Tesouro arquitetônico, terminal abandonado do aeroporto de Recife pode ser demolido

Levantada em meados de 1957 pelo arquiteto Arthur Mesquita, uma construção histórica para a arquitetura e aviação brasileira, considerada uma grande obra do modernismo inovador, pode ter seu futuro condenado devido à uma decisão da iniciativa privada.

Imagem: Google Maps / Reprodução

O antigo terminal do aeroporto internacional Gilberto Freyre, em Recife (PE), administrado pela concessionária espanhola Aena desde 2019, mas abandonado desde a inauguração do novo terminal em 2005, deve ganhar um “novo uso” nos próximos meses, apontam informações do site JC Online.

Caso o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovar a demolição do antigo terminal, a ideia é que a construção de uma Estação de Transferência Intermodal, ou seja, um nome “gourmet” para um grande estacionamento voltado para carros e motos de funcionários, carros de serviços de aplicativo, vans e ônibus de turismo seja concretizada nos próximos meses. Ainda há a informação de que a proposta da Aena já ganhou sinal verde do arquiteto do instituto.

UFPE contra a decisão

Devido à importância da estrutura do antigo terminal do aeroporto junto à Praça Ministro Salgado Filho, patrimônio tombado localizado logo a frente que foi idealizado pelo renomado paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), ambos considerados projetos modernistas e inovadores, o Laboratório de Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), denunciou o caso ao Ministério Público Federal (MPF) no dia 13 de setembro.

No documento ajuizado, a entidade educacional, por meio da professora Ana Rita Sá Carneiro e dos pesquisadores Wilson de Barros e Jônatas Souza, afirma que “o projeto que está em aprovação é absurdo em termos de paisagem, vai ofender tremendamente o patrimônio e prejudicar a preservação (…) a importância do prédio foi desconsiderada“.

Além disso, é pontuado que no antigo terminal se encontram abandonados junto a estrutura, painéis em processo de tombamento pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) do renomado artista pernambucano Lula Cardoso Ayres (1910-1987), como as obras “Folclore” e “Ciclo Econômico”.

Nota da Aena Brasil

Em nota sobre os painéis, a Aena Brasil afirma que “as obras atuais concentram-se no atual terminal e em todo o sítio aeroportuário, visando preparar o aeroporto para o futuro, consolidando-o como um dos maiores do Brasil, e grande vetor de desenvolvimento da cidade e do estado. Para que isso possa ocorrer é importante dar qualidade a todos os espaços e conforto ao passageio”.

O equipamento está inserido na área urbana, e por isso a Aena já se comprometeu em restaurar conforme o projeto original de Burle Marx e adotar a Praça Salgado Filho, reformar jardins e calçadas à frente do aeroporto, e outros itens. Dentre eles, também a preservação dos painéis de Lula Cardoso Ayres que se encontram no antigo terminal, e que não podem ser removidos dali. O prédio do terminal é antigo, não é de preservação histórica, e sem uso desde 2004, tem sua estrutura extremamente comprometida. Não se adequa às necessidades de um equipamento moderno como o aeroporto do Recife precisa ser.

A Aena trabalhou num projeto de nova construção para a área, seguindo preceitos básicos indicados pelo IPHAN, e elaborou um plano em duas fases que está em análise pelo órgão. A primeira fase conta com um espaço intermodal, para integração de diferentes meios de transporte ao terminal, vagas adicionais para veículos de transporte, e inclui áreas de alimentação e de contemplação das obras de Lula Cardoso Ayres, que ali permanecerão protegidas e expostas ao público em geral. O volume do edifício visa justamente não ferir proporções que estejam em harmonia com a praça tombada. Numa segunda fase, haveria a adição de um pavimento para extensão da área de embarque de passageiros domésticos. Também nesta fase, consta do projeto apresentado ao IPHAN, para que se garanta mais uma vez que altura e volume sejam harmônicos com a praça tombada”.

Dessa maneira, fica claro que a Aena está tomando todos os cuidados para que seus projetos estejam absolutamente dentro dos preceitos dos órgãos de proteção dos bens tombados, os painéis (FUNDARPE), e da praça Salgado Filho (IPHAN).

Resposta da FUNDARPE

Também por meio de nota para o JC Online, a FUNDARPE afirma que “em virtude da situação de vulnerabilidade que se encontram os Murais de Lula Cardoso Ayres, e devido à urgência na realização dos serviços de conservação e proteção dos referidos bens, em junho de 2022, a Fundarpe aprovou o “Projeto de Proteção das obras de arte de autoria do artista Lula Cardoso Ayres”, elaborado pela empresa J.E. Tinoco Restauração ME, onde foi recomendado que os serviços devem ser executados e acompanhados por profissional com vasta experiência na área, este mesmo profissional deverá capacitar previamente a equipe que realizará as ações.“, e também que a empresa responsável pelo serviço de proteção das obras, iria dar início aos trabalhos no dia 3 de outubro, primeira segunda-feira do mês.

Leia também:

Arthur Gimenes Prado
Arthur Gimenes Prado
Estudante do Ensino Médio, foi repórter e comentarista na TV Cultura Paulista e Rádio Morada do Sol FM, em Araraquara/SP cobrindo o esporte local. Também conta com passagem como colunista no Portal do Andreoli e fez participações especiais na Record News, Rádio CBN, EPTV e RedeTV!ES. Atualmente também atua na área de assessoria parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP) como estagiário.

Veja outras histórias