rejeitando a proposta, por achar absurda.

Dias depois, porém, novamente o telefone tocou, era a BMI, oferecendo novamente o emprego, mas que agora ele não teria que pagar pelas 150 horas de voo, seria “apenas” pelo treinamento no simulador, mas também não receberia salário durante o treinamento em rota.

Faraz topou a ideia e obteve a carteira de Airbus A320, primeiro avião comercial de grande porte que ele poderia pilotar. Ele voou por meses na empresa e sentiu que, mesmo sem salário, o seu sonho estava sendo realizado e seu pai estaria orgulhoso dele.

Porém, a vitória não tinha chegado ainda: pouco tempo depois a BMI sentiu os efeitos da crise de 2008, e acabou sendo vendida para a Lufthansa, mantendo a marca, mas passando por reestruturação com cortes de voos saindo de Londres e Faraz foi demitido.

Ele sabia que não estava novamente na “estaca zero”, já que tinha uma carteira de A320 e algumas centenas de horas de experiência no Airbus. Então arrumou dois empregos fora da aviação e estudava quando podia.

A oportunidade de ouro finalmente veio com a EasyJet. Faraz estudou tanto que, após o voo no simulador, o avaliador disse: “Esta foi uma das melhores sessões de simulador que eu vi nas últimas semanas. Vá para casa e abra uma cerveja porque você garantiu o emprego! Eu sou o chefe aqui e decido quem vou contratar, parabéns jovem piloto e bem-vindo à EasyJet!”

Desde então, ele está na empresa e há três anos se tornou comandante. Apesar da crise do Coronavírus, Faraz segue firme na empresa. Hoje, ele mantém seu Instagram, onde fala do seu dia-a-dia, mostra bastidores e serve de inspiração para muitas pessoas.

Histórias assim servem de aprendizado para jovens pilotos, comissários e mecânicos que hoje tentam, de alguma maneira, estar na aviação durante sua pior crise, persistência é a palavra chave.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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